20. Abraço

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Durante o ensaio, Gerard não olhou na minha direção, apenas cantou as músicas sem muita interação comigo, focando mais em Mikey e Ray. Eu entendi e fiquei feliz por ele respeitar a minha vontade. Foi um ensaio um pouco tenso pelo clima, mas no final eu estava tranquilo.

Voltei pra casa e aproveitei para passar alguns dias com os meus filhos e Lois. Eu estava morrendo de saudade deles e esses momentos eram o que me dava energia para viver. Miles estava começando a jogar futebol e Cherry estava tocando baixo, eu não poderia estar mais orgulhoso.

Meu trabalho com o Future Violents segue a todo vapor, muitos shows e entrevistas. E em toda entrevista, alguém pergunta do retorno do My Chem. Fomos dar uma entrevista para o VOA News e não foi diferente. A única coisa que mudou foi que, dessa vez, eu pensei "foda-se o Gerard" antes de responder a pergunta. Ao contrário das outras respostas, em que eu esquivei do assunto, dessa vez decidi mandar um recado pros fãs em forma de ditado popular.

— Eu soube desse boato que continua quebrando a internet, eu vi notícias com manchetes como "My Chemical Romance: está se reunindo". Eles estão se reunindo? - disse o entrevistador logo de cara.

— Eu acho que você definitivamente saberia se a gente estivesse. Entende o que eu digo? - Eu ri.

— Então é a manchete de amanhã! Hoje ele não vai me dizer. Talvez você queira contar pros outros caras antes de contar pra mim. - Ele estava rindo também.

— Sabe, tem esse rumor que fica aparecendo e é como um relógio quebrado, cara. Essa história é um relógio quebrado. Ressurge a cada dois meses, tipo, alguém está comendo um sanduíche, então isso significa que eles vão voltar! Eu nem sei o que isso quer dizer, mas eu sei que nós não seríamos tão secretos sobre isso que nós estivéssemos voltando. - Eu disse de forma séria e torcendo pra que algum fã do twitter entendesse a referência do relógio quebrado.

— Então vamos manter nossos dedos cruzados pra que aconteça. - O entrevistador brincou e mudou de assunto.

Agradeci mentalmente o momento em que ele começou a perguntar sobre a minha carreira solo. Tocamos algumas músicas e mais uma entrevista estava terminada. Continuamos mais alguns dias nessa turnê e, antes de voltar pra casa, passei em NY para mais um ensaio com o My Chem.

Nem vi os meninos no hotel e fui direto pro estúdio. Começamos com I'm Not Okay e Gerard me olhou sério na parte em que eu canto "trust me", claramente com medo que eu fosse provocá-lo, como eu sempre fazia. Eu sorri e falei "trust me" como na letra original, pude perceber o alívio em seu olhar. Continuamos o ensaio e, quando chegamos em Prison, ele veio na minha direção, era algo comum quando nós estávamos nos pegando. Eu fiz um sinal de "não" com a cabeça e ele voltou para sua posição original. O ensaio acabou com Gerard indo embora antes de todo mundo, eu acho que ele queria evitar qualquer chance de ser obrigado a conversar comigo. Inicialmente eu fiquei um pouco chateado com isso, mas eu também entendo o lado dele. Ray veio falar comigo quando eu já estava lá fora fumando um cigarro.

— Você não vai mesmo dar outra chance pra ele? - Ele parecia preocupado.

— Bom, não por enquanto. - Dei de ombros.

— Ele está triste, Frank. - Ele fez uma careta de quem estava falando sobre algo que não gosta de falar.

— Eu sei, Ray. Mas eu não posso trocar a felicidade dele pela minha. Eu quero paz agora e ele nunca vai me dar paz. - Eu percebi que fiquei um pouco irritado enquanto falava.

— Ele realmente é uma pessoa intensa... Eu só acho triste ver dois amigos meus que se gostam passando por isso. - Ele olhou pra baixo.

— Olha, eu só quero tentar quando eu estiver pronto, sabe? Ele me fez sofrer muito em vários momentos da minha vida, inclusive agora. Eu estou me colocando em primeiro lugar pela primeira vez e eu não vou abrir mão disso. Eu também fico triste de saber que ele está assim. - Eu olhava sério pra ele.

