Capítulo 57 - Bêbado, feliz e pensando em abraçar árvores

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Bêbado, feliz e pensando em abraçar árvores


Eduardo

— Eu queria abraçar uma árvore, porque a gente vai salvar o planeta uma construção por vez! — Lucas disse, erguendo uma caneca de cerveja e olhando para algum ponto entre mim e Sandro, provavelmente enxergando pares de cada um de nós depois da quantidade de álcool que tinha consumido. Aí ele se deu conta de que estava olhando para mim: — Chefe! A gente já brindou sua promoção?

Eu ri enquanto Sandro, sentado ao meu lado, rolou os olhos como o turrão que era.

— Eu não sou seu chefe e a gente já brindou a minha promoção umas quinze vezes graças a você — eu respondi, o que não impediu Lucas de erguer a caneca e chamar outro brinde falando "ao chefe!".

Todos bateram as canecas de novo, inclusive eu.

— Tem uma árvore ali na frente, vai lá abraçar ela — Sandro disse, apontando para a rua e Lucas pareceu muito entusiasmado.

Talvez ele realmente fosse um Golden e estivesse empolgado com árvores como se elas fossem gravetos gigantes. E Sandro sabia que os cachorrinhos eram inocentes e abusava muito disso.

— Ou — eu disse, segurando o braço de Lucas antes que ele fosse abraçar uma árvore de verdade, porque eu juro que ele estava se levantando para ir — a gente corta o álcool dele e fica de olho pra ele não sair do nosso campo de visão, porque claramente ele é um perigo para si mesmo nesse momento?

— Oi, chefe — ele disse, olhando para a minha mão no seu braço. — A gente já comemorou a sua...?

— Já, Lucas, pelo amor de Deus — Sandro disse, passando as mãos pelo rosto. — Eu vou matar esse garoto!

Eu ri e quase estiquei minha mão para fazer um carinho na cabeça de Lucas quando ele pareceu assustado com o Sandro sendo tão Sandro quanto era possível.

Ok, eu vou admitir.

Eu fiz carinho na cabeça dele de verdade, mas a culpa não era minha! Ele era um Golden bípede! Não tem como olhar para um fucking Golden e não querer fazer carinho nele! Pelo menos Lucas não sabia o poder que tinha, porque se ele me olhasse com aquela cara e pedisse a minha casa eu sairia de lá com Chicão e Leandro sem nenhum arrependimento.

E eu ri sozinho.

E percebi que, mesmo tendo ficado meio na dúvida se realmente deveria sair para comemorar depois de brigar com Marcela, foi melhor ter feito isso, então eu precisava agradecer por Sandro ter me deixado sem qualquer opção quando me informou (informou, porque não foi um convite) que nós íamos sair para comemorar minha promoção quando chegou na minha mesa, no fim do expediente, e fez um delicado discurso para me convencer:

Levanta esse traseiro ecologicamente correto, economicamente viável, socialmente justo e culturalmente aceito da cadeira porque hoje o álcool é por nossa conta, gerente — VENTURA, Sandro, 2020.

Ele citou o conceito de sustentabilidade para a minha bunda e eu simplesmente não consegui falar não para aquele poeta moderno.

Até porque eu merecia comemorar minha promoção.

E precisava parar de pensar na briga com Marcela porque aquilo estava me machucando a ponto de... Bem, eu precisava terminar um projeto de Yasmin e simplesmente não conseguia pensar em qual seria o melhor piso para o saguão porque eu não conseguia pensar em nada além do olhar magoado de Marcela.

E porque eu ficava repassando todas as minhas brigas com ela em looping infinito. Argamassa, bambu, aço, vidro, reuso de água... Nunca tínhamos brigado em um nível pessoal. A gente podia quase se atracar por poliuretano, mas, no fim do expediente, éramos plenamente capazes de sorrir um para o outro e conversar como os amigos que éramos.

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