Capítulo 80 - Es-pe-ra

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Es-pe-ra


Eduardo

Apenas amizade.

Em teoria, não precisava ser difícil. Na prática, era outra história.

Era apenas muito difícil focar em ser apenas amigo de Marcela Noronha — mesmo que fosse fácil ser amigo dela, porque ela era divertidíssima, engraçada, leal, preocupada e...

E aí tinha aquele sorriso.

E a curva linda que seu lábio fazia.

E os olhos castanhos e astutos.

E a forma como ela mexia em uma porta e lubrificava para que parasse de ranger.

Era tão fácil ser amigo de Marcela, mas era tão difícil ser amigo de Marcela quando ela estava ali, a uma mesa de distância, rindo sobre algo que alguém estava falando, levando eventualmente a taça com espumante aos lábios e sorvendo golinhos para degustar o sabor do vinho que com certeza era uma escolha de Romeu e... E aí ela olhou para mim de volta.

Então eu me dei conta. Há quanto tempo eu estava olhando para Marcela?

Porra, Eduardo!

Melhore!

Eu realmente precisava parar de ser assim tão idiota porque... Ela estava com o Gustavo.

Sorri para ela como se não fosse nada demais eu estar encarando a curva do seu sorriso e desviei o olhar, notando que diversas conversas paralelas rolavam ao longo da mesa. Ouvi algo sobre alcachofras se parecerem com mini-repolhos e só ficarem gostosas depois do toque mágico de Cecília Senna e sobre um double date entre Chicão e Tiago e Getúlio e Romeu, dois casais que pareciam ter dado muito match e tinham muito o que discutir, mesmo que não fosse muito óbvio exatamente o quê — eu duvido que Retúlio tinham conhecimento sobre futebol ou que Chiago soubessem debater sobre qualidade de vinhos Syrah, mas, de alguma forma, aquela amizade estava funcionando.

Porém, notei que Romeu não estava necessariamente participando daquela conversa, já que seus olhos estavam fixos no meu rosto e provavelmente ele tinha notado que eu tinha passado o último minuto (ou últimos dez minutos, vai saber) olhando para sua melhor amiga como se ela fosse a obra de arte mais bonita que já tinha estado em solo terrestre.

Ele, muito mais discretamente do que eu achava possível para alguém tão expansivo quanto Romeu Sampaio, apontou a sacada de Cecília com o queixo e se levantou, seguindo para lá e me fazendo um convite implícito. Ninguém estava realmente prestando atenção em mim, então eu apenas matei o resto do espumante que estava na minha taça e me levantei, caminhando em direção à sacada e fechando a porta de vidro atrás de mim quando cheguei lá.

Os olhos verdes de Romeu estavam encarando a vista do apartamento de Cecília, então demoraram um segundo para encontrar os meus — e eu meio que entendi porque eu tinha sido convocado para uma reunião extraordinária longe dos ouvidos dos nossos amigos. Eu sempre soube que, em algum momento, alguém ia me dar um puxão de orelha pelo que tinha acontecido entre mim e Marcela, e era por isso que eu estava ali.

Apenas passei a língua pelos lábios que, de repente, tinham ficado muito secos e eu nem tinha me dado conta, antes de começar:

— Romeu...

— Não, Edu, eu falo primeiro dessa vez — ele disse, apoiando ambas as mãos no guarda-corpo da sacada e eu fiz a mesma coisa, parando ao seu lado antes de anuir e esperar que ele começasse. Romeu suspirou depois de tomar um segundo para si mesmo. — Eu não estou com raiva de você, ok? Não mais, pelo menos. Então, quando a Celinha te chamar para a minha festa de ano novo, porque ela vai, eu gostaria que você aceitasse.

Cuidado, é mentira!Onde histórias criam vida. Descubra agora