Capítulo 105 - Detetive confuso

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Detetive confuso


Eduardo

Marcela: Tivemos que acrescentar mais terminais de embarque e desembarque de contêineres do que havia no projeto inicial da ampliação

Marcela: Então eu preciso refazer esses cálculos para ter certeza que não vou acabar assinando o primeiro porto submerso da história

Eu tinha apenas terminado de digitar uma resposta para enviar quando saísse do elevador, quando alguém, também perdido na CPN àquela hora da noite, chamou minha atenção.

— Você está muito atrasado para o expediente de hoje ou adiantado para o de amanhã? São oito e meia da noite, Senna — Sandro disse, assim que as portas de metal se afastaram uma da outra e eu entrei no nosso andar da CPN. Sua sobrancelha se ergueu, só uma. — Seu irmão, Ursinha.

Eduardo: O aquaman provavelmente vai curtir que alguém pense em meios de transporte para ele, mesmo sendo tipo um híbrido de Marcelo e Sereia não dá para o cara atravessar o oceano inteiro nadando

Enviei.

Só aí eu olhei para Sandro, que estava com fones de ouvidos e o celular na mão, bem na altura do seu rosto cansado. Ele virou a tela do celular para mim e o rosto de Cecília apareceu.

Ou algo tinha explodido na cozinha dela ou ela estava usando uma máscara de carvão, porque todo o seu rosto, exceto os olhos, estava preto e craquelando, mas apostei na segunda pela faixa com orelhinhas de gato que ela usava para prender os cabelos para trás.

Acho que aquelas coisinhas no canto inferior da câmera eram seus dedos dos pés, nos quais ela estava passando esmalte, com o pé apoiado na mesinha de centro do seu apartamento e o celular, pelo ângulo esquisito, estava encostado no vaso de cerâmica que ela tinha ganhado do nosso pai — uma bela posição, aposto que Sandro estava agora mesmo se questionando quando foi que começou a namorar aquele gafanhoto esquisito.

Ele desconectou o fone de ouvido do celular, para que Ceci pudesse falar comigo também.

— Acho que descobrir que vocês se chamam de Ursão e Ursinha só não é pior do que ser surdo — eu gracejei para a câmera e Ceci franziu o cenho, fazendo com que um pedaço de sua máscara caísse do seu rosto, deixando uma falha no meio da sua testa. — Sério, Sandro, a Cecília eu até entendo, mas você é uma pessoa decente!

— Ursão, se você jogar ele no fosso do elevador eu prometo que testemunho que foi um acidente — minha irmãzinha disse, e Sandro estava sorrindo para ela como se achasse lindo aquele panda invertido que estava na sua tela.

Provavelmente ele achava. Tenho certeza que eu também acharia Marcela Noronha com máscara de carvão com um buraco na testa a coisa mais preciosa em que eu coloquei meus olhos.

— Fui vítima do seu bolo de pepino, já estou morto por dentro — impliquei, porque podia até ter um sabor ok, mas ainda era bolo de pepino.

Leandro disse que se jogaria da sacada se fosse obrigado a comer uma fatia daquilo, mas Chico amou e acabou herdando o segundo bolo que Ceci fez porque acreditou que todo mundo ia amar, e agora ele estava guardando vários pedaços para Tiago.

Nunca fiquei tão feliz por não ser o namorado de Henrique Francisco como naquele momento, porque eu tinha certeza que Tiago comeria aquilo feliz e ainda lamberia os farelos que ficassem no nosso oftalmologista preferido.

Ventura, com o ombro apoiado no meu para nós dois nos enquadrarmos na câmera, tentou fazer cara de paisagem, mas Cecília estreitou os olhos para ele, como se esperasse uma defesa para seu bolo vinda daquele coração bruto pai de dois filhos. Três, porque Sandro e Golden eram pai e filho e só não via quem não queria (Sandro, porque o Golden já estava pronto para seu pai dar a mão para ele ao atravessarem a rua).

Cuidado, é mentira!Onde histórias criam vida. Descubra agora