14. Chaves

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Após passar a noite praticamente em claro, decidi que não iria falar sobre aquilo com Gerard. Eu estava casado e ele solteiro. Por mais doloroso que fosse, eu não tinha o direito de cobrar absolutamente nada dele. Se ele quisesse me contar, ele iria me contar. Se não quisesse, eu iria respeitar. Eu apenas torcia para que ele não tivesse outra recaída em seus vícios.

Levantei cedo, tomei café com as crianças e as levei para a escola já que Jamia havia dormido na casa de uma amiga. Tirei o dia para ensaiar com o Tucker e focar no meu trabalho. A lado ruim é que boa parte das minhas músicas eram sobre Gerard e eu tive que segurar o choro enquanto cantava frases como "No justice in photographs / such lovely eyes you have" ou "You gave me butterflies / pinned to sides of my stomach line / your kiss is filled with fire / it charred my lips and my sense of pride / the way we twist and twine" em Medicine Square Garden. Me forcei a afastar Gerard da minha mente e foquei nas notas que eu deveria tocar e cantar. Aparentemente funcionou e o ensaio foi tranquilo.

Após o ensaio, fui checar o celular e havia uma mensagem de Gerard. "Você me ligou ontem? Eu estava ocupado e não consegui atender. Como você está, baby?", dizia a mensagem. Engoli o seco enquanto lia. Desliguei a tela do celular e fui pra casa. Chegando lá, encontrei as crianças brincando com Lois e se divertindo no quintal. Fiquei com elas por um tempo considerável.

Depois de tomar banho e jantar, fui pro porão de novo. Abri o Whatsapp e fiquei encarando a mensagem de Gerard. Cada vez que eu relia aquela mensagem, doía um pouco mais. Eu esperava que ele fosse sincero comigo, que ele fosse me contar o que aconteceu. Mas era Gerard. Eu sabia exatamente onde aquilo ia parar. E eu queria negar aquele déjà-vu, fingir que nada de ruim iria acontecer, que ele não estava mentindo pra mim novamente, que ele não estava voltando a ser a sua pior versão. Mas tudo isso não saía da minha cabeça. As malditas lembranças. Era impossível pensar em um futuro tendo vivido tanto passado.

"Sim, eu liguei para saber se deu tudo certo. Eu estou bem, passei o dia ensaiando com o Tucker e o seu dia, como foi?", respondi prometendo para mim mesmo que não iria desistir dele. Ele me respondeu falando sobre suas reuniões e eu me perguntava se eram reuniões mesmo ou se ele tinha passado o dia com Bert. O ciúme ardia no meu peito, eu queria confrontá-lo, queria perguntar, queria perguntar olhando nos olhos dele. Mas eu sabia que não podia e não fiz.

As duas semanas seguintes passaram voando. The Umbrella Academy era um sucesso e eu estava saindo em turnê com o Taking Back Sunday. Pelo menos, eu teria Adam comigo.

Após o primeiro show da turnê, fomos para a área externa de um bar underground tomar algumas cervejas e conversar. Falei com Adam sobre tudo que estava acontecendo.

— Mas você tá com medo do quê? Dos dois se pegarem? Frank, pelo amor de deus! Até a gente já se pegou em tour e nós continuamos amigos e, sem ofensas, não tô afim de repetir a dose! - Ele ria e tomava a sua cerveja.

— Haha! É recíproco, Adam. Mas é que eu tenho medo dele cair nos vícios de novo, entende? - Eu olhava para o meu copo de cerveja pensativo.

— Frank, honestamente, eu nunca entendi essa sua birra com o Bert. Você faz ele parecer um vilão de filme da Disney quando fala. Eu adoro ele, cara. - Disse Adam dando de ombros e tragando seu cigarro.

— Eu não sei, Adam. É que... O Gee sempre faz merda quando tá com ele, sabe? Eu acho ele uma péssima amizade. - Falei olhando pra baixo.

— Você sabe que o Gerard já era adulto quando conheceu ele, né? Por mais que o Bert tenha tido aquela fase sexo, drogas e rock n' roll, o Gerard fez merda porque quis. - Ele me olhava com um olhar um pouco desafiador.

— Eu sei, eu sei. Mas o Gee é frágil, ele vai na onda. Se empolga fácil. - Eu estava ficando irritado com o caminho da conversa.

— Frank, ele não é uma criança. Você vê ele desse jeito porque você sempre foi apaixonado por ele, mas ele fez tudo que fez porque quis. Eu sei que isso pode ser doloroso pra você porque você acha ele perfeito e coloca ele em um pedestal, você fica bobo perto dele. Mas ele também tem defeitos e você precisa aceitar isso e parar de culpar o Bert que nem está aqui para se defender. - Ele deu um gole na cerveja para não ver a minha reação.

Broken Clock [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora