Capitulo 12: Um abismo atrai outro abismo

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-E então, o que houve? -Antartic perguntou.

-Teremos que nos mudar, de novo.

-Ah, que pena. Realmente, a casa de vocês já estava bastante velha. Acho que ela deve ter uns cem anos.

Arregalei os olhos.

-Cem anos? Eu não sabia que ela era tão antiga assim.

-Sim. Vocês já sabem de algum outro lugar? -Passamos pela porta do café, rua afora.

-Sim, bem ao lado da casa de Yolanda. -Falei sorridente.

-Sinto pena sua. Agora vai ter que ve-la todos os dias e falar com aquela menina esquisita.

Meu rosto esquentou. Como ela podia falar essas coisas da minha amiga? Puxei toda a coragem que eu tinha (mesmo que estivesse brava, ela não era muita) e decidi fazer diferente da outra vez:

-Por que "sinto sua pena"? Yolanda é uma ótima amiga! Ela fala bastante, mas me parece muito mais legal do que você!

Antartic arregalou os olhos e fitou o chão.

De onde eu tirei isso? Nunca havia falado assim com ninguém.

Nenhuma de nós falou alguma coisa. Aquele silêncio estava me deixando tão desconfortável e a sensação de remorso por ter falado aquelas coisas, principalmente naquele tom (o qual eu não era acostumada) me fez tomar apenas uma atitude: correr de volta para casa.

Eu corri, mas corri tão depressa, que pensei que meu coração estava prestes a saltar de meu peito a qualquer momento.

Quando finalmente cheguei ao meu "destino"e apoiei-me sobre os joelhos, na tentativa de recuperar o ar que havia perdido no caminho, ouço uma voz conhecida:

-Você está bem?

Virei-me e reconheci os olhos cor da noite mais belos da Terra. Era Marcos.

Me senti um pouco desconfortável em contar a ele, mas ainda sim, prossegui.

-Quer que eu fale a verdade ou...

-A verdade. -Ele riu.

-Estou me sentindo o pior ser já existente na Terra neste momento. -Meu eu dramático resolveu se manifestar.

O loiro arregalou os olhos, como se não estivesse esperando que eu falasse aquilo.

-O diabo já existe, então deixe que ele ocupe esse lugar.

Não esperava que ele fosse falar aquilo.

Outra vez, fico em silêncio sem saber o que dizer, até que Marcos volta a falar.

-É por causa de Yolanda e Antartic, não é? -Ele sobe em uma cerca alta, e senta-se na última tábua.

-Como você sabe? -Aproximo-me, curiosa.

-Da forma que você saiu, parecia que estava até morrendo, mas por dentro.

Dou alguns suspiros internos. Pelo visto ele era não só bonito, mas também observador.

-Bom... -firmei meu pé direito na primeira tábua branca e o esquerdo, em outra mais acima. Marcos estendeu sua mão, me puxou e sentei-me ao seu lado. -Eu me senti muito mal por não ter defendido-os após Antartic dizer algumas coisas ruins sobre vocês. Sem dizer que também substituí Yolanda por ela.

Ele mordeu o lábio inferior e olhou para a grama abaixo dos pés.

-Ela falou coisas ruins sobre nós?

Assenti com a cabeça, me sentindo uma fofoqueira. Pelo visto, hoje era "o dia" de eu cometer falhas.

Ele permaneceu em silêncio.

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