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― Por que é tão difícil entender que... eu te amo, Mel Coldheart? ― Mate disse com um sussurro de voz, seus olhos brilhando.       

            Eu gemi.

*

            Acho que eu provavelmente não teria sobrevivido ao primeiro dia de aula naquela escola sem Carlos ao meu lado me dando informações internas, me apresentando a todos os alunos e me ajudando a acompanhar as matérias.

            Ele teoricamente estava no terceiro ano, mas, como me explicou, a escola tinha uma grade livre, e realmente não ligavam muito para quais matérias você cursava e em qual período, desde que cumprisse os pré-requisitos do MEC de pelo menos três níveis de ciências (biologia, química ou física), matemática (álgebra ou geometria), português, estudos sociais (história ou geografia) e educação física, e pelo menos um módulo de língua estrangeira. Então Carlos, que já tinha adiantado algumas matérias do nível três (terceiro ano) no primeiro trimestre, estava em muitas matérias de nível dois comigo.

            Havia apenas duas classes que não tomávamos juntos.

            ― O computador gerou seus horários automaticamente ― ele me explicou. ― Normalmente, nós podemos escolher quais matérias fazemos, mas como você chegou tão tarde no ano... acho que só pôde ficar nas classes que sobraram vaga.


            Uma das aulas que eu não tinha com ele era Português. Escrita de roteiro.

            Me sentei no canto da sala, esperando não ser notada, mas é claro que não funcionou.

            A professora, uma moça de provavelmente trinta e poucos anos, me avistou no mesmo momento em que pisou os pés dentro da sala, e sorriu para mim. Fez um lindo discurso de boas vindas e disse várias coisas inspiradoras sobre a matéria, coisas que realmente me fizeram ter vontade de largar tudo e virar roteirista de cinema. No resto da aula, passou uma atividade em que teríamos que bolar o roteiro para uma propaganda de pasta de dente. Quando eu terminei, ela fez questão de ler a minha tarefa, e me elogiou muito. Disse que eu tinha futuro.

            Saí daquela aula me sentindo a nova Sofia Coppola.

*

            O Instituto funcionava em horário de escola americana, com duas horas por aula e um intervalo maior para o almoço.

Na hora do almoço, Carlos estava me contando sobre alguma coisa engraçada que tinha acontecido em sua aula de Álgebra nível três quando percebeu que eu não estava prestando atenção.

            ― O que foi, gatinha? ― ele se interrompeu e perguntou, parecendo preocupado.

            Eu sacudi a cabeça, voltando à realidade.

            ― N-nada ― disse rápido, e até mesmo forcei um sorriso.

            A verdade é que minha cabeça tinha se deixado levar pelo luxuoso refeitório e pelos incríveis últimos dias. O refeitório se assemelhava muito ao magnífico salão comum de Hogwarts, exceto talvez pelo céu enfeitiçado, e em tudo me fazia sentir como se eu tivesse sido transportada para a Inglaterra vitoriana dos filmes. Juntando tudo isso ao meu sonhável romance com Alex alguns dias antes e aos elogios que a professora de Escrita de Roteiro havia feito ao meu trabalho, talvez você não possa culpar uma garota por estar com o ego mais inflado do planeta terra.

            Mas era claro que eu não podia admitir ou sequer mencionar qualquer coisa daquilo para Carlos.

            ― Você parece cansada ― ele disse levemente.

Como nos filmes [Completo]Onde histórias criam vida. Descubra agora