Carta de adeus

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"{...} E assim como nosso amor, as folhas secas flutuavam sem rumo pelo céu cinza enquanto aos poucos se desfaziam no horizonte. Enxuguei as lágrimas ao observá-la partir. {...}"

- Thales Vidal


Luciana

O caminho até a casa ao lado, parece uma eternidade.

Graças à Deus, quando eu saio na garagem, vejo Geovane e Jonatan trancando o portão. O que indica que Matheus já havia ido. Passo por eles correndo e chego na casa ao lado.

O portão está trancado, mas vejo uma mulher lá dentro. Ela parece estar limpando a casa.

- Moça? - chamo-a. Ela demora um pouco, mas ao me escutar, se vira em direção ao portão e deixa a vassoura de lado.

- Sim?

- O Felipe está? - meu coração parece que vai sair pela boca.

Ela me olha com uma cara de piedade antes de sumir de vista. Será que tive um delírio? Mas antes que possa chamá-la novamente ela volta com um envelope em mãos.

- Luciana? - pergunta e apenas aceno em resposta. - O senhor Felipe foi embora. Ele me ligou pouco antes de sair pedindo que viesse para limpar a casa e me deixou a instrução de te entregar esse envelope quando eu saísse. - solto um sopro de ar antes de pegar o envelope em suas mãos. Minha cara deve estar terrível porque ela me olha com preocupação antes de dizer. - Eu sinto muito. - me esforço para sorrir para ela.

- Obrigada. - e saio de frente do portão me deixando cair no meio fio. 

Um misto de medo e dor percorrem meu corpo. Com os dedos trêmulos abro o envelope e tiro de dentro dele uma folha de papel com a letra dele escrita em caneta azul. No fundo do envelope, uma bala de coração, da marca Florestal, a mesma bala que costumávamos comprar quando éramos criança.

Então, uma pequena imagem dele pequeno, guardando moedas para comprar essa bala para nós me invade a mente.

"Minha doce Lua...

Eu queria poder voltar ao tempo e concertar tudo o que fizemos para não acabar como acabamos hoje.

Escrever essas palavras me partem, porque eu não queria estar escrevendo nada para você... Eu queria estar te tomando em meus braços agora.

Lembra quando eu te disse que eu até conseguia me imaginar morando na praia? Com o cheiro de maresia...? Não era pela praia... Era por você. O mar sempre me lembrou você.

Vocês têm tanto em comum... Ambos são profundos e intensos.

Eu sei que às vezes você se perde e não consegue se enxergar como a mulher maravilhosa que você é. Mas Luciana... Eu fico chocado como você se tornou a mulher que eu sabia que se tornaria desde que nos conhecemos.

Ontem, eu fiquei te observando dançar, você emanava felicidade... Se eu pudesse te comparar a alguma coisa, eu diria que você é o encontro exato da luz do luar nas ondas do mar.

Hoje, mais cedo... Eu queria te obrigar a ficar, a me escutar, mas eu não achei justo fazer isso... Porque na primeira vez, fui eu quem te afastou.

Mas, se existe algo que eu possa te dizer é que, quando eu tomei ciência do mau que eu te fiz aquela primeira vez, eu prometi para mim mesmo que eu nunca mais te magoaria daquela forma.

Eu não seria tão idiota assim ao ponto de colocar tudo a perder com você... Você é o tipo de pessoa que qualquer um lutaria para ter por perto, Luciana Martine.

Qualquer um que tivesse neurônios o suficiente para perceber isso, pelo menos. Beleza, me desculpe... Eu não queria estar aqui julgando ele...

Eu decidi escrever essa carta porque eu te conheço.

Sei que você se irrita como o mar em tempestade e que, quando isso acontece, o barulho das ondas quebrando na areia, te impedem de escutar...

Você merece ser feliz, Lua... Todos os dias da sua vida.

E eu não quero dizer que para isso, você tem que ficar comigo. Você merece ser feliz na sua própria companhia.

Dançar sozinha, sorrir sozinha. Ser livre. Você nasceu para ser livre. Seja na vida, na profissão ou no amor.

E você, você tem um coração tão grande e bondoso... Tem tanto amor guardado aí... Não o deixe apagar o seu brilho. A mulher que eu amo, aquela menininha que cantava Xuxa com toda força do pulmão... Não deixe aquela garotinha se desprender de você.

Eu decidi ir embora porque respeito a sua decisão e, por respeitar, sei que se eu ficasse, não conseguiria ficar muito tempo longe de você.

Eu entendo a sua escolha e te respeito. É por isso que tomei a decisão de seguir.

Eu admito, estaria sendo hipócrita se dissesse que não me dói em nada o fato de te perder de novo. Alguma coisa aqui dentro arde e queima, e não é de um jeito bom. Mas não tem mais nada o que eu possa fazer.

Eu te amo, Luciana Martine.

Como eu nunca amei e nunca vou amar outra mulher. Obrigado por me fazer sentir o amor.

Tem tanta gente que vive anos e não sabe o que é... Enfim, me faça uma última promessa? Seja imensamente feliz!

Felipe Baker.

Ps: uma última "balinha de coração" mesmo que dessa vez você não tenha me pedido."

Seguro a bala firme na mão, a essa altura, as lágrimas rolam com força em meu rosto. Levo a carta até o peito enquanto me curvo para frente.


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