CAPÍTULO 81

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Jess

Não conseguia respirar. Meus olhos ficaram embaçados e senti meu corpo fraco. Queria gritar, queria chorar, queria bater em alguém, em qualquer pessoa, mas principalmente em mim mesma. Correntes prendiam a minhas mãos, o meu corpo, me sentia presa dentro de um poço que estava prestes a se encher de água. Eu iria morrer sem ar, com agonia, sufocando. E era eu que havia me colocado lá dentro.

Absolutamente tudo que tinha para dar errado já havia dado errado. Isso não era apenas um problema adolescente idiota, é tudo o que eu já senti e fiz na minha vida. É também o resto da minha vida inteira.

Tudo que fiz de errado foi jogado direto na minha cara. Aquilo me fazia estremecer, a culpa me consumia. Não estava preocupada com o que as pessoas estavam pensando, naquele momento, eu estava sendo atingida por tudo que me arrependia de ter feito.

Poderia ter feito as coisas de uma maneira diferente, mas não fiz.

Encosto minhas costas no vidro gelado da janela e fecho os olhos.

Eu sou uma pessoa horrível. Horrível.

Tento parar de chorar e fazer alguma coisa. Quero ir embora, e não vou continuar neste lugar, no lugar que o Jay e eu costumávamos ficar, não quando ele também carrega parte da culpa.

Por mais que eu tente me controlar, as lágrimas apenas continuam saindo dos meus olhos e começo a chorar ainda mais quando vejo Garcia vindo até mim.

Coloco a mão no rosto. Não queria que ele me visse assim, suja e culpada por tudo que está acontecendo com nós dois agora.

- Jess, - ele diz em tom de alívio e me abraça. - Voce não faz ideia do tanto que eu te procurei. Nunca estive mais preocupado.

- Eu sou uma pessoa horrível, - digo por cima, sem conseguir segurar as palavras para dentro de mim. - Estou tratando meus pais como lixo e perdi todos os meus amigos. Menti para todo mundo e agora tudo isso voltou para mim, para nós. Agora não consigo esquecer do que fiz. Eu... me desculpa Garcia, me desculpa.

- Você não fez nada, nada do que aconteceu é culpa sua. Não. É. Culpa. Sua. - Ele repete palavra por palavra, olhando direto nos meus olhos, mas eu os tampo depressa novamente.

- Poderia ter acontecido de um jeito diferente, eu poderia ter sido honesta.

Não é que eu me arrependo por ter ficado com Garcia. Não me arrependo nem por um segundo, mas gostaria de ter feito diferente, gostaria de saber de tudo o que iria acontecer. Mas a vida infelizmente não funciona desse jeito.

- De todas as pessoas, você é quem foi a mais honesta, Jess. Consigo mesma e com os outros. Cedo ou tarde. O que importa é que você falou a verdade.

- Não sei se devo acreditar em você, - eu arfo. - Não me sinto desse jeito.

Ele fica quieto e passa a mão pelo meu cabelo.

- Então faça alguma coisa sobre isso.

Eu sempre me sinto melhor quando Garcia fala para eu me mexer e mostra que para tudo tem uma solução, mas estou tão cega no momento que não vejo nenhuma saída. Talvez sejam as lágrimas ou a profunda culpa que estou sentindo, mas ainda não consigo ver.

E o que eu deveria fazer a este ponto? Não se pode consertar um copo de vidro estilhaçado e esperar que ele seja o mesmo.

Mas mesmo que eu ainda não esteja pensando direito, ficar perto do Garcia me deu a paz que eu por um momento havia perdido. Agora me sinto mais calma, um pouco menos agoniada.

- As pessoas ainda estão lá? - Olho para ele, com um olhar depressivo.

- Estive te procurando por tanto tempo que não faço ideia. Mas já devem ter expulsado os alunos de lá. Quando saí, os professores já estavam igual loucos tentando fazer aquelas pessoas se mexerem.

- Ninguém nunca vai esquecer daquilo.

- E quem se importa? Ano que vem nós já estamos fora daqui.

Faço que sim com a cabeça.

Dou algumas passos para trás e encosto minhas costas na parede. Então sento no chão e sinto toda a preocupação voltar novamente.

- Isso é horrível! - Grito, batendo as mãos no chão. - Por que tudo tem que acontecer do jeito que os outros querem e não  do nosso jeito? As pessoas falam que somos nós que construímos o nosso futuro, mas como querem que façamos isso quando são elas que sempre estão no controle? Isso é ridículo. Eu estou me sentindo como uma marionete agora. Meus pais controlam com quem eu devo ficar e o que eu devo fazer no futuro, e as outras pessoas decidem quem serão meus amigos. O mundo diz que eu tenho que ficar com um sorriso no rosto em todos os momentos, e eu fico, e você também fica, e quando eu estou com você, eu sou a pessoa mais feliz do mundo, mas quando nós nos despedimos, começo a me sentir controlada de novo. E eu... eu nem quero administrar uma empresa, eu não quero ficar sem ver você e não quero ser tão protegida como estou agora. Isso não é proteção, é só... eu não sei.

Respiro fundo. Há tantas palavras dentro da minha cabeça que não sei ao menos tirá-las para fora.

Quando termino de falar, vejo que a expressão do Garcia não é nada boa. Talvez ele tenha achado que eu estou arrependida por tudo o que passamos, mas não poderia estar mais grata por ter ele ao meu lado agora.

Ele vem até mim e se senta do meu lado. Não diz nada, apenas se senta do meu lado.

- Garcia, eu não... - tento explicar. - Eu te amo, você sabe disso, você é quem faz tudo isso valer a pena. Eu só... só quero que você fique do meu lado. Pra sempre.

Então ele abre um sorriso que faz tudo desaparecer. Ele prova que eu estava certa, sobre todas essas dores valerem a pena.

- É exatamente isso, - digo, olhando para o sorriso dele e acabando sorrindo também.

- Você sorriu, - ele observa em tom de brincadeira.

- Por isso que eu preciso de você aqui.

O beijo e encosto minha cabeça no seu ombro. Era isso que fazia eu me sentir bem. Nada mais.

- Eu estou aqui. E quando você estiver pronta pra socar algumas pessoas, é só avisar que nós vamos na hora.

Sorrio novamente e continuo ali com ele, em silêncio e me acalmando cada vez mais.

Mas somos interrompidos pelas duas pessoas que fazem meus nervos explodirem. As duas últimas pessoas que queria ver agora, exatamente porque sabia que esse encontro não iria terminar bem.

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Diga meu nome | Renato Garcia (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora