Diga meu nome | Renato Garcia (Concluída)

CAPÍTULO 53

Garcia

Percebo que ficamos abraçados muito tempo quando o sinal toca. Abro meus olhos e desencosto minha cabeça do conforto do ombro da Jess. Olho para ela rapidamente e a pego me olhando de um jeito diferente. Seus olhos estão concentrados, mais brilhantes do que antes, e agora com menos ódio e mais de alguma outra coisa.

Vou até minhas roupas ainda molhadas e as visto com pressa, e quando olho, Jess também já está vestida.

- E agora? - Ela pergunta baixo, apontando para o corredor cheio de alunos.

- Pode sair primeiro, depois eu vou, - respondo.

- Tudo bem.

Não sei o que ela está pensando, mas seu comportamento está diferente. Sua voz está fraca e ela quase que paciente, o que ela normalmente não é. É quase como se ela estivesse pensando em coisas demais dentro dela para reagir de forma externa, e acho que eu entendo isso, porque talvez eu esteja do mesmo jeito, já que o que aconteceu agora nunca havia acontecido antes.

Jess vai até a porta e olha para mim antes de sair, então a fecha novamente e, já que o melhor a se fazer é esperar alguns minutos até sair, eu encosto em uma das mesas para, eu não sei, pensar.

O que acabou de acontecer aqui? O que fizemos agora foi diferente do que normalmente acontece. Primeiro que eu pedi desculpas a ela, o que com certeza não estava nos meus planos. Mas quando eu vi aqueles olhos, aquela pessoa, eu não pude fazer outra coisa. Ela merecia aquilo e eu estava sendo injusto com ela, algo que eu não quero que aconteça mais.

E agora o sexo, que foi algo totalmente inesperado. Pelo menos daquele jeito, algo tão diferente e único, talvez até mesmo peculiar. Éramos apenas nós, mais ninguém, sem outros pensamentos ou seres externos para nós atrapalhar, seja a chuva, uma escola cheia de gente ou qualquer outra preocupação. Foi quase estranho, mesmo que parecesse a coisa mais normal e certa do mundo.

Quando finalmente decido sair da sala, dezenas de alunos começam a entrar e a bloquearem a saída. O que por um lado é bom, já que ninguém estranhou por eu estar sozinho aqui antes, mas não posso ignorar o fato de que se tivéssemos ficado aqui por mais cinco minutos, toda essa gente iria nos ver.

Vou no banheiro e tento me ajeitar o mais rápido que eu consigo. Todas as pessoas já foram para suas salas, e eu já perdi aulas demais para ter o luxo de faltar mais uma agora. Além do mais, tenho que deixar algum crédito para eu poder faltar no final do ano.

Depois das aulas, chego no refeitório que já está lotado e pego meu almoço. Mas antes que eu possa ao menos me sentar, Melissa aparece na minha frente tão de repente quanto um fantasma. Ela me olha com um sorriso exagerado e me guia até a mesa que está sentada, sem parar de falar.

- Faz tanto tempo que não nos vemos, - diz ela, com um pingo exagerado de inquietação. - Nem preciso dizer que senti sua falta porque você já sabe, né?!

Penso muito na minha resposta, talvez até demais. O que vou dizer a ela? Nós não fazemos absolutamente nada, e eu também não quero fazer nada com ela no futuro. Apenas não quero deixá-la criar falsas expectativas.

- Sei?

- Está na minha cara que sim, - ela diz, passando sua mão e deitando a cabeça no meu braço.

Nós chegamos na mesa e Melissa se senta, mas eu fico parado, em pé, sem saber o que fazer. Jess me olha sem desviar o olhar, quase me dizendo para não sentar na mesma mesa que ela, mas o que eu posso fazer?

Ela volta o olhar para sua bandeja e Melissa me encara esperando eu fazer alguma coisa. Eu olho para as duas, tentando chegar a uma conclusão, mas não há muito o que fazer.