Há um passo das férias

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"{...} Não há sensação melhor do que olhar para trás e perceber que, tudo o que você fez, independente da consequência, foi com verdade. {...}"


- Jey Leonardo

Dez anos depois...

Luciana

Se tem algo que aprendi sobre a vida é que, por mais que você ache que tem o controle sob a situação, ela te mostra que o controle é todo e, absolutamente, dela. Isso! Assim mesmo. Sem mais nem menos.

A vida tem o costume de te mostrar que as coisas não são como você quer, mas como deve ser. Tentar controlar a situação é remar contra a maré. Se você quer fazer de um jeito, ela mostra a você que, do jeito dela é o certo.

Pensando bem e levando em conta toda essa analogia, talvez a vida seja uma garotinha mimada. Papo real!

Tenho certeza de que você deve estar pensando: "quem essa garota pensa que é para se achar a dona da verdade ou achar que conhece a vida como a palma da mão?". Mas aí é que está, eu não conheço. E nem você, que está lendo isso. E sei que ninguém, independentemente da idade, conhece. Porque a vida é assim mesmo, ninguém nunca saberá realmente como ela é. O pouco que ela nos permite ver é só a ponta do iceberg.

O que sabemos é que, planejá-la por completo é um tremendo erro. E quer saber? Isso é até bom! Ter o controle sobre tudo é exaustivo e muito monótono. Uma surpresa, de vez em sempre, cai bem!

Olhem o meu caso, por exemplo. Quando eu era mais nova, lá para os meus 14 anos... Planejei toda aminha vida. Você dúvida? Pois bem. Eu me formaria no ensino médio com 17, já que havia sido adiantada um ano na escola. Passaria no Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) - também conhecido como o terror da pressão psicológica que marca a transição da adolescência para a vida adulta -, direto para a UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), onde encontraria o amor da minha vida. Aquele que, além de namorado, também seria o meu melhor amigo. Após me formar na faculdade, com 21 ou 22 anos, eu seria pedida em casamento (uau!). E não seria um pedido simples, não... Seria um pedido épico, com direito a pombas voando, dança dos nossos amigos em comum e tudo o mais. O que foi?! Eu merecia. E, no máximo com 30 anos, teria a minha primeira filha.

Pelo menos essa era a minha expectativa de vida, né. Está pronto para a realidade?

Prazer, eu sou Luciana. Tenho 22 anos, me formei no ensino médio aos 17, depois de várias recuperações em exatas, vulgo física e química, para ser bem direta. Eu não passei na UFMG, pelo menos não na segunda etapa. Já fiz Enem mais de cinco vezes (neste quesito, devo dizer que fui bem guerreira). Não cursei nenhuma faculdade e, obviamente, não me formei em nenhuma (dãh?!). Não encontrei o amor da minha vida, apesar de estar namorando atualmente - ok, não me entenda mal, eu amo o Matheus, mas daí a ser o amor da minha vida? Não sei, não sinto que seja ele. Resumindo, é isso! Todos os planos foram por água abaixo.

Se isso me deixou mal?! No começo sim. Mas depois, a gente vai percebendo que os planos que a vida tem para nós são melhores que aqueles que julgávamos certos.

Não vou mentir e ser hipócrita, dei muitas voltas para chegar onde estou. Trilhei um longo caminho. Mas aprendi tanta coisa, que hoje consigo enxergar com clareza que foi o melhor para minha evolução.

Ok, vou voltar ao foco! Eu saí completamente do contexto da história...

Mas enfim, a vida é uma caixinha de surpresa, blah blah blah. Assim, puro clichê mesmo, mas real. Cada dia é uma nova surpresa. Nós é que decidimos como administrar essa surpresa para ela se tornar uma experiência boa ou ruim. Tudo depende do modo como você vê as coisas. 



O relógio redondo e antigo pregado na parede marca exatamente 11h39 da manhã.

Se a sala toda fizer silêncio, eu consigo escutar a minha própria barriga roncar (por esse motivo, dou graças à Deus pelo ar condicionado estar ligado contribuindo com o barulho e evitando o meu constrangimento).

É claro que um ovo frito no café da manhã não daria sustento à minha fome até 12h, no que eu estava pensando?! Eu precisaria de, no mínimo, uns dois para dar conta do recado. Caso consiga conversar com o meu chefe até este horário, é óbvio. Caso contrário, eu teria que aguentar mais um tempo com fome. 

Estou sentada de frente para o meu Mac e, chegando à cabeça um pouco para a esquerda, é possível ver Alexandre preso ao telefone em sua sala, sentado na alta cadeira preta de couro, com o cenho franzido.

Trabalhar em uma agência de publicidade em uma cidadezinha do interior de Minas Gerais, dá nisso: um chefe ocupado o tempo inteiro e você também!

Ah, sobre a cidadezinha... Eu duvido que você já tenha escutado falar nela, mas, já que estou me abrindo para você, ela se chama Pará de Minas e está localizada no interior de Minas.

Mês que vem faz um ano que fui contratada para trabalhar na agência e, vamos combinar que, à essa altura, já posso pedir férias. Todo mundo precisa de férias! Sinto que se eu não tiver pelo menos 15 dias de férias, vou acabar ficando louca. Mais louca do que eu já sou, no caso.

No meu serviço antigo, eu lidava com caixas, um estoque enorme de calçados e com o Marco, o carinha que cuidava de toda ordem da empresa e que, no final das contas, acabou se tornando um grande amigo, mas era só isso: caixas, estoque e Marco. Aqui na agência, tenho que lidar com arte, mas também com pessoas e, aqui entre nós, eu nunca soube lidar muito bem com pessoas.

Lembro-me que, na minha entrevista, Alexandre disse que eu não deveria me importar com o que as pessoas pensam ou falam de mim. 

"- Se você acha que alguma coisa é certa você deveria falar. - Ele me disse na época."

Então, cá estou eu... Esperando Alexandre sair de sua reunião enquanto estou roendo os dedos de ansiedade, (mania adquirida há anos atrás) em frente ao computador com os olhos grudados na sala dele. 

Por favor, se você está lendo isso, torça para que eu consiga as minhas tão sonhadas férias.

Bateu a curiosidade aí para saber para onde eu vou viajar nas férias, né?! Vou te dar uma dica, tem água salgada e areia.

Se você estiver pensando "Santorini", não se iluda, eu não vou. Queria? Obviamente. Afinal, quem não quer passar as férias na Grécia? Mas não vou. Ao menos não dessa vez.

Em meus planos, vou para Itaoca, uma praia no "interior" do estado Espírito Santo. Resumindo, estou saindo de um interior sem praia para um interior com praia.

Qual é, afinal de contas, eu sou mineira e não nego a raça! Não existe paraíso mais cativante para mineiro do que as praias do Espírito Santo.


Além de um VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora