Capítulo 31 - Então... é isso?

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Então... é isso?


Marcela

De acordo com o Waze, Eduardo estava pouco menos de vinte minutos da minha casa — eu duvidava um pouco daquela previsão, porque o trânsito da Avenida Tietê estava infernalmente parado e eu tinha certeza de que havia uma capivara no meio da rua, mas eu não iria contar isso pro Edu, senão ele iria querer parar para tirar uma foto.

Eu admito que dormi mais da metade do trajeto de Santos até São Paulo, porque ontem de noite Romeu me ligou para fechar o jantar do casamento e ficamos mais de uma hora discutindo, porque Túlio queria purê de mandioquinha e o Rommi queria purê de amêndoas para acompanhar o salmão.

No final, eles toparam trocar o prato inteiro, pois não havia nenhum prato vegetariano ali — e já que eles queriam tanto que o Eduardo fosse, pelo menos tinham que colocar algo que ele pudesse comer no menu. Nisso, entrou um risoto al funghi que até mesmo eu adoraria comer.

O arquiteto pediu um último vinho tinto para que a gente brindasse o que já sabíamos. Havíamos enganado todo mundo. Ninguém desconfiou de que nós não estávamos namorando de verdade e eu estava livre por mais um tempo.

Ele não quis me contar sobre a sua conversa com meu avô, mas eu tinha certeza de que vovô Nicolau contou a história de ser joalheiro, porque ele adorava relembrar isso para todos que conhecia — e, lá no fundo do meu coração, eu sabia que ele havia falado sobre o Marcelo o quebrar ao meio se ele me machucasse. O que, em partes, era verdade, só que não era algo que Eduardo realmente deveria temer.

Depois, quando a garrafa de vinho havia secado e ele não fez careta nos seus últimos goles, algumas ideias surgiram em nossa mente, quase em sintonia. A princípio era tudo brincadeira, mas não era não. Tanto é que nós aproveitamos o cruzeiro mais vazio e fizemos algumas visitas em vários lugares — e eu poderia riscar elevador da minha lista definitivamente.

De manhã, ele já estava melhor e havia comido mais naquele café da manhã do que havia comido antes nas outras refeições, o que era algo bom, mas eu me preocupei mesmo assim, porque ele poderia passar mal por comer demais.

Então nós atracamos em Santos às onze da manhã e só conseguimos sair do navio ao meio-dia, porque entramos em um embate sobre a conta das bebidas que com certeza era minha, mas Eduardo se recusou a me deixar pagar — acho que aquela foi a primeira vez que eu vi o seu rosto corar de irritação, então eu deixei que ele passasse o seu cartão para finalizarmos o nosso check-out.

Eu apaguei assim que entramos no carro, mas em minha defesa, a culpa era toda do Eduardo que enfiou uma música de blues que dava mais sono do que o balanço do cruzeiro.

— Já recebi o convite para a reunião de amanhã, acredita? — eu comentei, apertando a opção que eu compareceria no compromisso com Fernando Nogueira enquanto eu tentava disfarçar meu bocejo.

Droga, eu tinha que rever tudo o que havia feito, pois eu não lembrava de nada-nada da Casa Amarela.

— Não recebi ainda — ele comentou olhando para o seu celular e notando que, realmente, ele não havia recebido aquela notificação.

— Puts, Edu, provavelmente a Gisele vai estar aos prantos amanhã com a sua carta de demissão — eu brinquei e ele revirou os olhos mesmo que um sorriso de canto brincasse em seus lábios — pode virar aqui à direita, vamos cortar no mínimo dez minutos de trânsito.

Eduardo assobiou uma música que eu não reconheci e eu apoiei minha cabeça na porta do carro, sentindo meu celular vibrar enlouquecido com mensagens de Cele e mamãe querendo saber se eu já estava em casa e a salvo. Mesmo morando dez anos fora de casa, eu continuava sendo a caçula — só que desta vez eu apenas respondi cada uma delas com um pouco mais de carinho do que eu respondia antes.

Cuidado, é mentira!Onde histórias criam vida. Descubra agora