Capítulo 102 - Acho que tudo bem não estar bem com ele

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Acho que tudo bem não estar bem com ele


Marcela

— Tem que reforçar duas vezes essa parede, Valtinho, senão ela não vai aguentar a tensão residual do porto — comentei riscando o rascunho de Lavínia, que já havia aceitado que se não quisesse um esboço rabiscado não deveria deixar perto de mim.

As vezes eu tinha certeza de que ela planejava o meu sumiço na calada da noite, mas acho que ela entendeu que a Andreia a sangraria se ela encostasse em um fio de cabelo meu, então simplesmente decidiu me aceitar — contanto que eu comprasse o seu humor com comida, como eu descobri no dia que o Edu mandou coxinhas para nós duas na CPN e ela quase me deu um beijo de boa noite de tão feliz que estava.

Nós até criamos uma agenda do humor dela no meu Outlook, onde essa era a semana do chocolate e semana que vem era da empadinha. A parte boa é que eu sempre comprava em dobro para comer com ela. A parte ruim era que eu comprava em dobro, então o meu bolso não estava tão feliz assim comigo. Nem meu colesterol ou glicose.

— Se nós usarmos o concreto protendido já serve? — ele inclinou a cabeça na minha direção e eu notei que estava agoniado em relação a algo, possivelmente mais um encontro romântico com o Sandrinho que ele se atrasaria? Acho que era a opção mais provável.

Oh, céus, eu shippava demais esses dois. Salder? Vandro? Definitivamente Vandro.

— Acho que sim, consegue ver com o Marcos se é suficiente? — entreguei o esboço de Lavi para ele e notei que ela estava prestes a reclamar sobre o papel, porém apenas se afundou na cadeira teatralmente e eu lhe empurrei mais uma trufa quando Valter se afastou.

Ele checou quatro vezes seu celular enquanto caminhava até a sala de Gisele.

Opa, será que tinha algo errado no trabalho?

— Pelo jeito o Sandro vai se aposentar esse ano — Lavínia comentou comigo, esticando seus dedos como uma pianista antes de tocar Mozart, mas no caso dela era apenas a sua preparação antes de enfiar uma trufa de chocolate branco na boca de uma vez, arrependendo-se imediatamente, porque ela era grande demais para ser mastigada em uma mordida só.

— Ele fala que vai se aposentar desde que começou a trabalhar — revirei meus olhos e vi que Marcele estava me ligando de novo, porém eu apenas ignorei a ligação e voltei meus olhos para o e-mail.

Meu Deus, a Gisele estava metralhando e-mails para todos os lados? Alguém tinha morrido?

Ah, eu tinha desconto na Blend Perfeito de 5% por ser funcionária da CPN? Meu Deus, minha mãe iria pirar com essa notícia!

— Acho que o passatempo dele é criar ilusões de aposentadorias precoces — considerei enquanto encaminhava aquele e-mail para Mama Noronha, arquivava os demais e deletava os trinta spams que o Golden estava mandando para todo mundo desde o momento que clicou sem querer em um vídeo de cachorrinhos dançando Macarena e pegou um vírus que nem a TI estava conseguindo bloquear — acho que isso faz com que ele seja mais feliz.

— Eu não sei se "feliz" seria algo que eu diria na mesma frase que o Sandrinho Poodle — ela testou e eu arqueei as sobrancelhas — você não ficou sabendo que a Gio pediu um cachorrinho de presente e ele deu um Poodle pra ela? O Valter mandou para todo mundo no grupo do churrasco "sem querer" — ela fez aspas com as mãos e eu comecei a rir.

— Quando foi que você roubou meu cargo de pessoa mais bem informada da empresa? — eu perguntei, adorando que Valter e Lavínia estavam no meu dia a dia, porque eles faziam o trabalho mil vezes mais leves com esses momentos.

Cuidado, é mentira!Onde histórias criam vida. Descubra agora