Capítulo 110 - Nunca estaremos quites pelo lance do Galhardo

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Capítulo 110 - Nunca estaremos quites pelo lance do Galhardo


Eduardo

— Me fala, por favor, que a Cecília colocou dois sapatos iguais agora — a voz de Romeu, vinda de trás de mim, me fez girar sob os calcanhares para vê-lo entrando na Horta Verde de mãos dadas com Getúlio.

Os dois estavam usando ternos pretos e eu tenho certeza que o fato de Romeu estar com uma gravata com listrinhas cor-de-rosa não era uma coincidência, já que a gravata borboleta de Túlio era da mesma cor e eles eram um casal tão irritantemente fofo que isso nem parecia brega — ou talvez até fosse, mas meu julgamento estava seriamente comprometido, pois eu tinha comprado dois pares de meias de flanela na Amazon e, sim, eles combinavam entre si e eu desejava que um deles fosse parar nos pés da melhor amiga deles, então acho que o meu moral para julgar casais combinando era... Bem, zero.

Mesmo que a encomenda ainda não tivesse chegado.

Eu ainda podia mudar de ideia.

Claro, Eduardo, claro. Podia sim. Confia.

— Que coisa indelicada, Rommi! Ela está nervosa! — Getúlio arrumou a gravata borboleta. — Mas, Cristal, ela acertou? Porque o vestido que nós escolhemos para ela certamente não vai esconder se ela aparecer aqui com um crocs vermelho e outro verde!

Estreitei meus olhos para Romeu, que nem tentou disfarçar que tinha espalhado todo o seu desgosto pela escolha de look da minha irmã naquela manhã para o marido — e nem eram as cores diferentes que tinham realmente incomodado, mas o fato de que crocs eram o calçado que ela escolhia diariamente para cozinhar.

Bom, em defesa dela, os crocs podiam até não ser bonitos, mas eram como calçar uma nuvem e ela estava mesmo nervosa para lidar com qualquer coisa mais complicada do que isso.

Sandro e eu, que tínhamos pedido aquela sexta-feira de folga para a CPN, passamos o dia tentando ajudá-la, mas claramente falhamos porque ela não tinha penteado o cabelo, nem colocado os sapatos certos e tinha aparecido no restaurante com um moletom furado (que deixou Leandro incrivelmente indignado quando ele apareceu perto da hora do almoço para entregar o vestido que ele e Getúlio tinham escolhido para ela, dentro de uma capa de plástico, sem um amarrotadinho e com cheiro de aromatizador de lavanda) e os famigerados crocs de cores diferentes (que tinham queimado os olhos de Romeu, que tinha aparecido de manhã com várias caixas de vinho e ânimo para reorganizar a adega do restaurante).

No fim, era o sonho dela, então todo mundo entendia que ela estivesse se sentindo pressionada a fazer tudo ser perfeito — desde a equipe, que passou semanas selecionando junto com Dani e sua nova sous chef, que costumava trabalhar no restaurante de Claude como entremetier (seja lá o que isso significa, mas é algo importante) e tinha se demitido para entrar na Horta na primeira ligação de Ceci, até as toalhas branquíssimas que estavam sobre as mesas naquela noite.

— Não foi por mérito próprio, mas ela está com dois sapatos iguais porque Leandro deixou separado e Sandro enfiou nos pés dela — contei, porque na verdade quem tinha narrado aquilo tinha sido o próprio Ventura e eu ainda não tinha olhado para os pés da minha irmã, que tinha decidido que ia tomar um dedinho de vinho na cozinha quando viu que tinham mesmo repórteres ali para fazer matérias sobre a inauguração e sua comida.

Embora, tenho certeza, ela não fosse beber de verdade e fosse apenas para conferir tudo que estava acontecendo nos bastidores pela enésima vez, porque ela tinha colocado o dólmã por cima do vestido antes de ir.

Cuidado, é mentira!Onde histórias criam vida. Descubra agora