Giralua

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"Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo o corpo fosse ouvido, onde estaria o olfato?"  1 Coríntios 20:17


Todos os girassóis apontavam para o sol, cuja luz aquecia todas as brisas da terra.

Mas a giralua não apontava para o sol, e o jardim amaldiçoava seu nome com nojo nos olhos.

Os séculos passaram - pois o tempo das flores é diferente do nosso, e o depois pode vir primeiro que o antes conforme as brisas sussurrarem - e houve o dia em que todos os girassóis se viram viçosos e brilhantes como joias lapidadas pelo jardineiro. Juntos cantaram para o sol, as brisas carregaram seu perfume para as abelhas.

Mas a giralua ainda era pequena e sem brilho como um sonho não realizado.

As outras flores se incomodaram com sua presença no jardim belo, e a expulsaram. Ora, uma flor expulsa deve morrer ou ser devorada.

Mas a giralua permaneceu onde estava, e os girassóis, satisfeitos, iriam matar a menos brilhante na manhã seguinte.

Quando o céu se vestiu de negro e abriu seus olhos de prata, a lua foi para aquelas bandas que raramente visitava, e uma brisa fria de sereno carregou uma canção suave para as mariposas e corujas.

De manhã, os girassóis espantaram-se com o brilho de sua irmã, pois era claro como a lua, mas cegante como o sol, mais gloriosa que todas as flores do jardim.

"Onde está a flor de menos brilho?" Debochou uma abelha passageira, para o temor dos girassóis. As leis dos jardins devem ser cumpridas, e todas as menos brilhantes pereceriam.

Mas a giralua não permitiu que suas irmãs morressem, nem pediu que os lordes dos insetos convocassem as tropas das formigas devoradoras. A giralua ergueu a voz para o jardim, e disse:

"Eu me visto com a lua, e vocês com o sol. Um não possui o brilho do outro."

Nenhuma flor foi morta naquela manhã, e todos os girassóis amaram giralua. Sempre contam sua história ao pôr-do-sol, quando a maioria das flores viaja para aquele jardim dos sonhos e poemas para descansar agradecidas por mais um dia. 

Dizem que é por aquela flor que a lua visitava todas as terras do mundo durante a noite, encantada ao ver seu próprio brilho oculto nos jardins do mundo.


"...E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários..."  1 Coríntios 20: 21-22

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