Boas novas

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"{...} Eles falavam muito pouco do que sentiam um pelo outro: não havia necessidade de frases bonitas e pequenas atenções entre amigos tão experientes. {...}"

- Thomas Hardy, Far From the Madding Crowd

Luciana

Naquela noite, marquei de me encontrar com a minha amiga em um barzinho próximo à minha casa. Sendo bem sincera, sempre que posso, evito de frequentar lugares com muitas pessoas, mas Izzie ama, então o faço por ela. 

Ao marcarmos, prometi a mim mesma que não gastaria muito tempo me arrumando e que sairia de casa pouco antes do horário combinado. Afinal de contas, era um barzinho caseiro e não precisava de muito glamour, né?! 

Coloco o primeiro vestido que acho em meu guarda roupas, um soltinho de crepe verde musgo. Solto meus cabelos castanho acobreado e sorrio para o espelho com o rosto zero maquiagem, com exceção do hidratante labial.

Faltando dez minutos para encontrar com Izzie, saio de casa trancando tudo e caminhando em direção ao La Casa Bar.

Ao chegar ao barzinho, noto que Isabelle ainda não chegou, então caminho até uma mesinha ao canto e me sento pedindo ao garçom que me sirva uma água com limão. Tiro o celular do bolso e envio uma mensagem para ela, que não dá retorno pois acaba de entrar no bar.

- E aí, ele te liberou? – É a primeira coisa que Izzie pergunta quando se aproxima de mim.

Ela não consegue esconder o misto de empolgação e curiosidade.

 - Quem me dera. Ele disse que não podia me liberar porque em janeiro a agência fica lotada.

- Respondo passando uma mexa do meu revoltado cabelo para trás da orelha.

Isabelle Montaldi é a minha melhor amiga desde o ensino médio. Por ser mais velha, ela estudava em outra turma, mas isso não impediu nossa amizade. É estranho quando pensamos nisso, porque chegamos à conclusão de que nós, definitivamente, não deveríamos ser amigas. É como se estivéssemos lutando contra as forças do destino. 

Veja bem, Isabelle é linda! Tem 1,68 de altura, olhos e longos cabelos castanho ondulado. Sua pele morena deixa os homens babando e, fora isso, ela domina uma atitude que deixa as outras mulheres com inveja. Fala sério, quem é que não gostaria de ter a atitude e confiança que essa mulher tem?

Por outro lado, temos: eu.

Cabelos castanho acobreado, com um corpo que não dava inveja a absolutamente ninguém - mas que eu amo, se você quer saber. Qual é, eu não tinha o corpo estilo modelo, mas achava meu corpo bonitinho com meus 1,57 de altura, olhos castanhos e uma leve tendência para ser uma pessoa Antissocial. Sim, Antissocial com A maiúsculo. Não que eu não goste de fazer novos amigos. Mas não tenho muito jeito para isso. Além do mais, eu tenho os meus livros, eles matam a minha solidão. E tenho a Izzie, o Geovane, o Matheus, o Marco... Viu? Não é como se eu estivesse totalmente sozinha. 

É claro que a minha falta de jeito para interagir com as pessoas não impede Isabelle de me arrastar para barzinhos sempre que possível. Por isso, aqui estamos nós, no La Casa Bar. O nome é bem contraditório, eu sei, mas tem uma explicação por trás. O conceito é que eles queriam criar um barzinho na própria casa (no início, eles ainda moravam aqui), depois, como o bar deu certo e ficou conhecido na cidade, eles se mudaram para uma casa ao lado. A ideia, era que as pessoas se sentissem em casa, uma jogada que eu acho genial, se quer saber. Talvez por isso eu goste tanto daqui. E aqui estou, jogando conversa fora enquanto finjo a decepção do meu chefe não ter dado as férias em janeiro.

Nessa hora, o garçom se aproxima da nossa mesa com o meu pedido e uma comanda em uma bandeja. 

- Você poderia me trazer uma Brahma, por favor? - Isabelle se dirige a ele que sorri meio envergonhado enquanto anota o pedido da minha amiga e sai apressado.

- Você já se deu conta do efeito que causa nas pessoas? - Pergunto a ela provocando-a. A verdade é que ela sabe exatamente o efeito que causa, mas detesta que falem. 

