4. Ensaio

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No dia seguinte, acordei com o meu telefone do hotel tocando. Era a recepção. Ray pediu pra eles me ligarem para que eu acordasse. Agradeci a gentileza da recepcionista e xinguei o Ray mentalmente por isso. Levantei e percebi que era 8h da manhã, nosso ensaio começava em uma hora. Fui até o banheiro, me olhei no espelho e eu estava uma bagunça. Olhos inchados, cabelo bagunçado, roupa de ontem. Tomei um banho como se aquilo fosse capaz de resolver a bagunça externa e interna.

Desci pra tomar café e estavam os três sentados em uma das mesas do hotel. Ao me ver, o Ray me chamou pra sentar com eles e eu não poderia negar. Peguei um café preto e sentei. Eles estavam rindo falando sobre velhos hábitos do Brian e relembrando a época em que vivíamos em um ônibus fedido viajando o país em tour. Eu fiquei em silêncio por algum tempo, até que começamos a lembrar do Brian brigando com a gente porque a gente já tinha dinheiro pra comprar mais roupas, mas a gente se recusava e continuava usando as roupas sujas durante toda a turnê. Eram as nossas roupas da sorte, se fossem lavadas, perderiam o seu poder. Pelo menos era nisso que a gente acreditava na época. Gerard não me olhava diretamente, pelo menos não quando eu estava olhando, mas trocamos alguns pequenos comentários que eram notavelmente carregados de tensão.

Terminamos o café e fomos pro estúdio ensaiar separados. Não queríamos correr o risco de sermos vistos e estragar a surpresa do retorno 6 anos após o nosso fim. Chegando lá, nós havíamos decidido que a primeira música que tocaríamos novamente seria Welcome To Black Parade, nossa música mais famosa e que nos levou para o mundo todo. Foi tudo tão natural, era como se nós nunca tivéssemos parado. Eu sabia que tinha nascido para tocar com aqueles 3 homens, eu estava em casa. As próximas músicas fluíram exatamente como deveriam, tocamos clássicos, músicas mais lado b, foi uma grande viagem pela nossa discografia. Eu seguia evitando qualquer contato visual com Gerard e focava em Mikey e Ray quando não estava me jogando pelo chão. Depois de várias músicas, fizemos uma pequena pausa, eu rapidamente peguei meu cigarro e fui lá fora fumar. Gerard me seguiu.

— Sério? - Eu perguntei e dei dois passos pro lado, tentando me manter o mais longe possível.

— Eu também sou fumante, esqueceu? - respondeu pegando o seu maço de cigarros no bolso.

Permaneci em silêncio, ao que ele voltou a falar:

— Será que a gente pode tentar conversar? - O tom de voz dele era baixo.

— Eu não tenho nada pra falar com você agora! - Eu disse firme, dando mais dois passos.

— Frank, sério, me escuta só um pouquinho. - Ele andou em minha direção.

— Não, Gerard! Isso não é sobre você! Esse retorno não é sobre você! Essa banda não te pertence, esqueceu? O mundo não gira ao seu redor. Você não vai tirar isso de mim! - Me virei pra falar olhando nos olhos dele.

— Tá bem, eu vou respeitar o seu espaço. - Gerard abaixou a cabeça e se virou em direção a porta.

— Obrigado!

Ele apagou o seu cigarro que estava praticamente inteiro e entrou novamente no estúdio. Eu terminei o meu e fumei mais dois em seguida pra tentar me acalmar. Entrei novamente e recomeçamos tocando I'm Not Okay, música na qual eu tenho uma fala. Originalmente, a minha fala é "trust me", porém, dependendo do dia e do meu humor, eu tomo a liberdade de fazer algumas alterações, tipo quando nós pegamos o nosso baterista nos roubando e no show seguinte eu falei "trust no one". Dessa vez, quando chegou o meu momento, eu disse "Lie To Me", assim como eu disse após o casamento do Gerard. Todos me olharam automaticamente após a fala e eu fingi demência. Logo em seguida, o Ray me disse que a próxima música seria The World Is Ugly. Maldito momento em que eu concordei com aquilo, onde eu estava com a cabeça? Até que o Gerard disse que não iria cantar aquela música. E, tomado pela fúria e deboche, perguntei o porquê. Gerard me fuzilou com os olhos, se ele fosse um personagem dos seus quadrinhos com laser nos olhos, ele teria me matado ali mesmo. Continuei:

— Não era você que queria cantar músicas do CW? - Eu o olhava nos olhos com um tom desafiador.

Broken Clock [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora