1- Ninguém Pediu a Sua Opinião, Garota Masoquista

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Quarta- feira.

Metade da semana.
Quarta- feira.

Só faltam dois dias.
Quarta- feira.

E o meu despertador tocou como na segunda e na terça. Acordei com a pior dor de cabeça possível. Isso sempre acontecia, eu ficava lendo até tarde e quando me dava conta já eram 04:00 horas da manhã e eu tinha apenas três horas para dormir. Ignorei o latejar constante e desliguei o despertador.

Precisava de um banho demorado para me livrar de todo o nervosismo que eu tinha. Apenas dezesseis anos e tantas provas por semana! Era tão justo quanto ser amordaçada e ser desafiada a dizer "paralelepípedo". Naquele dia a prova era de química, e eu era péssima em química! O nervosismo me consumia de dentro para fora, de fora para dentro. Eu havia estudado tanto, mas nas atuais circunstâncias aquelas fórmulas todas eram borrões na minha cabeça! De quê havia adiantado engolir o caderno?!

Respirei fundo e entrei no chuveiro, sem pensar que tinha que esperar a água esquentar um pouco, e o choque frio nas minhas costelas nuas me fez dar um pulo.

Coloquei o uniforme apagado e brega da escola; calça azul e camiseta branca. Não tive nem paciência de pentear direito meus cabelos, então apenas passei o pente e os amarrei em um rabo de cavalo ridículo. Passei o rímel nos olhos, o gloss e o blush, pena que exagerei no último e fiquei parecendo uma palhaça de circo de segunda mão, porque até palhaço estava mais bem vestido que eu.

Peguei minha mochila e saí pela porta do quarto, tateando até a cozinha, meus olhos estavam quase fechados, parecia que o rímel estava funcionando como duas âncoras bem eficientes.

- Bom dia, filha! Você está passando bem? Tá com uma cara de morta!- Minha mãe, dona Renata sempre tão animadora! Ela sabia que na quarta- feira era o meu dia de dar uma olhadinha nas tendências de moda no computador e sair vestida à caráter. Mas eu não estava com cabeça pra isso hoje.

- Tô ótima, mãe...- Menti parcialmente, afinal a dor de cabeça já havia passado, mas com os olhos fechando e as mãos apoiando a cabeça, eu deveria parecer péssima.

Minha irmã desceu as escadas, vinda do quarto dela, vestida toda de cor- de- rosa, com uma faixa branca no cabelo, a bolsa azul pendia do seu ombro esquerdo. Ela ficava ótima de rosa, mas suas bochechas estavam tão vermelhas quanto as minhas, só que as dela eram propositalmente.

- Bom dia, família! Dormiram bem, docinhos?!- Ela colocou a bolsa no sofá e sentou ao meu lado.- Que isso, maninha? Tentando imitar meu make?

- Deus me livre, não! Exagerei sem querer...- Disse fazendo um café bem forte para mim, era tudo que meu corpo exigia para passar o dia. Ou só o quê eu o forçava a comer, eu podia tudo, menos engordar!

- Tá doente, tá? Você nunca se vestiu tão mal!- Disse preparando o próprio café.

- Eu me visto assim todos os dias, é o uniforme, Priscila...- Revirei os olhos.

- Ah, não, maninha! Levanta já dessa mesa e vai fazer um make decente. E coloca esse cabelo mais para cima, parece que o prendedor nem tá funcionando direito! Vem eu te ajudo!- Ela largou o café de lado e me arrancou da cadeira, me empurrou escadas acima até meu quarto.

Minha irmã tinha um ano a mais que eu, ela vivia num mundo cor- de- rosa, era inteligente e vivia tendo namorados e amigas novas. Eu tinha inveja dela, apesar de ela sempre me consolar dizendo que eu também era assim, tirando a parte dos namorados.

Ela limpou meu blush com o removedor, deixando do jeito que eu gostava, aumentou a quantidade de rímel em meus olhos e colocou base nas minhas espinhas, e inesperadamente deu pequenos tapinhas no meu rosto, que incomodavam mais do quê doíam.

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