18. Porta

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Na volta da Europa, passei dois dias em casa e logo em seguida fui para a Califórnia. Por conta de um atraso no meu voo, tive que ir direto para um entrevista com o Zach Sang e o Dan. Toda a entrevista foi tranquila e divertida, falamos sobre diversos assuntos, principalmente sobre o meu
modo de fazer música e isso me deixou feliz. No meio da entrevista, deixei escapar que transei com o meu melhor amigo, acho que eles não perceberam na hora e eu também já mudei de assunto. Mas é claro que, no final da entrevista, Dan aproveitou para questionar sobre a maldito do Joe Jonas. Ao lembrar disso, eu fiquei bravo logo de cara. Respirei fundo, tomei um gole da minha água e respondi falando que provavelmente eles queriam parecer uma banda de rock e por isso estavam falando sobre a gente. Acho que eles acreditaram.

Saí da entrevista e tentei ligar para Gerard, mas ele não me atendeu. Achei estranho porque nós havíamos combinado que eu iria pra lá. Imaginei que ele poderia estar produzindo algo concentrado e nem estava olhando o celular. Decidi então ir direto para a sua casa. Quando estava na porta, liguei mais uma vez e caiu na caixa postal. Tentei o interfone do portão e continuava sem resposta. Será que ele havia saído de casa? Aquilo ficava mais bizarro a cada momento. Interfonei mais uma
vez e nada. Liguei mais uma vez e deu caixa postal. Concluí que ele poderia ter ido até a casa da sua mãe levar a Bandit e decidi entrar, afinal a minha chave era pra isso, para esses momentos. Abri o portão, cheguei na porta e tentei ligar mais uma vez. Nada. A porta da frente estava aberta.
Será que ele tinha esquecido? Isso não era algo que Gerard costumava esquecer. Abri a porta e entrei. Tudo estava silencioso. Havia uma bolsa preta feminina no sofá. Será que era da Donna? Será que uma de nossas amigas estava com ele? Poderia ser Sarah ou uma das meninas da nossa produção. Gerard costumava esquecer do mundo ao seu redor quando estava em conversas profundas, só poderia ser isso.

— Gerard? - Chamei baixo no meio da sala.

Nenhuma resposta veio. Caminhei para perto do corredor.

— Gerard, você tá aí? - Tentei mais uma vez.

Nada.

— Gerard, eu entrei com a minha chave, não quero te assustar. - Tentei falar um pouco mais alto.
— Frank? Frank, eu não posso falar com você agora. - Dizia a voz um pouco embargada de Gerard vindo do escritório.

Caminhei até a porta do escritório que estava fechada.

— Gee, o que está acontecendo? Eu estou ficando preocupado. É trabalho? - Tentei me manter calmo enquanto falava para a porta.
— Frank, não dá pra gente conversar agora. Depois eu te ligo. - O seu tom era choroso.
— Gerard, eu não vou embora enquanto você não me falar o que está acontecendo! Abre essa porta! - Comecei a bater e tentar abrir a porta loucamente até que a porta se abriu.
— Qual a parte de que ele não vai te atender você não entendeu, Frank? - Perguntou Lindsey parada na minha frente em tom de deboche.

Eu conseguia ver Gerard no fundo, sentado em uma cadeira com as mãos no rosto.

— O que você tá fazendo aqui? O que você fez com ele? - Eu praticamente rosnei para ela e tentei passar, mas ela não permitiu.
— Eu é que te pergunto, eu sou a esposa dele, você é quem não deveria estar aqui. - Ela disse irritada.
— Gee, que porra é essa? Fala comigo. - Minha voz falhou enquanto eu olhava pra ele.
— Frank, vai embora. Depois a gente conversa. Por favor. - Ele não levantou o rosto para me olhar e continuava chorando.
— Se é isso que você quer, então eu vou. - Falei entre soluços e lágrimas que escorriam do meu rosto. Encarei Lindsey mais uma vez antes de virar as costas e ir embora.

Eu saí praticamente correndo da casa de Gerard. Quando atravessei o portão, me dei conta que não tinha onde ficar aquela noite. Liguei para Mikey pedindo ajuda e ele disse que eu poderia ir pra lá. 10 minutos depois o meu uber parava na frente da sua casa.

— Hey, homie. O que aconteceu? - Ele perguntou por notar meus olhos vermelhos e inchados.
— Mikey, eu não sei. Eu cheguei na casa do Gee e a Lindsey tava lá, ele estava chorando e
me pediu pra ir embora. Eu só corri. - Caí no choro de novo e Mikey me abraçou.
— Calma, Frank. Daqui a pouco eu falo com ele e descubro. Eu não aguento mais essa mulher. Desgraçada! - A raiva na voz de Mikey era genuína.

Kristin me recebeu com toda a hospitalidade do mundo, ela estava fazendo um bolo com a filha mais velha deles e a cozinha estava uma bagunça, elas pareciam estar se divertindo muito. Mikey me levou para o seu estúdio para que a gente pudesse conversar.

