Capítulo 93 - Quem é o meu cachorrão?

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Quem é o meu cachorrão?


Eduardo

— Vai, coração, o segredo é a persistência — Valter disse, enquanto eu encaixava de novo o bico da long neck no meu antebraço. — Agora dobra o braço e gira a garrafa ao mesmo tempo.

E aí eu tentei, o que só resultou na minha pele repuxando pelo movimento, mas a garrafa continuou igualmente lacrada pela quarta vez e Valter apenas riu, dando uns tapas de encorajamento (ou consolo pela derrota, vai saber) no meu ombro, porque ele era ótimo naquilo.

— Ok, eu desisto! Acho que abrir uma garrafa com o braço exige um nível de sensualidade que eu não tenho — eu disse e Valter foi do seu tom bronzeado de sol para um vermelho pouco saudável em segundos. — Você é lindo, amor.

— Acho bom mesmo você desistir disso, eu acho que não estou em condições de ficar te abanando por causa de sangue hoje e está na cara que você vai se machucar, Chefe. Você é macio demais — Lucas disse, alisando meu braço e começando uma crise de soluços que só deixava claro que tinha álcool demais em seu sistema.

Eu disse que ele era muito jovem para tomar corote azul, mas aparentemente ninguém leva meus conselhos a sério, nem o meu pupilo canino.

Mas a ideia era exatamente aquela e a ordem do dia, dada pelo capricorniano mais legal que eu conhecia, Galileu Amorim, era de que toda a bebida que tinha no seu churrasco de aniversário tinha que acabar. O detalhe é que ele poderia converter seu sítio em Sorocaba em um bar naquele exato momento, então a missão era complicada, mas o squad da CPN que ele tinha reunido estava levando a sério. O lema era o mesmo do Capitão Nascimento: missão dada é missão cumprida.

Até mesmo o aniversariante, que estava de chinelo de dedo, bermuda e regata (Andreia tinha prometido que colocaria fogo naquela regata e eu não duvidava) com uma cerveja em uma mão e mexendo os espetos na churrasqueira com a outra, preparando o que foi decretado pelos carnívoros da CPN como o melhor churrasco da vida — ele adorava ser o churrasqueiro da rodada e se gabar sobre seus ingredientes secretos, mas mal sabia ele que depois de preparar duas rodadas de tequila sunrise, Andreia já tinha revelado que suas carnes vermelhas levavam pimenta calabresa e chimichurri em retaliação à sua ousadia de usar regata e chinelo.

Lavínia também estava bem empenhada em descobrir o segredo do frango, usando artifícios vis como repor a cerveja de Deia e pegar para ela o doce de leite de Sâmia — e nessa ela já havia arrancado de Andreia algo sobre melado de cana estar envolvido no tempero especial de Gali.

Eu sorri, olhando em volta.

Havia cerveja e drinks. Carne assando. Pão de alho. Pagode e forró estourando nas caixas de som. Aquilo definitivamente era um churrasco, como bem observou Thales Carvalho para Fernando Nogueira, que se defendeu falando que ninguém reclamou das suas firulas no "churrasco" da CPN, inclusive o próprio Thales, que aparentemente tinha sido flagrado perto demais de uma bandeja de canapés de camarão com páprica.

— Aprende a abrir as garrafas direito pra gente poder remarcar nossa cerveja, Senna! A última não valeu e você tem coisas para me contar — Sandro disse, apontando o gargalo de uma Eugência para mim.

Eu dei um gole na minha própria garrafa de Mautava — que era a minha preferida e eu não tinha mais problemas de aceitação com esse fato — e desconversei, porque eu sabia o que ele queria que eu contasse para ele e até eu sabia que eu não ia conseguir manter a minha língua quieta dentro da minha boca se ele perguntasse e apertasse as sobrancelhas com cara de bravo.

Cuidado, é mentira!Onde histórias criam vida. Descubra agora