CAPÍTULO 52

4.3K 257 76
                                    

Jess

Acho que estou tendo um déjà vu. Alguma coisa me parece muito familiar nesta cena. A chuva, Garcia se aproximando de mim e me deixando contra a janela gelada, Garcia na mesma sala de aula que eu, Garcia tentando descobrir o que estou pensando ou... ou escrevendo.

Meu sonho! Isso é familiar para mim porque já tive um sonho que era praticamente igual ao o que está acontecendo agora.

Meus olhos correm pela sala inteira tentando analisar a situação. Tudo está muito parecido, exceto que não estamos praticamente sozinhos na escola. A escola está cheia, mas meus pulmões estão completamente vazios de ar.

Ele se aproxima ainda mais de mim, dizendo suas palavras, e eu sem saber o que sentir sobre elas. Gosto que Garcia diga essas coisas para mim, e quase como se ele me considerasse dele, mas talvez ele me considere exclusivamente dele, e não acho que isso está certo.

Não sei o que meu rosto ou meu corpo transparece, só sei que a expressão de Garcia muda. Ele para de se aproximar de mim e fica calado. Suas mãos começam a percorrer meus ombros e meus braços, então chegam às minhas mãos, onde ele as segura com extrema importância delicadeza, quase como se minha mão fosse se quebrar se ele a segurasse com muita força.

- Eu sou um idiota, - ele diz, para a minha surpresa.

Fico calada. Com certeza não esperava por isso, e agora não sei como reagir.

- Eu agi como um idiota perto de você por esse tempo todo, inclusive agora, e não quero que você tenha essa imagem de mim, não quero ser isso, então... eu, eu quero me desculpar.

Garcia está tão ansioso que é quase como se alguém tivesse o ameaçando para pedir desculpas para mim. Percebo que suas mãos começam a suar frio e seus lábios se pressionando constantemente, como se ele estivesse em uma luta consigo mesmo para conseguir dizer.

- Eu, - Ele continua. - Me... me desculpa, Jess.

Eu apenas o observo. Quero falar alguma coisa, mas nada sai da minha boca, nada vem à minha mente. Apenas me concentro nele, nos seus olhos e na sua boca, sua mente e seus pensamentos, mas tudo ainda me parece confuso demais.

Porque ele está pedindo desculpas para mim? Isso está confundindo completamente a minha cabeça. Garcia não pede desculpas para ninguém, eu sei disso, todos sabem.

- É sincero? - Pergunto, com medo da resposta.

Garcia apenas sorri para mim. Um sorriso inocente e sincero, e faz que sim com a cabeça. Mas vejo que ele está pensando e sentindo coisas demais para poder dizer.

Dizer isso para mim realmente deve estar o matando, mas isso também me mata. Agora eu quero lhe mostrar, mas se eu fizer isso, me sentirei, de alguma forma, vulnerável. Mas talvez eu já esteja.

Estou encarando Garcia e pensando sobre tudo por tanto tempo que esqueço que estamos na escola. Esqueço que estamos encharcados da água da chuva, de que pode ter alguma aula nessa sala a qualquer momento, de que a chuva está mais forte do que nossas vozes, mas que eu só consigo ouvir a sua voz, e de que Garcia nunca me pareceu tão deslumbrante como agora.

- Você não vai falar nada? - Ele pergunta, e consigo ouvir uma palpitada do seu coração a cada palavra. Ou talvez seja o meu.

- E-eu não sei, - gaguejo. - Não esperava por isso.

- Para ser sincero, eu também não, mas achei que seria o certo.

Faço que sim com a cabeça, ainda em choque.

Diga meu nome | Renato Garcia (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora