14- E Dessa Vez É Pra Sempre

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Era o Lucas.

Como era possível ele desobedecer o pai e ainda ser autorizado a ir à escola?

E ainda mais a minha escola.

Ele sorria, já eu não conseguia. Estava com uma expressão horrorizada, que era uma mistura de medo, alegria e surpresa.

- Sente- se, Ísis.- A professora chegou na sala, ela era rígida até demais para o meu gosto.- Hoje vou entregar as provas de química.

Ah, que legal! Esse dia estava me saindo pior do que tudo. Sentei no meu lugar, que propositalmente ou não, estava em frente ao Lucas, como ele havia conseguido trocar de lugar com o Mário eu não sabia, afinal ele sempre adorara o lugar porque era rodeado de bagunçeiros, e o Lucas não fazia o estilo bagunçeiro.

- Surpresa?- Ele cochichou próximo até demais do meu pescoço, provocando- me um arrepio quase bom demais.

-É. Estou.- Disse sem encarar ele. Na verdade eu queria ignorar meu grande amor, mas e a coragem disso? Eu tinha medo do pai dele, e eu nunca desobedeceria meu pai se ele impusesse a mim essa regra.

- Você tá bem? Parece meio fria, ou é impressão minha?- Ele repousou a mão no meu ombro, tentando olhar no meu rosto que eu desviava. Pra que isso da mão no ombro, gente? Não bastava falar comigo a uma distância considerável?

- Ísis! Ísis, é a terceira vez que repito seu nome! Quarta agora!- Era a professora, com a prova na mão. Segurando um pedaço do meu coração, levantei e fui até ela, pelo menos ela havia me livrado de responder à pergunta dele. Agora a prova estava repousada sobre a mesa, eu sabia que valia 10, mas a nota que parecia de longe...

- Ah, meu Deus! Como assim? Não é possível eu ter tirado isso! Meu Deus!- Falei um pouco alto demais, todos os alunos agora levantavam para ver qual era a nota que impressionara até a mais nerd da sala.

- Okay, sejamos francas que você não deveria estar tão feliz pois já está acostumada com essas notas. E nem todos os seus colegas precisam saber que você tirou dez. Sentem- se todos!- A professora, como sempre, estraga prazeres, mas mesmo assim, continuava feliz com a minha nota.

E quando sentei e encarei sem querer o Lucas, como sempre estava acostumada a fazer com o Mário, ruborizei porque ele sorria daquela forma estonteante. Eu realmente quis sorrir pra ele. Mas não deu, só fiquei vermelha e franzi os lábios em algo que deveria ter ficado estranho.

- Ei, parabéns!- Ele disse todo feliz.

- Obrigada.- Abri o caderno e comecei a escrever qualquer coisa, tudo pra não falar com ele.

- Ísis, está brava comigo?- Ele perguntou em uma espécie de voz ofendida. Dessa vez não controlei meu sentimento, será que ele não via que eu não queria conversar?

- Olha Lucas, não quero falar com você! Me deixa em paz, garoto! Que saco!- Agora eu o encarava, com a testa franzida e as sobrancelhas arqueadas, em minha careta de raiva. Ele percebeu. Baixou os olhos e não me encarou mais. De repente senti um remorso... Horripilante. Deixei minha postura se desfazer e o ar sair de meus pulmões enquanto encarava o chão numa tentativa desesperada de desmanchar a careta de raiva.- Desculpa, não quis ser má. Mas às vezes você só precisa...

- Tudo bem, não precisa se explicar. Parece que para você tudo foi só um passatempo, mas pra mim não. E agora que já conseguiu oque queria, desistiu de mim. Entendo.

- Conseguiu oque? O quê eu queria?- Perguntei. Não estava o entendendo, parecia que estava falando jamaicano.

- Você faz ideia de tudo que eu tive que passar com meu pai para que ele me deixasse vir pra essa escola? Ele me bateu. E eu fiz tudo isso pra não ficar longe de você. Fiz amizade com a Larissa e fiz ela me ajudar a você vir pra escola e me ver. E chegando aqui você faz isso comigo. Mas tudo bem. Você é como aquelas garotas dos filmes de patricinhas; esquecem dos amigos quando querem. E porque não esqueceria de mim, não é?- Ele estava insinuando que ele não era um amigo? Era tudo mentira aquilo, não era? Eu não era assim, era?

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