Alguns amores não duram para sempre

16 2 0
                                    




"{...} Hoje eu invejo

a parte de mim que não te conheceu,

a metade de mim que podia dormir de noite

sem pensar no que aconteceu. {...}"

- Os peculiares desejos de um coração quebrado.


Luciana

A noite foi meio estranha, não vou negar. Estava tudo indo tão bem até Matheus dizer que estava passando mal e queria vir embora.

- Tem certeza de que você está bem para dirigir? Se quiser, posso chamar um dos meninos para dirigir para gente, tenho certeza de que eles vão entender. - lembro-me de ter comentado.

- Não! - ele apressou a responder. Ok, acho que ele realmente estava passando mal. - Eu consigo levar a gente até em casa, além do mais, eles estão curtindo a noite, por que atrapalhar isso? 

E, decididos, entramos no carro em direção à casa.

A lua brilhava no céu com uma tonalidade meio laranjada. Não vou negar, estou um pouco chateada.

Esse era o meu primeiro luau e queria ter ficado lá mais um pouco. Observar a lua emergir, as estrelas cintilando no céu, enquanto alguém tocava violão, sentir a areia no pé, o barulho das ondas e a maresia. Eu teria adorado essa vibe.

Mas, desde que me entendo por gente, aprendi que um relacionamento é saber respeitar e abrir mão de algumas coisas. Neste caso, se referia a acompanhar o meu namorado em casa quando ele não estava se sentindo bem o suficiente para curtir uma festa.

- Ah, quase me esqueço de te contar. - Matheus chama minha atenção e me viro para olhá-lo falar.

No rádio do carro, Ed Sheeran canta Kiss Me e não consigo deixar de esquecer da noite retrasada, quando Felipe cantou para mim como não fazia há muito tempo. 

- O que? - pergunto tentando esconder parte dos meus sentimentos. Ou, melhor dizendo, tentando entendê-los.

- Aquele seu amigo, como ele chama? - ele pergunta desviando os olhos da estrada por um segundo.

- Felipe? 

- Isso! - e volta sua atenção para a estrada. - Ele se deu bem essa noite. - escutar isso me causa um incômodo inesperado. 

- Como assim? - por favor, por favor, não diga o que eu estou pensando.

- Bom, pouco antes de sairmos, vi ele beijando uma mulher loira no bar. - sim ele disse isso e, não vou negar, uma mistura de raiva e decepção com Felipe me corrói por dentro.

O que leva uma pessoa a retornar, depois de anos te evitando, para sua vida e fazer isso? Quero dizer, por que ele fez isso? Qual o sentido? Por que o meu Felipe?

- Bom, fico feliz por ele. - respondo sem um pingo de emoção na voz e volto minha atenção para a estrada.

Nem em um milhão de anos, por mil decepções vividas, eu faria com você o que você está fazendo comigo, Felipe. E então, sem querer, uma lágrima escorre por meu rosto. 

Ao chegar em casa, estou tão cansada e triste que tomo um banho morno, coloco meu pijama, escovo meus dentes, bebo um copo de água e me deito.

Acho melhor encerrar o dia de hoje antes que mais alguma coisa o estrague.


Acordo no outro dia antes do sol nascer e resolvo dar uma volta pela praia. Automaticamente, meus pés me levam ao mesmo lugar em que assisti o nascer do sol com Felipe e, ao chegar lá, me deixo cair na areia abraçando minhas pernas e chorando.

Por que eu sempre deixo as pessoas fazerem isso comigo? Sim, eu deixo. Porque eu o permiti voltar, eu o deixei entrar, e para quê?

- Lua? - a voz dele chega até mim me causando arrepios na espinha.

Assustada, limpo minhas lágrimas no braço antes de levantar e começar a andar de volta para casa, ignorando-o.

- Lua? Espera. - escuto ele gritar atrás de mim, mas continuo ignorando-o. Até senti-lo me puxar pelo braço.

- Me solta! - falo firme sem olhá-lo nos olhos. 

- O que foi? O que aconteceu? - ele pergunta. Cínico!!!

- QUAL É O SEU PROBLEMA, FELIPE? VEIO VER O ESTRAGO QUE VOCÊ FEZ??? - solto cheio de fúria e um pouco mais alto do que eu pretendia.

- Que eu fiz?! - ele pergunta se fazendo de desentendido.

- Chega, Felipe! Por favor, eu estou cansada. Não sei o que você esperava ganhar com isso, mas se sua intenção era partir meu coração mais uma vez, parabéns! - começo a soltar tudo com um misto de raiva e ironia. Se era assim que ele queria lidar, ótimo!

Ele abre a boca para falar, mas eu o interrompo.

- Não, quer saber? Eu esperava isso de qualquer pessoa, Fê, mas de você... Você me partiu, de novo. Mas essa é a última vez que te deixo entrar para fazer o que quiser de mim. Eu me abri e permiti que todo aquele amor voltasse a queimar de novo aqui dentro, mas você... Você só queria saber que me tinha nas mãos, não é? 

- Lu... - ele começa me olhando nos olhos, a essa altura as lágrimas rolam sem controle algum.

- Por favor Felipe! Não faz isso comigo. Você vem, faz promessas de amor e depois fica com outras... Eu não aguento isso. Você não percebe que isso está me matando aos poucos? - imploro a ele.

- Ficar com outras? Do que você está falando? - ele pergunta segurando meu pulso.

- Não precisa esconder mais. Eu sei de tudo, já! - comento sem forças para seguir essa discussão. - Por favor, me solta. - peço olhando para meu pulso.

- Lua... - ele começa.

- Por favor, Felipe. - peço voltando meu olhar para o seu. - Já chega. - e então ele me solta e ergue as mãos em rendição.

- Tem certeza de que é isso que você quer? - ele me pergunta.

O quê? Agora ele vai jogar para cima de mim? O que ele quer? Que eu passe a vida toda rastejando aos seus pés? Para na primeira oportunidade que ele tiver, ficar com outras e me tirar da sua vida novamente?

- Nunca estive tão certa de algo! - anuncio e aquilo me dói fisicamente. Porque tudo o que eu mais queria neste exato momento era a imagem do Felipe que eu criei.

- Ele não é o cara certo para você, Lu. 

- E quem seria, Felipe? Você?! - pergunto incrédula. É sério???

- Eu espero que você esteja certa da decisão que você está tomando. - ele dá um passo para trás e então eu solto mais duas palavras que me rasgam o peito.

- Eu estou. - e, decidida, me viro e volto para casa.

Ao chegar a uma distância segura e longe das vistas dele, me encosto na parede de uma casa verde com portão de madeira branco e desabo no chão.

Me despedi do amor da minha vida mais uma vez. Até quando vou me afastar de pessoas que eu amo, Deus?! Como isso pode ser o certo para mim?

Além de um VerãoOnde histórias criam vida. Descubra agora