Capítulo 17: O meu, o seu e o nosso aniversário

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Megan Lambrech

Os dias que antecederam o meu, quer dizer, o nosso aniversário foram muito desagradáveis. Mamãe estava obcecada pela decoração do baile de debutantes (que eu nem sequer pedi), papai não fez muita coisa além de fumar seu cachimbo fedorento, um claro sinal de que ele estava preocupado com os gastos que aquela festa traria para a nossa família e Bryan continuou sendo o mesmo idiota de sempre: zombando do resto do mundo e perseguindo Beatriz na escola ou aonde quer que ela fosse.

-Esse ficou perfeito em você, querida!-mamãe me posicionou na frente do espelho. -Te deixou mais velha.

Olhei de cima a baixo aquela coisa horrorosa que estava em meu corpo. Um vestido amarelo banana, cheio de frufrus e florzinhas.

-Mãe, você sabe que eu não gosto de roupas muito coloridas. E ainda por cima, com esse corcete esmagando meu estômago.

-As cores apenas aumentam e demonstram a sua feminilidade, meu bem. Quanto ao corcete, com o tempo você irá se acostumando e quando ver, nem sentirá mais dor.

-Quanto tempo exatamente?

Ela ri.

-Que tal começarmos com hoje? Quanto mais cedo você se tornar uma dama, melhor.

Não acredito.

Reviro os olhos e analiso novamente o vestido.

Por mais que eu deteste chamar atenção e prefira ficar em casa do que ir a um baile cheio de pessoas que se dizem "amigos" da família, mas que na verdade só estão ali pelo seu dinheiro, eu sabia que minha mãe estava muito animada com a ideia de eu ter a festa que ela não teve na minha idade.

-Está bem, mãe. Eu uso este.

-Isso!-mamãe sorri-Agora, troque de roupa e desça para provar mais alguns doces.

Assinto com a cabeça.

Uma de nossas empregadas pega aquele monte de trajes de festa nos braços e segue minha mãe.

Minha única motivação para participar de um baile de debutantes, além de mamãe, era a comida. Pelo menos isso, eu sei que terá bastante. E como toda a cidade será convidada para que nossa família continue se mostrando acima da classe média, talvez eu dance com alguém bonito, ou melhor dizendo, com Marcos.

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Foi extremamente vergonhoso ir de corcete para a escola. Eu disse a ela que ninguém da minha idade usa aquilo ainda e o que ela falou foi: "Você é alguém, querida. É isso que te torna diferente e melhor do que as outras.". A maioria das pessoas deseja nascer em uma família rica, de posses mas o que eles não sabem, é que a obrigação de sempre ter que parecer que é perfeito é sufocante. Extrai toda a chance de ser humano, e com humano, me refiro a possibilidade de errar como qualquer outra pessoa.

Meu aniversário finalmente chegou.

-É só mais dois dias, só mais dois dias.-falei para mim mesma, olhando para aquele troço ao redor de minha cintura.

Pus meu vestido predileto: um roxo bem escuro e sem nenhuma estampa. Com um laço da mesma cor, prendi meus cabelos castanhos em um coque, deixando alguns fios caírem nas laterais do rosto.

Calço os coturnos que mamãe sempre manda lustrar e me sinto feliz com o que vejo no espelho.

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-Vamos, Bryan! Não quero me atrasar por sua causa!-berrei, descendo a escada rapidamente.

-Megan! Quantas vezes eu já le disse para não descer as escadas assim? Você já é uma mocinha então trate de agir como uma.

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