Capítulo 19: Amendoins

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-Deixem-me passar! -exclamei e ambos abriram espaço.

Assim que pisei na sala, pude entender o porquê de Marcos e Yolanda rirem tanto. Sra. Lambrech estava encolhida em cima de uma das cadeiras do salão, como se o assento pudesse ser sua única salvação. O resto dos convidados presentes ali, haviam se amontoado pelos quatro cantos do ambiente, parecendo que no centro tinha um dragão ou algo do tipo.

Estava prestes a rir de suas caras de espanto, quando me deparei com a criatura mais peçonhenta e horrenda que meus olhos já haviam visto em todos os meus quatorze anos incompletos: uma aranha do tamanho de um palmo, peluda como um cachorro e negra igual a um corvo.

Depois de pensar por alguns segundos o porquê de Yolanda dar o nome de uma princesa a um animal medonho como aquele, deduzi que provavelmente em sua cabeça Cinderela devia ser como um indivíduo horripilante de mesmo nível que o Frankenstein.

Me aproximei de forma cautelosa, mas talvez não cautelosa o suficiente para que a aranha não notasse meus movimentos. O bicho estaquiou-se assim que dei mais um passo em sua direção.

-Esse...monstro, é seu?! -sra. Lambrech perguntou, tentando coçar-se e ao mesmo tempo se equilibrar em cima da cadeira.

-Não, sra.

-Oh, então de quem é?!

Olhei de escateio para minha amiga, que se encontrava na entrada da porta que dava para o quintal.

-É...minha, drago... quer dizer, sra. Lambrech. -Yolanda finalmente pronunciou-se, ficando ao meu lado.

Consegui escutar a risada abafada de Marcos ao longe.

-Mas isto não é nada além de um enorme disparate! -ela gritou, quase caindo mas recuperou o equilíbrio ao se apoiar no ombro de seu marido.

Sr. Lambrech parecia ser o mais calmo dali. A indiferença estampada em seu rosto era de certa forma engraçada e ao mesmo tempo assutadora, a fim de fazer qualquer um segurar a risada.

-Você é uma vergonha para a sociedade! Quem traz uma aranha para uma festa?! Ah, eu mereço.

-Sra. posso assegurar-lhe que nossa intenção ao trazer Cinderela para cá não foi de ferir alguém.

-O que quis dizer com nossa intenção?

-Err... -a garota murmurou, parecendo não querer entregar seus aliados.

-Ela quis dizer eu! -Marcos exclmaou, dando um passo a frente.

-E eu também! -Jacob fez o mesmo.

Eu já não sabia quem estava mais vermelho: eu, Yolanda ou Jacob. Marcos não demonstrou nenhum temor, parecendo não ter nada a perder.

Sra. Lambrech respirou fundo como se ela fosse um vulcão se segurando para não entrar em erupção.

-E você?! Por que está aí no meio?-ela apontou em minha direção.

Fitei o enorme lustre de cristal, procurando uma resposta para sua pergunta.

-Ela é a razão de termos feito isso. -o loiro disse.

-Isso mesmo. -o outro garoto confirmou.

Por mais que tenha ficado indignada com os três, senti profunda gratidão pelos amigos que Deus havia me dado. 

Olhei para Marcos, admirando a seriedade estampada em seu rosto. Pretendia fazer o mesmo com Jacob, porém tudo que consegui foi arregalar os olhos ao notar várias manchinhas avermelhadas em sua pele.

-Jacob, seu rosto...

-O que foi? -ele se virou para mim.

-Ele está cheio de manchinhas.

A Cidade dos Campos FloridosOnde histórias criam vida. Descubra agora