Capítulo 51 - Aquele high five me abalou

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Aquele high five me abalou

Eduardo

A primeira coisa que me chamou atenção no shopping foi que havia uma loja de cosméticos nova no primeiro piso e que o rosto de Ágata ocupava a maior parte da vitrine. Demorei uns segundos olhando para lá e tentando entender se eu realmente estava vendo a pessoa certa, mas, se estamos trabalhando com a honestidade, eu conheceria aquele rosto levemente arredondando, os cabelos loiríssimos e os olhos azuis em qualquer lugar.

Aparentemente, ela e seu pai finalmente tinham lançado sua marca de maquiagem que, é claro, levava o seu nome — o que, quando você conhecia Ágata Moura, não te surpreendia nem um pouco.

A parte que eu demorei uns segundos para perceber é que mesmo vendo aquela foto dela super maquiada e segurando uma paleta de sombras com cara de coisa cara era que eu não tinha sentido nada.

Nada.

Na-da.

Nadinha mesmo.

Normalmente, mesmo tanto tempo depois do término com ela e da descoberta sobre Aristeu, vê-la meio que me causava... Não sei explicar. Era uma espécie de impacto negativo, como se eu tivesse absorvido alguma energia muito ruim e precisasse ficar na merda e irritável até que conseguisse me livrar daquilo. O pensamento de ter sido traído por alguém de quem eu gostei tanto sempre me apossava, e era por isso que ela estava bloqueada até no meu Instagram cheio de fotos de tia (eu gostava de flores e ninguém podia me julgar sobre isso). Era meio que o que os olhos não vêem o coração não sente.

Era assim que era realmente ter superado alguém? Olhar para a pessoa e simplesmente rolar um saudosismo pelo que tinha restado de bom dela e seguir a vida? E aí finalmente se libertar para algo muito melhor? E ter pensamentos filosóficos na escada rolante como se ficar preso nela ou cair de cara não fosse realmente uma opção?

Passei por Ágata e meu pensamento foi que, se a foto fosse de Marcela, eu teria me sentado em posição de índio no meio do shopping apenas para apreciar, porque ela era linda demais. Eu sabia que superação não tem a ver com substituir uma pessoa por outra (ou então eu teria superado Ágata muito rápido, julgando por quantas pessoas ela foi substituída quando eu só queria agir de forma estúpida), mas eu também tinha que dar um crédito a Marcela por isso.

Porque o que eu sentia por ela era... Diferente. Diferente do que eu tinha sentido um dia por Ágata. E melhor. E maior.

Então, no fim das contas... Tudo o que aconteceu tinha me levado até ali.

Até a CPN, até Leandro e Chicão, até Marcela e o sentimento bom que eu tinha toda vez que pensava nela.

E aí alguém esbarrou em mim.

— Moço, você está atrapalhando o fluxo — uma mulher baixinha que passou ao meu lado, provavelmente a mesma que tinha esbarrado em mim e me tirado daquele devaneio sobre meus sentimentos pela minha engenheira favorita, disse.

E foi então que eu comecei a andar, saindo da frente da escada rolante e deixando o rosto de Ágata Moura para trás.

Normalmente, eu não gostava de shoppings — a maior manifestação do consumismo que está acabando com o nosso planeta desde que se tem notícia? Ok, dispenso — porém, eu tinha uma missão: encontrar uma loja, que podia ser qualquer uma no meio daquelas milhares de portas, para buscar um monte de camisas que Henrique Francisco tinha encomendado.

Não que ele fosse super consumista, mas ele tinha lavado quase todas as suas camisas brancas junto com um meião verde, então agora, ao invés de seus impecáveis uniformes brancos (que Leandro tinha ensinado a deixar ainda mais brancos com os produtos certos e bicarbonato de sódio), ele tinha uma porção de camisas com tons indefinidos e manchados de verde bandeira.

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