'16'

2.2K 410 124
                                    

Uma coisa era certa, jisung precisava parar de beber.

Christopher com certeza não fazia o tipo autoritário, pelo menos não naquele quesito. Se o han quisesse beber, ele deixaria, claro que se chegasse num ponto crítico, pararia o rapaz sem pensar duas vezes, mas tinha que assumir, jisung bêbado era uma graça. Sua carência aumentava, sua manha aumentava, parecia que todos seus sentimentos vinham em dobro e com mais intensidade. Toda vez que o loiro ia para cima de changbin completamente fora de si para tentar abraçá-lo, os olhos miúdos que pareciam carregar toda um universo particular o encarava em súplica, implorando para tirar jisung de cima de dele. Era totalmente cômico para christopher ter que aguentar todo aquele drama vindo do mais novo.

Quando saíram do barracão já eram mais de três horas da madrugada, jisung já não estava em sua melhor condição, estava totalmente desequilibrado e perdido. Para o azar, changbin deixou seu carro no mecânico antes de ir ao encontro dos dois, assim tendo que acompanhá-los a pé até a casa mais próxima: a sua. Caminhavam lado a lado, jisung sempre errando a direita da esquerda, escorregando na neve ou até mesmo batendo nos postes da rua. O seo estava dividido em ajudá-lo ou rir da sua cara.

Já não nevava com tanta intensidade como horas mais cedo, christopher tirou seu casaco e enrolou jisung nele, vendo que o menor vestia apenas uma camisa fina de mangas curtas.

— vem, eu vou levar você. — se abaixou rente ao garoto com feições de esquilo, dando as costas para ele subir. Seria bem mais rápido, era o que o Bang pensava, a ponta dos seus dedos estava prestes a congelar por causa do frio, queria ir logo para casa de changbin.

Com ajuda do tatuador, jisung subiu nas costas do bang, desmaiando no mesmo instante que deitou sua cabeça no ombro dele. Christopher se certificou em levá-lo com cuidado, sempre atento onde deveria pisar, a última coisa que queria era ter que ir para o hospital e deixar changbin em pânico. Falando no dito cujo, o menor havia colocado o capuz para se proteger melhor do frio, andava ao lado do moreno em silêncio, sua mente vagava entre pensamentos distorcidos. Acordou de uma bolha assim que escutou christopher murmurar que estava congelando, o encarou de soslaio, sua mão estava quente por conta do moletom que cobria até elas, esticou sua destra até uma das palmas do bang, vendo que ele usava o antebraço para segurar nas coxas do han, tocou seus dígitos na pele gélida, e como se estivesse no automático, o maior abriu sua mão e deixou que changbin entrelaçasse seus dedos.

Sentiu uma leve queimação percorrer desde sua mão esquerda até seu peito, como um incentivo para seu coração continuar batendo rápido. Sorriu pela pequena atitude vinda do seo, era algo tão simples, mas mostrava que ele realmente se importava consigo. Desceu seus olhos até a figura pequena ao seu lado, ele andava de cabeça baixa, sua mão ainda se mantinha presa a sua. Não queria soltar, na verdade, christopher nem ousava fazer aquilo, queria prolongar cada demonstração de carinho vindo do moreno o quanto fosse, sabia que ele tinha suas limitações, sabia também que para ele pequenas demonstrações de afeto são importantes.

Changbin estava se esforçando para aquilo dar certo e ele com certeza também não iria desistir.

(...)

A missão de dar um banho e algo para comer a jisung foi totalmente falha, uma vez que christopher o deixou sentado no sofá para ajudar o seo na cozinha, ao voltarem, encontraram o loirinho dormindo no sofá. Mais uma vez, christopher o pegou no colo para levá-lo até a cama, o ajeitou entre as cobertas, tirando seus sapatos e meias, deixando ele dormir com seu casaco. Enquanto changbin foi tomar um banho quente para amenizar o frio em seu corpo, o bang seguiu para sala, deixando a porta entreaberta para caso o han passasse mal e ele pudesse ouvir.

Caçou o maço de cigarros dentro dos bolsos que agora só possuía apenas um, o pegou amassando o pacote plástico, deixando no lixo da cozinha e aproveitou para acender com o isqueiro que changbin sempre usava. Voltou para sala e descalço foi parar na varanda em frente a rua que possuía na sala do seo, se sentou em umas das cadeiras deixando que seus problemas sumissem junto com a fumaça do cigarro que tragava. Sua mente ia esvaziando mesmo que seu coração continuasse inquieto, tinha que reconhecer que não estava se reconhecendo mais, se sentia inseguro com aquele relacionamento, uma coisa que nunca sentiu antes. Tinha medo de errar com aqueles caras, queria ser o melhor para eles, esperar o tempo deles, mesmo que não aguentasse mais toda aquela enrolação. Toda sua mente gritava para jogar tudo para o ar e dar o primeiro passo, mas estava andando numa corda bamba, não queria se arriscar e acabar perdendo quem o fez sentir genuinamente feliz após anos sofrendo em silêncio.

Fechou os olhos por alguns segundos para se acalmar, levantando da cadeira para jogar as cinzas que se acomulavam no cigarro na rua.

— você não cansa de fumar? — relaxou sua expressão antes de encarar changbin, este vestia um pijama composto por um shorts azul com cordões e uma camiseta preta de mangas longas. Jogou o cigarro fora uma vez que já tinha fumado todo conteúdo, ficou encostado na grade de ferro e o moreno tomou seu lado.

— às vezes precisamos de algo para aliviar a mente.

— "às vezes"? Chris, esse é o quinto cigarro que você fuma hoje. — o olhou de cima a baixo com desdém. — você precisa parar, os dois na verdade, jisung também precisa parar de beber com tanta frequência.

— não sei dizer por que o han bebe tanto, mas no meu caso é que preciso disso, sabe. — voltou sua atenção para rua deserta, os poucos carros que tinham estavam cobertos por uma camada grossa de neve que tinha se acomulado. Brincou com o anel que sempre usava em seu mindinho para espantar o nervosismo.

— você não precisa disso, usar uma droga como válvula de escape para os problemas só atrai mais problemas. — changbin cautelosamente se aproximou do bang, parecia que o caminho curto até o maior estava coberto por cacos de vidros. Encostou seu ombro no braço dele e suspirou atrás de coragem para continuar. — você tem eu e o jisung, não precisa dessa porcaria. Quer conversar? Me chame ou chame o jisung. Precisa de algo? Nós diga. Eu não quero te ver perdendo tudo pra essa merda, nem você nem o sung. — ergueu seus olhos até o moreno, seu rosto estava sério, falava aquilo para o bem de christopher e pedia aos céus para que ele entendesse. — eu preciso de vocês dois, seu imbecil. Vivos e inteiros. Então, por favor, tente parar um pouco de fumar.

Estava sem palavras, não sabia como reagir àquilo, mesmo com um frio de congelar os ossos, todo seu corpo estava aquecido por aquela sensação de acolhimento. Quis abraçá-lo com força, poder enroscar seus dedos nos fios negros e macios. Quis agradecer por aquelas palavras, e acima de tudo, quis chorar. Era a primeira vez que alguém se preocupava daquela forma consigo, demonstrou que não queria vê-lo desabar, que estava ali para apoiá-lo, ajudá-lo, lhe dar conforto. Sorriu para changbin, sorriu verdadeiramente, sorriu até seus olhos sumissem. Estava tão feliz.

— obrigado, bin, de verdade mesmo, obrigado.

— não precisa me agradecer, não fiz o mínimo. Vou te fazer largar esse vício, nem que pra isso eu tenha que resolver na base do soco. — massageio as mãos para intimidar o maior, mas de nada funcionou. Mesmo que fosse uma ameaça verdadeira, não conseguia sentir medo, tinha aceitado que aquele era o seu jeito de demonstrar preocupação, enquanto aquelas ameaças repentinas fizesse parte do seu cotidiano, não tinha nada a reclamar.

— tudo bem, senhor! — fez sinal de continência, fazendo o menor rir da sua besteira, consequentemente encostando o rosto em seu braço.

Ficaram daquele jeito até o frio impedir que continuassem na varanda.

Rivals | 3RACHA Onde histórias criam vida. Descubra agora