- Luciana Martine, não mude de assunto. Você é definitivamente a pior mentirosa que já conheci na vida. – Diz rindo da minha cara.

É sério, de onde ela tira toda essa confiança? O bar está cheio e dá para notar os homens por perto encarando-a. E não só os homens, se você quer saber. Como eu disse, a atitude de Izzie deixa até as mulheres encantadas e algumas com inveja, não dá para negar.

- Não é possível, como você sabe quando estou mentindo? – É frustrante saber que eu nunca vou pegá-la em uma mentira.

E aqui temos uma história engraçada. Houve uma vez, no Dia da Mentira, que eu disse a ela que sua mãe havia me ligado e pedido que eu me afastasse dela, porque eu não era um bom exemplo de amiga. Ok, foi uma péssima mentira, mas o que podemos fazer? Eu realmente nunca fui boa em mentir. Moral da história, Izzie riu da minha cara, não acreditou e disse que era mais fácil ela ser uma péssima influência para mim do que ao contrário. O que não dá para discordar.

- Isso é porque eu conheço minha amiga muito bem. - Ela responde com aquele tom de sabe tudo.

- Mentira, porque eu também te conheço muito bem e nunca sei quando você quer me pregar uma peça. - Concluo frustrada rodando o canudo no copo.

- Puf, a diferença é que eu sou uma boa mentirosa. Mas, não vamos mudar de assunto. Foco nas férias.

A verdade é que nós já havíamos planejado essas férias há tempos. Seria a primeira vez que tiraríamos férias juntas e ficou decidido que íamos para a casa de praia dos meus avós. É claro que Geovane iria com a gente, afinal onde um estava o outro estava atrás. Exceto hoje que o magrelo não pôde vir por que tinha uma prova de faculdade para fazer.

- Ok. A viagem é real, meu chefe liberou e já avisei o Matheus que vamos. Ele ficou fulo porque disse que não poderia ir. - Comento com ela.

Matheus é meu namorado há cinco anos. O nosso relacionamento é um tanto quanto conturbado, mas já teve seus dias melhores. Acho que todo relacionamento é assim, né?

- Graças a Deus! - Isabelle expressa a sua repulsa a ele tomando mais um gole da sua cerveja e olhando ao redor.

- Qual é, Izzie, não precisa ser rude com ele. Desde que comecei a namorá-lo, ela não esconde o quanto o detesta.

De início parecia que era ciúmes de amiga - o que não faz muito a cara dela - e que logo passaria, mas já faz cinco anos.

- Rude ELE é com você, Luciana. Eu sou até um amor com ele.

A verdade é que não dá para culpá-la. Matheus não é uma pessoa fácil. Mas não facilita quando sua melhor amiga não gosta do seu namorado e vice versa.

- Ok, desculpa. Você sabe o que eu penso e acho que merece um homem que te trate bem de verdade, na frente das pessoas e longe delas, pode até tentar esconder, mas sei que ele te trata mal nos dois momentos.

- Ela diz cruzando as pernas e apoiando seu cotovelo na mesa.

- Não é isso, ele é sim de vez em quando, mas quem não tem seus momentos? - Respondo tentando convencer mais a mim do que a minha amiga.

- Beleza, não vamos entrar no assunto Matheus. Vamos voltar o nosso foco para as tão sonhadas férias.

Enquanto conversávamos as pessoas iam chegando e se encontrando com amigos e parentes. O bar estava tocando um som baixo e, além dele, era possível escutar o zumbido das conversas das pessoas, cada uma com as suas vidas e histórias. E foi nessa vibe que planejamos todos os nossos preciosos quinze dias de férias.

Quanto à liberação da casa, eu já havia pedido a meus avós alguns dias atrás e eles liberaram. Faltava decidir quem iria dirigir daqui até lá - e este era realmente o nosso principal problema, já que nenhum de nós três dirigimos tanto assim -, comprar os mantimentos que pudessem ser comprados aqui - já que as coisas lá eram mais caras - e avisar ao Matheus de que a viagem era real, já que ele agiu como se eu tivesse ficado louca.

Além de um VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora