Contei tudo a ele. Tim- tim por tim- tim.
E ele ouviu. Era aquele tipo de cara atencioso que você sente que pode passar horas contando a sua vida todinha e no fim da história ele vai estar ali parado; olhando pra você com a mesma cara atenciosa do começo de tudo. E ainda faz perguntas e repete algumas partes para ter certeza que não esqueceu nada para no fim te encher de conselhos.
Estava deitada com a cabeça em seu colo, lágrimas rolavam no meio da história, ele não parecia se importar.
- Foi isso?
- Foi.
- Melhor você ficar um tempo afastada dele. E caso algum dia você fale com ele, simplesmente se abra, conte tudo que você sente. Mas não se deixe abater por isso, minha Pequena. E da próxima vez que ele te beijar à força, me chama que eu desfiro alguns golpes de judô.
- Você sabe lutar judô?
- A gente aprende de última hora...
Rimos e eu consegui levantar do colo dele, me escorei na cabeceira junto com ele.
- Lucas?
- Hum?
- Como você sabia que eu tinha chegado em casa chorando quando me mandou aquela mensagem?
- Bem... Às vezes quando alguém precisa, o destino cuida de te colocar na janela. E dessa vez foi preciso.
Sorri e escorei a cabeça no ombro dele. Notei a semelhança entre nossos pés enquanto olhava para frente; não havia nada de semelhante. Eu usava sandálias, ele All Star preto. Meus pés eram virados um para o outro, o direito pra o lado esquerdo e o esquerdo para o lado direito*, os dele eram opostos, virados para fora**. Enquanto que nossos pensamentos eram tão parecidos e tão complexos...
Dei uma risadinha por estar observando nossos pés enquanto tinha um garoto lindo ao meu lado. Às vezes pessoas deprimidas são inocentes demais.
- Ísis?
- Que foi?!- Respondi de um salto tirando a cabeça de seu ombro. Havia levado um susto.
- Tava com a cabeça onde, mocinha? Enfim, não importa. É que eu preciso ir agora. Já tá meio tarde. Meu pai não aprova que eu volte para casa tão tarde.
- Ei! Não quer ver um filme? Sessão de cinema na casa da garota deprimida?
- Acho que não, preciso mesmo ir.
- Tudo bem.- Fiz beiçinho e cruzei os braços enquanto ele levantava da cama e ia em direção à porta.
- Chata.- Disse dando uma risadinha e voltando a sentar na cama.- Que filme a masoquista quer ver?
Sorri ao ver que aquilo era um sim.
- Terror! Lógico!
- Nunca vi uma patricinha gostar de filmes de terror...
- Elas gostam. Às vezes. É que ficaria meio clichê sofrer por amor e assistir filme romântico.
- E mais clichê ainda com um amigo ao lado...
Sorri meio amarelo. Na realidade eu não gostava que ele usasse a palavra 'amigo', era oque nós éramos, na verdade, mas isso estragava tudo! Meninos precisam de lições de romance...
Levantei da cama e coloquei o primeiro filme de terror que encontrei ao lado da estante. Antes de apertar o play, me veio algo à cabeça.
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Livros, Cafés e Amores
Teen FictionÍsis não é a garota mais popular, nem a mais bonita, mas tem um garoto que gosta dela à seus pés, é repleta de amigos, apesar de preferir passar o dia na biblioteca. Certo dia, ao fazer uma de suas visitas diárias à ela para ler, encontra um rapaz...