CAPÍTULO 33

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Jess

Quando chego na escola tento ignorar qualquer pessoa que queira falar comigo logo pela manhã. Não estou sendo paciente nem comigo mesma, quem dirá para as outras pessoas que normalmente só querem jogar conversa fora, o que no momento é a última coisa que quero fazer.

Vou para o meu armário e pego alguns livros que eu vou precisar para a próxima aula, e quando me viro após fechá-lo, dou de cara com a Melissa me encarando com um sorriso um pouco assustador no rosto.

- O que aconteceu pra você estar com essa cara? - Pergunto, rindo da expressão dela.

- Não aconteceu ainda, porém, algo vai acontecer, - ela diz super animada.

- E o que vai acontecer?

- Bom, estava conversando com a Anne e com mais uma galera e decidimos fazer algo como um luau na praia esse final de semana, - ela diz, como se estivesse se segurando para não explodir.

- E porque você está tão animada assim?

- Não é óbvio? Faz séculos que todos nós não saímos juntos, essa seria uma ótima oportunidade pra gente se juntar e relembrar dos velhos tempos.

Olho para ela desconfiada. Melissa não é bem assim com amigos, tem alguma coisa que ela não está me falando.

- Melissa, nós todos sabemos que você só fica animada assim quando vai se encontrar com um menino, e um encontro apenas com os amigos não me parece ser algo que você ficaria tão eufórica desse jeito.

Melissa solta um pouco de ar e se rende.

- Tudo bem, não é só um encontro de amigos, nós convidamos algumas outras pessoas, - ela diz. - Mas eu juro que não foram muitas, ainda sim vai ser uma festa pequena, na verdade nem sei se posso chamar de festa.

Olho para ela nada animada sobre essa festa. Não estou com vontade nenhuma de sair, ainda mais pra um lugar que Jay ou Garcia possam estar, porque eu já sei que essas "não festas" começam com apenas algumas pessoas, mas quando nós nos damos conta a escola inteira está lá.

- Sei bem que tipo de festa é essa Melissa, e eu não sei se quero ir.

- Por favor Jess, vamos lá, você acabou de terminar o namoro, tem que se divertir um pouco, - ela diz, tentando me convencer.

- Não é desse tipo de diversão que eu estou precisando agora, - digo, e o sinal toca. - Agora eu tenho ir para aula, nós nos falamos depois.

- Pelo menos pense sobre isso Jess, vai ser bom pra você, - ela diz.

- Eu duvido muito, mas não se preocupe, eu vou pensar, por você, - digo, mandando um beijo pra ela e seguindo meu caminho para a aula.

Hoje, diferente dos outros dias, passa rápido. A aula de química passa voando, assim como a de geografia, e agora estou indo em direção a aula de artes, a aula que eu sempre me sujo de tinta e fico horas no banheiro tentando me limpar.

- Bom dia alunos, hoje faremos algo diferente... - o professor começa a falar, de uma maneira lenta e paciente.

Começo a mexer na ponta dos meus cabelos, tentando me entreter enquanto ele explica o que vai acontecer nesta aula. Ele fala por dez minutos algo que poderia ter falado em dois, o que é basicamente pintar uma tela do jeito que nós quisermos, com o intuito de expressar nossos sentimentos de uma maneira diferente.

Eu me sento diante de um quadro e observo a tela branca que me encara de volta. A analiso por tempo demais, sem saber o que pintar.

- Não está se sentindo inspirada? - Alguém me pergunta.

Olho para o lado e vejo um homem de cabelos tão escuros quanto seus olhos falando comigo. Ele não me é estranho, na verdade talvez eu até saiba quem ele é, mas preciso conhecê-lo mais para ter certeza. Sua pintura já está tomando forma, enquanto a minha ainda está sem cor e vazia.

- Hoje não é meu melhor dia, - respondo.

- Não? Então isso é estranho, porque normalmente esses dias são os melhores para se sentir inspirada, - ele diz com um sorriso nos lábios.

- Não para mim aparentemente.

- Você só tem que se esforçar. - O menino se levanta e vem até mim, então aponta para a tinta pedindo permissão para pega-la, e eu respondo que sim.

- Então agora você vai pintar por mim? Por que eu agradeceria muito se fizesse isso, - digo.

Ele ri e se posiciona do meu lado.

- Não, não vou, quem vai pintar é você. Tudo o que você precisa fazer é começar.

Ele segura a minha mão e a posiciona no pincel, então o molha na tinta e encosta o pincel no quadro, fazendo o primeiro trilho de tinta na tela.

- Pronto, agora é só fazer o resto. Já está inspirada?

Rio dele e faço que sim com a cabeça.

- Obrigada por me ajudar com o início, mas acho que ele já está perfeito assim, é tudo o que eu sinto no momento.

Pelo menos é o que não está entalado na minha garganta.

- Aposto que não é só isso, Jess.

- Talvez seja... - paro de falar quando percebo que ainda não sei o nome dele, mas ele sabe o meu. - Eu não sei seu nome.

- É Davi, prazer, - ele estende a mão para me cumprimentar.

Davi? Talvez eu saiba quem é Davi. Davi é o menino que Jay brigou há alguns meses atrás. Foi antes de nós começarmos a namorar, e os dois se odeiam até hoje. E por mais que eu não esteja mais com Jay, acho melhor ficar longe desse menino, não acho que ficar perto dele seja algo bom.

- Prazer, - o cumprimento e me levanto do banco. - Bom, como já terminei minha pintura acho melhor ir, foi uma sorte que eu não me sujei dessa vez. Você não tem ideia de como isso é raro.

- Na verdade, eu sei, já tivemos algumas aulas juntos.

Tinha me esquecido dessa parte. Eu realmente preciso começar a notar mais as pessoas.

- Então até a próxima aula, - digo enquanto pego minha tela praticamente vazia. Mas não me importa o que pensem, a aula era sobre sentimentos, e como eu estou sentindo tanta coisa que não consigo tirar de mim, isso é tudo que vai virar pintura por enquanto.

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Diga meu nome | Renato Garcia (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora