Já fazia uma semana que eu estava de irmão novo.
Quer dizer, já estava velho agora, incomodava bem pouquinho pedindo pra brincar. Mas só de ver a alegria da minha mãe quando o menininho de 3 anos que ela havia adotado pedia alguma coisa, meu coração já dizia que valia a pena aguentar o pirralho.
A Priscila não aguentava. Era volte e meia soltava palavrões quando o menino começava a chorar por alguma coisa, e ultimamente ele só chorava porque a Priscila dava tapinhas agressivos em suas pernas quando ele fazia birra normal de criança.
Eu apenas soltava gargalhadas e o enchia de cócegas. Nem todos tem a minha paciência, viu!
Minha mãe sorria o tempo todo, ainda tinha um fundinho de tristeza no olhar, mas carregava uma expressão mais leve, mais alegre. Adorava passar longas horas com o Matheus. Nome que eu sempre achei lindo!
Estava adorando ter um irmão mais novo.
Mas isso implicava muito tempo, eu não podia mais sair na hora que queria pra tomar café ou ver minhas amigas. Era só no sábado e olhe lá!
Minha irmã contou que quando a mamãe caiu ela gritou colocando a mão na barriga, e a dor não parou tão cedo, ela chorava e soluçava no carro a caminho do hospital, isso porque minha irmã havia logo contado ao meu pai que ela estava sentindo dor e ele preocupado, a levou imediatamente ao hospital. Lá descobriram a notícia.
Logo que saíram do hospital, foram até um lar adotivo, minha mãe estava inconsolável ao lado de minha irmã, a moça do lar pediu para olhar as condições sociais da minha família, depois disse para que minha mãe escolhesse a criança que iria adotar. Mais tarde foi tudo autorizado e meu pai buscou a criança, na hora eu estava chorando em meu quarto.
Minha mãe explicou que o processo da adoção é geralmente muito lento, mas a moça se compadeceu pela situação em que minha mãe apareceu no lar e disse que os processos seguintes ela faria com um pouco mais de tempo, mas que faria tudo certinho, e resolveu deixar a criança conosco antes para alegrar um pouco mamãe.
Fiquei meio chateada por não estar junto com elas nessas situações todas da semana passada, mas logo me senti melhor, afinal agora eu estava e doava muito do meu tempo para compensar...
Mas hoje eu queria sair pra ler na biblioteca, quer dizer... Não só ler... Estava muito curiosa para descobrir mais sobre ele, o Lucas.
- Mãe, eu pensei que, como passei a semana toda brincando com o Ma e fazendo companhia pra vocês, eu podia dar uma saída hoje...
- Onde, minha filha?- Minha mãe estava sentada no chão dirigindo um carrinho velho do meu irmão mais velho que havia sido dado para o Matheus.
- Sei lá... Pensei na biblioteca... Ler um pouco, tomar um café, você sabe...
- Claro, vai. Você também merece um pouco de diversão.
Dei pulinhos e beijei o rosto de minha mãe.
Me arumei em tempo recorde, queria ficar linda para o Lucas, peguei a bolsa com o bilhetinho da biblioteca dentro e saí.
Olhar para aquela mesa da semana passada e ver lá o cara da semana passada foi como um refresco para pimenta em meus olhos.
Foi a melhor coisa da semana.
Sentei novamente na mesa em frente a ele, fazendo o maior estrondo com a bolsa na tábua. Ele não teve como ignorar isso, apenas deixou o livro de lado e sorriu.
- Então você descobriu meu nome...
- Você é um bobo mesmo. Ninguém nunca consegue esconder algo de mim por tempo suficiente para que eu fique curiosa.
- Você sabe que eu queria que você descobrisse meu nome.
- Então por que não falou?
- Para tornar as coisas mais interessantes. Ou você voltaria a realmente querer me encontrar novamente se soubesse tudo sobre mim?
- Iria querer sim! E você prometeu me contar sobre você se eu descobrisse seu nome.
- E eu tenho certeza se você descobriu? Você pode estar blefando... Querendo que eu conte sobre mim e de repente solte meu nome.
- Querido, eu nunca blefo. Seu nome é Lucas Fortunatto.
- Parabéns.
- Agora conta.
- Eu disse que talvez contaria.
- Lucas!
- Você vai querer me ver depois que eu contar?
- Claro, e se eu não quiser, você irá porque eu não contarei sobre mim hoje.
- Tudo bem, eu não sou curioso.
- Mas vai ficar.
Ele ignorou essa frase, apenas sorriu daquela forma encantadora de sempre.
- Nasci aqui em BH mesmo, tenho 17 anos. Minha mãe se chama Fabiana e meu pai Júlio. Moro na casa em frente à sua, e eu sei onde você mora. E tudo sobre você.
Fiquei de boca aberta, como alguém lindo desse jeito podia morar em frente à minha casa e eu nunca tê- lo visto?! Que horror...
- Por que eu nunca te vi por lá?
- Digamos que eu aprecie mais a companhia dos livros do quê das pessoas, quando minha mãe exigiu que eu misturasse esse gosto com a convivência,.decidi vir à biblioteca, e encontrei você.
Sorri e entreguei o papel que a havia roubado da moça da recepção.
- Aqui. Forma de descobrir seu nome.
- A propósito, ótima estratégia.
- Você estava espiando?
- Digamos que observando sua inteligência.
- Para ver se eu mereço sua companhia?- Sorri com a sobrancelha erguida.
- Talvez.
Levantei da cadeira e fui até a estante atrás dele, caminhando com o máximo de elegância que eu conseguia. Ele apenas riu para o livro.
- Se está tentando me conquistar, não será dessa forma. Seja verdadeira, Ísis.
Garoto chato. Mas eu também devo ter sérios problemas. Ele era meu vizinho, sabia como eu andava; desengonçada por demais.
Peguei um livro e fui até a mesa pegar minha bolsa.
- Veremos, então.
Saí da mesma forma que ele. Talvez semana que vem eu aparecesse.
Mais feia, desengonçada, da mesma forma da qual ele me conhecia, e pelo jeto, tão bem.
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Livros, Cafés e Amores
Подростковая литератураÍsis não é a garota mais popular, nem a mais bonita, mas tem um garoto que gosta dela à seus pés, é repleta de amigos, apesar de preferir passar o dia na biblioteca. Certo dia, ao fazer uma de suas visitas diárias à ela para ler, encontra um rapaz...