O Clavok

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O CLAVOK

Não existe um ser igual ao Clavok.

Planetas que abrigam vida frequentemente compartilham traços entre seus ecossistemas. Florestas, recifes e desertos quentes e frios são vistos por quase todos os mundos conhecidos. Apesar de Afran ser o lar das plantas roxas e Travadan a terra onde todos os rios e mares são tingidos de laranja por inofensivas algas microscópicas, ainda que com diferentes peculiaridades, os mesmos cenários sempre se repetem, como uma coleção de arte de um mesmo artista, onde não existem duas obras iguais, e ainda assim, não há duas diferentes, e sua própria natureza se revela de diferentes maneiras em expressões únicas para cada escultura, pincelada, verso ou nota.

Nestes sete universos de encantos e maravilhas que estive estudando ao logo de meus últimos novecentos milênios que agora sinto se aproximarem de seu descanso, não houve criatura que mais me fascinou quanto o Clavok. Eu posso te listar mais espécies de aranhas do que grãos de areia das praias de seu mundo, estudei golfinhos de luz que nadam nas estrelas amarelas, e fotografei em meus cristais armazenadores de memórias os gatos azuis, nativos dos bosques de Gunthan, que se divertem em caçar os pesadelos das crianças de Gunthan e dos universos mais próximos, em uma estranho plano da existência chamado de Oniricarium, ou, como chamam os Gunthanianos: Mundo dos Sonhos. Conheci uma raça de anões de gelo, cuja raça inteira era formada por apenas um ser, mas que habitava sete bilhões de corpos ao mesmo tempo, a população de todo o seu mundo. Eu pude ter longas conversas com seres tão incomuns e distintos, cujas vidas começam e terminam mais rápido que seu piscar de olhos, e ainda assim, neste tempo, eles contaram e catalogaram mais universos que todos os sábios que já pisaram na Academia Infinita, o centro de conhecimento que se tornou tão grande, que precisou se separar da matéria para não se tornar uma singularidade inconcebível de massa infinita. E mesmo assim, com tudo o que vi e aprendi, nada me fascinou mais que a simplicidade, beleza e a amor do Clavok.

Sim, amor. Acho que não há palavra melhor para isso.

A vida do Clavok, assim como a de todos os seres, começou com seu pai. O Clavok não é a maior das criaturas do universo, mas é grande para os padrões de seu mundo. Seu corpo delgado é flexível e magro, e apesar de aparentar o toque escamoso de uma serpente, sua pele verde clara lembra uma folha macia como uma pluma de travesseiro, com algumas veias aparecendo aqui e ali, por baixo da pele, como rios banhados pelas cores do arco-íris. Não existe nada igual. Me lembro de quando vi o Clavok assentado ao redor do ninho, seus dois braços dobrados, uma mão sobre a outra, uma pose que equilibrava uma firmeza e elegância felinas. Seus olhos, negros como duas ônix lustrosas entre as pálpebras cor de grama, fitavam atentos ao filhote no fundo da toca cavada na terra, olhos capazes de enxergar na mais completa escuridão, e captar as emanações térmicas de qualquer criatura, e determinar pelos padrões elétricos em seus sistemas nervosos se são predadores em potencial. Em termos simples, o Clavok pode ver pensamentos antes mesmo que sejam pensados. Sua coroa de penas deixam os leões de Graphavar com inveja, não apenas por suas cores vivas e que cintilam como joias e mudam de cor dependendo de como se olha, quase vivas, mas também por seu aspecto altivo e potente, poder e beleza juntos em uma única forma estava muito acima de uma cauda de pavão. Suas penas podem sentir as diferenças de pressão no ar, para saber quando vão vir chuvas, ventos fortes e coisas do tipo. Naquele dia eu sei que o Clavok também me viu, mesmo que não voltasse os olhos para mim, vidrado no ninho, mas ele sabia em sua mente que eu não era uma ameaça. Ousei me aproximar, mas não demais, não por que ele me ameaçou, pois não o fez, mas porque aquele era seu território, seu ninho. Ele era um rei e aquele era seu reino, ele era um pai e aquela era sua família, ele era uma estrela, e aquele o seu planeta. Usei minhas aranhas voadoras como espiãs, elas de uma espécie bastante abundante em Kiahar, onde o povo aprendera, desde seu tempo bárbaro, a treinar as aranhas como espiãs, e depois assistir tudo o que elas viram quando projetavam seus olhos em cristais luminosos naturais de seu mundo.

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