— Essa maldita vem rondando o Gee faz dias já, não sei o que ela está querendo, certeza que boa coisa não é. - O Way mais novo disse enquanto apontava uma poltrona para mim e puxava uma cadeira para ele sentar.
— Sim, como pode uma pessoa ser tão podre? Eu tô preocupado com ele, Mikey, ele parecia tão mal. - Eu disse olhando pra baixo pensativo.
— O Gee aprendeu a lidar com ela, fica tranquilo. Daqui a pouco ele vem pra cá e vocês já esclarecem tudo. - O seu tom de voz era sincero.
— Eu sei, eu sei. Mas, como eu posso dizer… Eu sinto que ele estava me evitando nessas últimas semanas, desmarcando coisas de última hora. Agora tudo faz sentido. - Engoli ochoro que queria voltar.
— Frank, o Gee te ama. Ela pode até tentar chantagear ele, mas ele não vai aceitar isso. Ele deve ter te afastado pra poder resolver as coisas com ela. Só isso. - Ele tinha um sorriso
esperançoso no rosto.
— Espero que você esteja certo, Mikey. - Eu disse pensativo.

Aproveitamos a noite para assistir futebol americano, já que é uma das paixões de Mikey. Seu time venceu e a sua alegria foi contagiante, não tinha como alguém ficar triste naquela casa.
Mikey tentou ligar para Gerard e o celular continuava na caixa postal. Ele me convenceu que o melhor era ir dormir e tentar falar com ele no dia seguinte. Demorei muito pra conseguir dormir e acordei com uma certa movimentação na casa. Eu havia
esquecido como pais de crianças pequenas sempre acordam muito cedo por falta de opção. Tomamos café e o telefone de Mikey tocou, era um número desconhecido.

— Mikey, é o Gee. - Disse Gerard do outro lado da linha.
— Gee, oi! Ainda bem que você me ligou, seu celular só dava caixa postal. - Mikey respondeu com um suspiro de alívio.
— Ela quebrou meu celular de novo. Salva esse número que eu vou usar ele por uns dias. Você teve notícia do Frank? - Gerard perguntou.
— Eu não acredito nisso, sério? Que desgraçada! O Frank tá aqui do meu lado, ele dormiu aqui. - Disse Mikey irritado.
— Deixa eu falar com ele? - A voz de Gerard era apreensiva.
— Claro. - Ele respondeu me entregando o telefone.
— Gee? - Meu tom era nervoso.
— Frank, a gente precisa conversar. - Ele falava sério.
— Claro, Gee. Você quer me encontrar onde? - Eu tentava não parecer ansioso com a conversa.
— Nós precisamos conversar por aqui. - O tom de voz dele era tão apreensivo que ele não parecia respirar direito.
— Me dá um minuto. - Eu pedi.

Gerard iria terminar comigo mais uma vez. Eu podia sentir. E ele não tinha a coragem necessária para falar olhando nos meus olhos, então ele iria fazer por telefone. A raiva das lembranças e da constatação do quão covarde ele é fazia o meu peito arder. Fiz um sinal para Mikey que precisaria ir até o lado de fora da casa com o celular dele e ele acenou positivamente.

— Pode falar. - O meu tom era ríspido.
— Frank, a gente não vai poder mais se ver. - Ele falou de uma forma mecânica, como se tivesse treinado muitas vezes antes de falar.
— Ok. - Eu engoli seco.
— Você sabe que eu te amo e que é mais forte que eu. - Ele parecia muito mais nervoso que eu.
— Gerard, não! Não tenta explicar. Eu sei exatamente o que está acontecendo aqui. Pode seguir com a sua vida. Só vou te pedir pra não deixar isso atrapalhar a banda. - A raiva e a decepção na minha voz eram claras.
— Tá bem. - Ele foi quem engoliu seco as minhas palavras.
— Adeus, Gerard. - Eu disse enquanto uma lágrima solitária escorria pela minha bochecha esquerda.
— Até o próximo ensaio, Frank. - Ele também parecia estar chorando.

Limpei o meu rosto com a manga da minha camiseta. Voltei para o lado de dentro da casa, entreguei o celular a Mikey e disse que precisava ir embora. Mikey entendeu no mesmo momento o que estava acontecendo e Kristin ficou um pouco confusa, mas não fez perguntas. Peguei as minhas coisas enquanto ligava para o meu agente e pedia para conseguir um hotel pra mim. Eu não podia voltar pra casa porque teria um show na Califórnia no dia seguinte, então um hotel seria a minha única saída para poder me trancar num quarto e chorar o fato dos dois amores da minha vida terem terminado comigo em menos de 2 meses. Esse foi um longo dia de cigarros, lágrimas e tentativas frustradas de escrever alguma coisa para colocar a dor para fora.

Broken Clock [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora