CAPÍTULO 46

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Garcia

Acordo com a pancada forte de um travesseiro aterrizando sobre meu rosto. Me levanto e abro os olhos com dificuldade. Jess me encara tão brava que aposto que preferiria jogar um pedaço de cimento no meu rosto ao invés de um travesseiro macio.

Enxugo meus olho e pisco algumas vezes para desembaçar a visão, então consigo vê-la dando voltas pelo meu quarto sem paciência.

- Qual é o seu problema, Garcia? - Pergunta ela jogando outro travesseiro no meu rosto.

- Que porra você está fazendo aqui, Jess? - Pergunto, me defendendo do segundo travesseiro e ignorando seu comentário.

- Você é um babaca. - Jess cruza os braços e olha pra mim mexendo a cabeça. Com seus braços cruzados, o decote do seu vestido destaca seus seios, os fazendo ficar ainda mais salientes e visíveis.

- Isso não deve ser novidade pra ninguém.

- Porque você não foi pra escola hoje? - Ela pergunta alto.

- Pode ficar tranquila que isso não é da sua conta.

Jess larga sua bolsa sobre a cadeira no canto do quarto e retira as cobertas do meu corpo, me obrigando a levantar. Ao perceber que eu estava dormindo sem camisa, Jess encara meu abdômen por alguns breves segundos, mas logo volta à realidade.

- Fale comigo direito, você sabe que horas são?

- Hora de alguém ir embora do lugar que não foi chamada, talvez?!

- De acordo com o seu pai eu sou sempre bem-vinda aqui.

- Eu não sou meu pai, e de acordo comigo você não é bem-vinda aqui.

Jess respira fundo e olha pela janela. A luz do sol reflete nos seus olhos verdes e os deixa ainda mais claros. Seus lábios se pressionam um contra um outro, mas logo se relaxam e tornam ao seu formato natural.

É claro que isso não é verdade, é claro que ela é bem-vinda aqui como ela sempre foi.

Eu me levanto e vou até o armário para pegar uma blusa antes de continuarmos essa briga que eu ainda não sei o porquê de ter começado.

- O que aconteceu? - Pergunto quando um pouco da raiva de nós dois se dissipa ao menos um pouco.

- Ela não viu o nosso rosto, mas Melissa se lembrou que eu fiquei por último e perguntou se era eu, e eu obviamente menti, de novo. - O rosto de Jess fica triste e levemente cansado. Ela olha pra mim e caminha até se sentar na minha cama.

- E isso te deixou brava?

- Não Garcia, não foi isso que me deixou brava. Eu já esperava isso, mas não esperava que você me abandonasse neste dia e me deixasse sozinha. Você também estava lá, também tinha que ter ido hoje.

Por mais que Jess esteja claramente brava comigo, sua voz sai como se estivesse exausta, mesmo que seja firme.

Eu fecho a porta do guarda-roupa e paro na sua frente. Os braços dela continuam cruzados, e por mais que estamos discutindo algo relativamente sério, tudo que eu consigo fazer é encarar seu decote.

- Eu tive motivos para não ir hoje, Jess, - me defendo.

- Ah é, me desculpa, me esqueci que você é um verdadeiro covarde, - ela grita e se levanta.

- Covarde? Você não sabe de nada do que acontece na minha vida, Jess.

- Não sei? Então estou errada se disser que você faltou aula porque não quer nada com a vida a não ser festa e diversão?

Diga meu nome | Renato Garcia (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora