EPÍLOGO

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Jess

Nós falamos com nossos pais, mas desta vez falamos com calma. Falei que não queria a empresa e que Garcia também não. Na verdade ele queria fazer faculdade de escrita criativa. Quer continuar escrevendo seus poemas profundos que sempre me fazem chorar.

Mas nossos pais não levaram aquilo aquilo de uma maneira tão pacífica como gostaríamos, mas algumas semanas depois, comigo e com o Garcia nos vendo todos os dias, eles acabaram se acostumando com a ideia quando viram como nós dois estávamos felizes.

E nossos pais também acabaram se perdoando e concordam que nunca mais iriam trabalhar juntos, isso fez com que todos se acalmassem e percebessem que tipo de buraco todos nós estávamos cavando. E agora estamos o concertando novamente. O clima ficou tão mais sereno e palpável que até mesmo a empresa está se recuperando. Está sendo aos poucos, com calma, mas não estamos mais com a corda no pescoço como antes estávamos.

Fiquei sabendo pela Jasmim que a Melissa e o Jay terminaram, e que não sabe o que está acontecido com os dois agora, mas eu só espero que estejam segundo com a vida deles do mesmo jeito que Garcia e eu estamos.

Depois das férias acabarem - que faltam apenas uma semana para acabar - nós finalmente iremos para a faculdade. Pensei sobre o que eu queira durante as férias inteiras, e a resposta não foi tão difícil de descobrir. Sempre gostei de física. Garcia sempre achou estranho eu gostar de coisas tão distintas, como literatura e física, mas eu não me importo, gosto de ver como as regras do universo funcionam e como as coisas podem mudar. Por dentro e por fora. E, para felicidade de todos, nós vamos para a mesma faculdade. Quase não conseguir fazer minha matrícula, já que acabei decidindo o que eu queria muito tarde, mas no final tudo deu certo.

Mas, por agora, estamos a caminho do aeroporto para buscar o pai do Garcia que finalmente está voltando para casa. Ele passou três semanas com a ex-mulher e não faço ideia do que os dois resolveram neste período, mas eu estou tão preocupada quanto o Garcia sobre esta chegada. Não sabemos de muita coisa, e o Garcia preferiu saber das novidades quando o pai chegasse, já que, dependendo da situação, poderia ser algo muito pesado para ser falado pessoalmente.

Quando chegamos, Garcia estaciona o carro e nós vamos até a entrada em silêncio.

- Não precisa ficar tenso, tenho certeza que seu pai vai trazer notícias boas, - tento o encorajar.

Garcia aperta a minha mão forte e nós dois entramos no terminal para procurar o pai dele, que a esta hora já deve ter chegado.

Depois de dez minutos procurando pelo Levi, eu finalmente o vejo e cutuco Garcia para irmos até ele.

- Ele está ali, - digo.

- Finalmente.

Ao ponto que nos aproximamos dele, me sinto cada vez mais tensa, assim como Garcia. E fico praticamente paralisada quando vejo uma mulher de cabelos cor de mel saindo de trás de Levi e segurando a sua mão.

A mulher tem olhos da mesmo cor que os de Garcia, e o sorriso é praticamente o mesmo. Mas não vejo Garcia sorrindo agora.

Ele trava do meu lado e sinto meu sangue parar de circular na minha mão pela força que ele a segura.

- Minha mãe, - ele diz, focado nela.

A mãe dele sorri como se não sorrisse a anos, e talvez essa realmente fosse a primeira vez em anos.

Quando eles venham perto de nós, ninguém fala nada. E também não me atrevo a abrir a boca agora.

Posso jurar que consigo sentir o coração acelerado do Garcia batendo daqui. E depois de tudo o que ele passou, eu entendo.

- Renato, você está... - a mulher começa, com sua voz rouca e fraca, mas Levi a interrompe.

- Nós o chamamos de Garcia agora, - ele corrige.

Então um sorriso surge nos lábios do Garcia, e vejo seus olhos se encherem de lágrimas.

Como o silêncio ainda prevalece, decido me apresentar e dar boas-vindas à mãe dele.

- Eu sou a Jess, Sra. Julia, prazer, - estico meu braço para cumprimentá-lá. - Se soubesse que viria teria trazido alguma coisa para recebê-la com mais carinho.

- Na verdade a minha vinda foi uma surpresa para todos, - ela olha para o ex-marido e o filho. - Mas é que eu precisava ver meu menino.

Os lábios de Garcia começam a tremer e vejo que se ela der um passo a mais para a direção dele, ele vai explodir de choro.

- Filho, - ela estica os braços. - Eu posso te dar um abraço?

Fico tão apreensiva que sinto a ponta dos meus dedos coçarem. Não sei se Garcia ainda guarda mágoas da mãe dele, mas não acho que guarde. Não acho que ele ame alguém mais do que a mãe dele, mesmo depois de tudo que aconteceu.

Ele não responde nada, apenas da um largo passo até os braços da mãe, e instantaneamente começa a guitarra igual a um bebê, mas sei que, desta vez, é de alegria.

- Me perdoe por tudo, - Julia diz, também chorando. - Eu nunca quis fazer aquelas coisas, nunca as faria se eu estivesse sóbria. Eu sei que não posso culpar a bebida ou o que for, e é por isso que eu não espero que você me perdoe, mas eu prometo que agora eu estou bem, estou completamente sã, e sei que tudo o que você fez foi me ajudar. Eu não sei onde estaria agora se não fosse por você, filho.

- Eu te amo, mãe. Eu te perdoo.

Eu e Levi ficamos os observando se abraçarem e conversarem por vários minutos, até que finalmente vamos embora e toda aquela tensão e ansiedade que estávamos sentindo é substituída por felicidade e inquietação.

Na próxima semana, eu e Garcia passamos tanto tempo com as nossas família que quase nos fez desistir de ir para a faculdade, mas alguém tinha que construir nossos futuro, e não podia ser ninguém além de nós mesmos.

Sinto que eu e meus pais nunca estivemos tão próximos como agora. É como se tudo que aconteceu entre nós nunca tivesse existido, e este é o melhor tipo de perdão que pode existir. Pelo menos é o mais genuíno.

A Jasmim também fez parte da nossa família durante este período. Infelizmente, ela não vai para a mesma faculdade que eu e o Garcia vamos, mas a faculdade dela é perto o suficiente para que nos vejamos todo fim de semana.

Quando chega a hora de nós dois irmos, não podia fazer outra coisa a não ser chorar.

Criar laços extremamente fortes com uma ou algumas pessoas é algo realmente perigoso, porque, as vezes, essas horas que temos que nos separar são um dos momentos mais difíceis da vida. Mas esta dor vale a pena, porque nós sempre teremos a certeza de que eles continuaram no nosso coração não importa onde estivermos.

Nós nos despedimos deles e damos mais um passo para o resto das nossas vidas turbulentas e cheias de problemas, mas que sabíamos que valeria a pena se atravessássemos aquilo juntos, com amor e paciência. 

FIM

Diga meu nome | Renato Garcia (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora