CAPÍTULO 64

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Garcia

Jess dá dois passos para mais perto do vidro. Ela estica o braço, querendo tocar a água através do vidro, mas não o toca. Seus olhos correm para todos os lados da água, conseguindo enxergar os detalhes, desde um grão de areia que se movimenta no fundo até o maior peixe que se pode enxergar.

Enquanto ela vai de um lado para o outro até se dar conta que já conhece o aquário inteiro, eu arrumo nossa janta em cima de uma toalha esticada pelo chão. Frutas, sucos e pães irão estar no cardápio de hoje. Nesta noite, comeremos coisas tão naturais quanto à natureza que nos cerca. Por mais que não seja este o seu lugar de origem.

Eu me sento no chão e a observo. A única coisa que conseguimos ouvir agora é o barulho da água se movimentando de um lado para o outro, mas o espaço também se preenche pelas gargalhadas da Jess rindo dos peixes que acha engraçado. Quando ela percebe que já estou sentado no chão, ela se afasta do vidro e vem até mim.

- Você não tem medo de que isso pode estourar e nos matar afogados aqui mesmo? - Ela aponta para o vidro.

- Acho que não, nossos desejos não são realizados com tanta facilidade assim, - brinco.

Ela me olha de canto de olho e solta um sorrisinho, então se senta do meu lado e coloca uma uva na boca.

- Você não quer morrer, - ela conclui, depois de me analisar por apenas alguns segundos. - Não daria as pessoas esse luxo.

- Ha-ha, - Rio forçadamente. - Não minta para mim Jess, se eu me for, não duvido de você dar uma de Julieta só pra poder ficar comigo.

Ela solta a mesmo risada falsa que eu e coloca outra uva na boca. Quando termina de mastigar, ela pisca algumas vezes e fica com os olhos semi-abertos, que se fecham ainda mais por conta de seu sorriso largo.

- Me desculpa, mas temo que este seu sonho... ou desejo, não poderá ser realizado, - diz ela, de uma maneira extremamente culta, como se fosse um gênio da lâmpada.

- Isto é realmente algo lamentável, - falo da mesma maneira que ela, entrando na brincadeira. - Nós poderíamos nos divertir muito no paraíso.

Jess ri de mim e joga a cabeça para trás. Ela faz um sinal de não com a cabeça e se controla para ficar mais séria novamente, mas um pequeno sorriso continua em seu rosto.

- Garcia, se tem um lugar que você não vai quando morrer é para o paraíso, - diz ela.

- Porque não? - Pergunto. - Sei que você se sente no paraíso quando eu te beijo.

- Ah é?

- É sim.

Eu me aproximo da Jess e pressiono meus lábios contra os dela suavemente, como se ela fosse feita de porcelana. Sua boca agora tem um gosto doce, e eu faço questão de saborear cada centímetro.

Quando eu a solto, ela abre os olhos com delicadeza e sem pressa, então diz:

- Se sentir no paraíso e estar nele são coisas diferentes. Um é justo e o outro não. Não acho que eu mereço me sentir no paraíso, mas, para falar a verdade, eu me sinto assim quando estou com você, e isso não é justo.

Sei que as vezes eu pareço muito convencido, mas não sou tão confiante como transpareço. Talvez todas essas frases e os atos que faço que me fazem parecer como se eu me achasse o rei do mundo expliquem muita coisa sobre a insegurança escondida dentro de mim.

- Você merece o mundo, não se castigue por isso, você não é uma pessoa má.


Ela assente com a cabeça e pressiona seu nariz contra o meu pescoço para sentir o meu cheiro. Ela ignora meu comentário - por mais que tenha assentido - e começa a me beijar. Meu pescoço, o canto da minha boca, até mesmo a ponta do meu nariz.

Diga meu nome | Renato Garcia (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora