Dreams.

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A música título é Dreams, do Bastille.



Marcela suspirou enquanto recolocava as mãos dentro do sobretudo Gucci. Detroit estava quase glacial naquele dia e, sinceramente, a sua única vontade era se fundir ao asfalto desgastado.

Não suportava mais tudo a sua volta.

Não aguentava mais olhar para as mesmas faces e ter que suportar as mesmas vozes, queria simplesmente voltar ao que era, quando ninguém queria realmente saber sobre si. Seus segredos eram segredos por um motivo.

As botas faziam um som baixo a cada vez que encontravam o chão, causando leves estalos por conta das pequenas pedras e galhos que haviam espalhados por ali. A limpeza das ruas continuava não sendo das melhores.

Marcela sabia exatamente onde estava indo. Seus pés involuntariamente lhe levavam até o lugar que, há cinco anos atrás, era sua casa, seu refúgio e seu conforto. Aquele lugar poderia não ser bem visto aos olhos de outras pessoas, mas, estar ali com aquelas pessoas, foi a melhor época de sua vida.

Seus passos eram cautelosos, quase como se não estivesse preparada pra ver os escombros e cinzas. As lembranças ainda lhe atormentavam, era como se os gritos e o calor do fogo ainda pudessem ser ouvidos e sentidos.

Marcela suspirou e colocou as mãos nos bolsos enquanto continuava sua caminhada. Entretanto, algo lhe chamara a atenção.

A igreja em que assassinara Zé Luiz, que antes possuía tons de azul, agora era toda branca. A tinta parecia reluzir na luz do sol e os vitrais possuíam contornos dourados que se vistos a distância, poderiam facilmente ser confundidos com ouro.

As portas, antes desgastadas, agora eram de uma madeira escura e elegante, combinando perfeitamente com a tinta e vitrais. Certamente havia sido uma reforma demorada - e muito bem feita.

E cara também.

A loira não fazia questão de entrar ali, aquele lugar lhe causava nojo, repulsa, já que tudo ali lhe remetia a Zé Luiz. Mesmo morto, ainda lhe atormentava.

Ela observou aquele lugar por mais alguns segundos. Aparentemente, aquele lugar havia prosperado sem Zé Luiz.

Suspirou e continuou sua caminhada, sendo invadida pelo mar de lembranças boas e ruins que vivera naquele lugar. Era tudo tão nostálgico, quase como se pudesse reviver tudo aquilo outra vez.

E então, seus olhos quase saltaram de sua face ao ver aquele lugar.

O casarão - antes em escombros e cinzas - havia sido substituído por uma moderna construção em vidro, quase como vitrines, e portas de mogno negro. A fachada era composta por duas colunas principais que sustentavam o corredor até a entrada, além das diversas luzes espalhada por ali, Marcela supôs que ficariam maravilhosas durante a noite.

O lugar era decorado, principalmente com madeira, além de dois coqueiros em cada extremidade. Era simplesmente o lugar mais lindo que Marcela já vira naquela cidade.

Aparentemente, Detroit estava se reerguendo bem depois da crise.

Marcela andou cautelosamente até aquele lugar, mal acreditando que ali já fora sua casa. Observou atentamente cada detalhe, tocando nas colunas, quase em um estado de torpor em pura contemplação. As memórias eram tantas...

- Marcela? Oh meu Deus! Eu não acredito! Hanna, venha aqui, rápido! Meu Deus!

Tayna gritou, antes de correr até a loira e a envolver num abraço apertado. Marcela recuou por um segundo, antes de se recuperar do susto e abraçar mulher estonteante a sua frente.

Detroit (Rabia Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora