Capítulo 54 - Está tudo bem?

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Está tudo bem?

Eduardo

Certo. Eu claramente não era conhecido por ser uma pessoa insensível nem nada assim, bem pelo contrário, mas não precisava ter mais do que dois neurônios ativos para saber que tinha alguma coisa definitivamente errada.

Para começar, Marcela não tinha me retornado na sexta-feira e a única mensagem que eu recebi dizia que ela estava gripada e precisava ficar sozinha naquele final de semana. Depois disso, total e absoluto silêncio.

E tudo bem, eu entendia que gente gripada não quer interação humana e que só precisa ficar com o nariz entupido em paz, então eu respeitei totalmente e nem tentei aparecer para levar uma sopa nem nada assim - embora, talvez, eu devesse ter feito isso, porque alguma coisa não estava bem e não parecia gripe. Talvez eu pudesse ter ajudado em algo?

Eu vivi meu final de semana com Leandro limpando tudo, Tiago pedindo pelo amor de Deus para nós irmos para o apartamento dele (aparentemente ele acreditava fielmente que Leandro poderia fazer uma ótima faxina lá) e Chicão se emocionando com os jogos (sim, no plural, porque a gente não tinha assinado um pacote com Fox Sports, SporTV, ESPN, Premiere e vários outros por acaso. Eu só queria ver o Discovery Channel e Leandro o Home & Health, mas não era possível com Henrique Francisco e Tiago em casa).

Na segunda, acordei cinco horas da manhã para ir para academia encontrar Vinícius, o personal trainer, que me passou um treino novo que me fez ter a certeza que eu era só um corpo naquele momento, porque a alma tinha ido embora há muito tempo.

Tomei meu café da manhã que deixava Leandro assustado, o famoso shot anti-inflamatório e mandei mensagem para Má perguntando se ela queria que eu a pegasse em casa, ao que ela me respondeu que já estava no ônibus.

Então eu cheguei na CPN, vários minutos mais cedo do que o início do expediente porque eu já estava acordado mesmo e tinha calculado meu tempo para passar na casa de Marcela, e botei meus olhos nela.

Precisei de mais ou menos dois décimos de segundo para perceber que, sim, havia um problema e que não, não era uma gripe. A aura de tristeza dela me atingiu praticamente como um soco e eu descobri que vê-la daquele jeito era uma das coisas que eu mais odiava no mundo inteiro - ali do ladinho no ranking com gente que arranca as barbatanas dos tubarões para fazer pratos exóticos e jogava o resto do corpo dele no mar, ainda vivo, para morrer sufocado. Sim, porque tubarões são criaturas aquáticas que precisam nadar para respirar.

Ok, eu odiava caçadores de tubarões. E eu odiava Marcela Noronha triste.

Eu gostaria de ter comprado um cappuccino de canela para ela. Ou uma quantidade enorme de açúcar. Ou qualquer coisa que tirasse aquela expressão triste do rosto dela.

Me aproximei cautelosamente e acho que ela só percebeu que eu estava ali quando eu já estava na cadeira ao seu lado.

- Amor... - Eu comecei e ela virou o rosto para mim. Talvez alguém menos atento não perceberia e aquilo passaria apenas como Marcela Noronha mau humorada como de costume, mas eu conseguia perceber suas pálpebras inchadas.

- Eduardo - ela disse, erguendo uma sobrancelha.

- Não tem ninguém aqui, Má - eu disse e puxei uma das suas mãos do teclado, colocando entre as minhas. - Está tudo bem?

Era uma pergunta idiota, mas eu tinha que começar de algum lugar.

- Está - ela disse e sorriu.

Dei um beijo na mão dela.

- É para eu fingir que acredito? - perguntei, erguendo as sobrancelhas. - Quer conversar?

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