— Eu acho que você está certo, baixinho. Mas pensa com carinho, porque eu não aguento mais ver ele se lamentando sobre isso. - Ele deu um sorriso leve.

— Você que lute pra aguentar o drama, Ray, haha. - Eu dei um empurrãozinho nele.

Voltamos pro hotel e logo em seguida ouvi uma batida na minha porta. Abri e vi Gerard com sua parka verde, seu cabelo longo despenteado e uma expressão triste em seu rosto.

— A gente pode conversar? - Ele perguntou em um tom muito baixo.

— Claro, entra. - Eu dei passagem pra ele.

Ele se sentou em um banquinho próximo da mesa e eu sentei em outro banco, de frente pra ele.

— Fala. - Eu disse olhando em seus olhos.

— Eu não suporto mais isso, Frank. - Ele deu um suspiro.

— E... eu... - Eu não sabia o que dizer.

— Olha, eu entendo que você esteja magoado com tudo que eu fiz, mas eu fiz isso pra poder ficar com você. Eu te amo, eu quero poder te tocar, te abraçar, chegar perto de você no ensaio. - Ele praticamente vomitou as palavras em um tom ansioso.

— Gerard, eu também te amo. - Eu peguei na sua mão que estava apoiada em cima da mesa. - Mas eu estou muito magoado com tudo. Eu não consigo esquecer. Eu tenho medo de deixar as coisas acontecerem porque foi isso que eu sempre fiz e eu sempre acabei machucado. - Eu olhei pra baixo com medo da sua expressão.

— Eu já te pedi perdão, eu não sei mais o que fazer, a única coisa que eu quero é ficar contigo. - Ele apertou a minha mão de volta e seus olhos estavam brilhantes.

— Eu sei, eu sei. Mas não é fácil assim. Eu não quero te proibir de chegar perto de mim, eu só... eu só quero mais um tempinho pra pensar bem em tudo isso. Pra ter certeza do que eu realmente quero. - Eu procurava as palavras certas para não deixá-lo mais triste.

— Eu prometo, Frank, que se você me der mais uma chance, eu nunca mais vou te magoar. Não vai ter nada no mundo que me faça desistir de você. Você pode precisar de mais um tempo, mas eu já tenho certeza. - O seu tom de voz mudou e agora estava incisivo.

— Gee, eu não duvido de você. Eu não duvido do que você sente por mim e que é isso que você realmente quer. Eu te conheço muito bem, esqueceu? - Eu usei um tom provocador.

— Se você falar isso mais uma vez, eu vou fazer você provar. - Ele devolveu a provocação e riu logo em seguida.

— Hahaha! Vamos fazer assim, você pode chegar perto de mim, pode me tocar, eu nunca proibi isso. Mas por enquanto nós vamos seguir como amigos, pode ser? Eu realmente quero pensar mais um pouco. - Eu olhei nos olhos e apertei sua mão novamente.

— Eu não tenho muita opção de escolha, né? Mas eu acho que eu mereço. - Ele deu de ombros.

— Eu só não vou dizer que concordo porque eu não quero apanhar de você de novo. - Eu ri,

— Seu idiota! - Ele também riu.

Ele levantou para ir embora, então abriu os braços e eu rapidamente cedi ao abraço. Meu nariz estava na altura do seu pescoço e ele estava tão cheiroso, seus cabelos estavam macios e tocavam meu rosto. Fechei os olhos e aproveitei aqueles segundos como se eu fosse demorar para poder abraçá-lo novamente. Eu podia sentir a sua respiração perto da minha orelha e sabia que ele estava fazendo o mesmo. Meu coração começou a ficar mais acelerado do que já estava e eu percebi o perigo daquele abraço, então o soltei. Pude ver a decepção no seu olhar por ter interrompido aquele momento.

— Até daqui duas semanas? - Tentei disfarçar.

— Até daqui duas semanas, Frankie. - Ele sorriu e saiu do meu quarto sem olhar para trás.

Broken Clock [FRERARD]Onde histórias criam vida. Descubra agora