-Então foi ele quem causou tudo isso?!-com certeza a voz de minha mãe podia ser escutada pelos quatro cantos da Terra.
-Fala baixo mãe, por favor.-peço a ela.
Ela respira fundo, agarrando firme na travessa da janela de madeira bem ao lado da cama para pacientes.
Agora eu já não sei quem está internamente pior: eu ou ela.
Com a voz embargada e ainda sem olhar para mim, minha mãe fala:
-Meu bem, você poderia sair só por um instante?
-Claro.-com a mão direita, empurro a cortininha azulada, indo para junto de meus amigos e deixando-a sozinha.
Tento parecer o mais alegre possivel e ignorar Bryan, ao dizer que logo, logo ela viria conversar com o sr. Théo.
-Até que sua mãe e a minha se parecem muito. Me refiro a maneira de falar.-Yolanda comenta- A única diferença, é que a minha faz isso a cada movimento em falso que nós damos.
-Também, olha só para você!-Marcos ri e logo leva um tapa no ombro de minha amiga.
-Au! -ele faz uma careta, massageando o local.
-Se só um tapinha dói, imagina como deve ser apanhar de você, então. -comento num tom debochado.
A risada de todos nós exala sarcasmo e um tantinho de maldade.
-Você e o Jacob dariam o casal perfeito da paulada!-o loiro fala, erguendo manga da camisa até o cotovelo.
Jacob faz cara de desentendido enquanto Yolanda demonstra pelas expressões e pelo rosto vermelho querer esganá-lo e ao mesmo tempo, sumir dali.
Fito o antebraço desnudo de Marcos e noto um hematoma bem feio.
Fico me perguntando o que teria ocasionado aquele roxão nele, mas o barulho de vidro se espatifando no chão, faz todos nós levantarmos e irmos até minha mãe.
Sr. Théo abre a cortininha e com olhos arregalados, ele questiona:
-A sra. está bem, doutora?
-Ah, sim. Estou bem. Eu só bati com o braço num vaso de flor, só isso. -ela diz, meio desnorteada, pegando a escova e começando a limpar aqueles milhares de caquinhos cristalinos esparramados pelo assoalho gasto.
-Eu a ajudo! -sr. Théo toma numa das mãos a pazinha e agacha-se, antes mesmo que minha mãe pudesse dizer alguma coisa.
-E eu irei pegar o lixo. -digo, indo na direção do objeto e levando-o até eles.
Mamãe despeja o conteúdo e finalmente olha para mim. Não com um olhar comum. De alguma forma, ele me passa angústia e seu tom avermelhado, me dá a ideia de que possivelmente ela havia chorado.
A dor se instala em meu peito, fazendo-me refletir sobre como era horrível vê-la neste estado. Por mais que essa não seja a primeira vez que isso acontece, ainda não estou acostumada. E acho que nunca irei me acostumar.
Adoraria que houvesse algum livro sobre o que fazer quando alguém que você ama parece estar sofrendo interiormente mesmo sem você saber o motivo.
Minha curiosidade e preocupação quase me fazem perguntar o porquê de sua tristeza, porém antes que eu pudesse pronunciar uma única sílaba, ela sorri e nos agradece por ajudá-la.
-E então, o que vão fazer com ele?-Yolanda me lembra de que meus amigos e Bryan ainda estavam ali de plateia.
-Eu irei conversar com os pais de Bryan sobre o que vinha acontecendo e o triste fato que ocorreu hoje.-o professor responde e minha mãe o encara.
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A Cidade dos Campos Floridos
Teen FictionBeatriz e sua mãe Rosemery se mudam para Flowerville para finalmente realizarem o sonho de seu pai. Além de novas amizades, aventuras e paixões, as duas encontram um lugar para enfim chamar de lar. "Descobri que uma família não possui apenas pessoas...