5- Eu nunca Mais volto Naquela Cafeteria

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Eu nunca mais volto naquela cafeteria.

É sério! Só no sábado quando sua cabeça não está ocupada com provas é que você percebe as burradas que fez. Me declarar para o Luan foi a pior delas...

Ai, eu sou tão boba!

Agora eu estava com vergonha de olhar pra cara do Lu! Imagina, aparecer na cafeteria e tentar não ficar sorrindo o tempo todo ao olhar pra ele sabendo o que está acontecendo... Impossível!

Por isso essa decisão; nunca mais voltaria naquela cafeteria.

Precisava de um lugar novo para ler em paz e silêncio, além do meu quarto, mas nele eu era interrompida o tempo todo pela minha adorável família!

Uma hora era a Priscila querendo saber da minha vida, outra minha mãe só pra perguntar oque eu estava fazendo, outra meu irmão pra pedir desculpa pela milésima oitava vez por ter feito eu escrever a mensagem pra menina.

E assim estragavam minha leitura.

Liguei para a Jordana, minha colega de classe que lia tanto quanto eu e devia saber um bom lugar pra ler em BH.

- Alô?!
- Jo, oi! Aqui é a Ísis!
- Oi, Ísis! O quê aconteceu?!
- Nada... Na verdade, eu só queria perguntar se você sabia de um bom lugar pra ler em BH?
- A cafeteria do Leo, você sempre ia lá... É um ótimo lugar...
- Ah, sim... Mas aconteceram umas coisas e eu não volto mais lá, não! Outro lugar, você sabe?
- Sim, tem a Biblioteca municipal...
- Obrigada, Jo.
- De nada, tchau!

Desliguei e comecei a pensar em um livro para reler, um romance pra variar, num livro as pessoas não tem vergonha de se declarar e olhar uma pra cara da outra!

Queria ler Love Story, seria uma boa escolha... Vejamos ele estava lá na estant... Na cafeteria do Leo! Droga, ficara tão atordoada que esquecera meu livro na cafeteria... O jeito era ir lá buscar, eu não ia ficar sem meu livro preferido!

Coloquei uma sapatilha qualquer e uma presilha no cabelo, ia voltar rapidinho, tão ligeiro que o Luan não ia nem reconhecer meu rosto! Quase igual o Flash.

                            

- Ísis! Bom te ver aqui...- Disse, da maneira mais natural possível. Como ele conseguia?

E pelo visto eu não tinha as habilidades do Flash...

- Ah, pois é...

- Café puro? Cappuccino? Expresso?

- Não, não... Vim apenas buscar meu livro, o esqueci ontem aqui.

- Ah, claro...- O desânimo em seus olhos era evidente, de debaixo do balcão ele puxou meu livro.

- Obrigada! Até outro dia...

- Eu li.

- O quê?

- O livro... Esse aí...

- Ah... Bom, não é?

- Triste, mas sem dúvida um dos melhores que as pessoas já esqueceram aqui.

- Aposto que não foram muitos, pelo movimento...

- Não joga na cara, vai! Até que nem foram tão poucos assim...

Assenti e acenei, saindo pela porta o mais rápido possível, dessa vez com o livro na mão. Até que não foi tão ruim assim... Foi?! Agi normal, ele também... Eu acho...

Ah, quer saber? Pelo menos não ficamos olhando um pro outro com aquele olhar de "eu seeeeeei!"

Foi melhor do que eu esperava. Mas mesmo assim, a biblioteca seria meu ambiente de leitura naquela tarde.

Cheguei em casa e larguei o livro na cama, enquanto me arrumava só um pouco para ir à biblioteca... Nunca se sabe que aparência tem as pessoas que vão na biblioteca de BH...

                              

Eu não sabia mesmo qual era a aparência das pessoas.
Ai, Ísis, se você soubesse! Podia ter se vestido muito melhor!

Sentado em uma mesa perfeita, coberta de livros de romance e mistério como Nicholas Sparks, Jane Austen, Edgar Allan Poe (meu preferido), estava um garoto mais ou menos de 18 anos, talvez 17. Ele tinha uma barba não tão rala e um cabelo encaracolado e bagunçado, quando meus olhos toparam com ele... meu coração perdeu uma batida e quase saiu pela boca.

Como sentar naquela mesa?! Precisava de uma estratégia...

Fiz meu cadastro com a moça (que estava mais interessada no moço da mesa ao lado que em escrever meu endereço, por esse motivo, perguntou três vezes qual era o número do meu apartamento. Eu Já tava a ponto de escrever na testa dela e alcançar um espelhinho...

Mas finalmente eu pude colocar meu plano em prática.

Fui até a mesa do rapaz fingindo desinteresse, como mera leitora em busca de um livro nas prateleiras de trás da mesa. Peguei o primeiro livro de Austen que encontrei.

- Com licença, esse livro é bom? Percebi que você curte Austen.

Ele nem desviou os olhos das folhas do livro que lia.

- É... deve ser, com certeza...
Okay, Ísis, essa não foi sua melhor estratégia.

Peguei um livro da própria mesa dele, se fizessem isso comigo eu vinha logo tirar satisfação, com ele, como leitor voraz que parecia ser, devia ser igua... não era. Ele nem ergueu os olhos.
Ísis, senta logo nessa mesa, nada diferente vai funcionar.

Sentei na mesa seguindo minha própria lógica começando a ler um livro dele.

Aí, finalmente ele ergueu os olhos.

- Por que motivo você sentou na minha mesa?

- Sua? Pensei que era da biblioteca... Desculpa, eu saio...

- Não precisa... Mas você entendeu oque eu quis dizer.

Como ele, não ergui os olhos do livro.

- É... Com certeza, deve ser.

Ele me fuzilou com os olhos.
Segura, Ísis.

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