- Da ocasião da visita de Pisatrilhas e seu Saurolophus à capital do Reino Galaxita
"A cidade de Kalakion brotava do mar negro como uma flor branca, perseguida por galés, trirremes e fragatas como a lâmpada pelas mariposas. Você arregala os olhos como coruja, pois nunca viu ou sonhou com uma cidade tão grande que desaparecia nos horizontes em sua ilha pálida.
"Cheiro de sal se misturando à especiarias de mercadores e fragrâncias afrodisíacas onde os casais se conheciam. Postes salpicados pela cidade pulsavam sua luz como estrelas e faziam da noite dia em alquimia astronômica ao som de flautas e liras angelicais. Seu corpo salta incapaz de conceber tão artística magia dos astrônomos de Kalakion.
"Casas pálidas quadradas com telhado vernacular, adormecidas diante da muvuca de homens escuros adornados com pérolas e togas macias e ostentando bengalas esculpidas com Hatzegopteryxes de galaxita, e mulheres com os umbigos ostentando joias e refletindo mapas de constelações em sua pele sedosa, se abanando com leques que imitavam as espinhas do Acrocanthosaurus. Seu queixo cai diante de homens e mulheres tão belos e saudáveis, suas peles negras lustrosas, jovens como as estrelas, embora sejam mais baixos do que pensava.
"Avenidas serpenteando pelas sombras de palácios abobadados como um rio de pedras brancas onde os peixes eram carroças de seis rodas puxadas por Styracosaurus, ou carruagens pintadas com estrelas e conduzidas por elegantes Monolophosaurus emplumados com as cores de uma noite brilhante. Seu coração aquece seu sangue, diante de tão belas criaturas, e você se inclina como as mãos querendo tocar suas intrincadas escamas iridescentes e as esguias penas sedosas perfumadas como bebês de rainhas.
"No coração da ilha, a Montanha Estrelada lançava um crânio de saurópode em direção às estrelas. Uma escadaria branca a contornava em um abraço como fita de dançarina, até o palácio do Venerável-Ancião, onde afrescos e claraboias injetavam a caverna de cor e luz. Você estremece sem encontrar palavras ao ver a trama de luz inundando a caverna em ângulos que imaginava impossíveis. Um gosto úmido e rochoso temperado de passado. As pinturas, tão belas em sua simplicidade, falam com seu coração mais do que os olhos, e você fica sem ar com a profundidade em seus detalhes, como olhar por uma janela de tinta as estrelas d'além das estrelas.
"O Venerável-Ancião era recortado do mundo sobre o imenso trono de cristal estelar, esculpido pela natureza em um crânio de muitos chifres do Kosmoceratops, e esculpido pelo homem para ser flanqueado por dois Sauroposeidons serenos como o céu da noite, quinze metros de altura. Seus olhos lacrimejam diante do mais glorioso trono que alguém teria feito, contrastado com a humanidade envelhecida do ancião de barba perolada."
APÊNDICE
Galaxita: um bela gema negra salpicada de minúsculas estrelas que cintilam como olhos de fadas piscando em um sonho esquecido. Ela conta histórias das constelações que os deuses criaram, e dão pistas do nome secreto do Forjador dos Astros.
Saurolophus: um dinossauro herbívoro de 12 metros de comprimento, com bico de pato e uma crista semelhante a uma flauta na testa. Simpático e sereno, evita os predadores sempre em grupo, quando encontra um mestre o ama até o fim de sua vida.
Hatzegopteryx: membro da Altíssima Tríade, é a rainha da noite que peleja nas trevas, negra como a sombra, com o bico de prata. Silenciosa e quase impossível de domar, quando pousa sobre uma montanha para grasnar para a lua, ultrapassa os oito metros de comprimento e 10 de envergadura.
Acrocanthosaurus: um caçador determinado que ao escolher uma presa, não recua, mesmo que ela se mostre mais poderosa que ele. Suas escamas são alaranjadas e sua espinha é alongada em um curto leque de um roxo ametista. Quase quatro metros de altura.
Styracosaurus: ceratopsídeo, irmão do Kosmoceratops, é uma fera prateada com um único chifre e longos espigões se projetando de seu escudo como lanças pálidas. Manso e gentil, seus espigões intimidadores defenderão até a morte os seus aliados.
Monolophosaurus: pequeno caçador com uma crista na cabeça, cinco metros de comprimento e dois de altura. Sua crista é azul, roxa e branca, e suas penas lembram o mar à noite, mas ironicamente abomina a água e a teme, buscando terras altas e caças fartas.
Saurópode: os maiores dinossauros criados, abençoados com os músculos mais fortes dentre todas as criaturas da terra. Suas cabeças são coroadas pelas nuvens e copas das mais altas palmeiras, seus pescoços são serpentes colossais. Imortais se os terópodes não os superarem, conhecem segredos das eras anteriores a chegada dos homens.
Kosmoceratops: quadrúpede de chifres curvos e um escudo de folhas dobradas. Pintado com o céu, azulado e estrelado, é o filho da galaxita, e a mais nobre das criaturas. Embora seja bondoso, não se deve cruzar seu caminho pois como a mãe é com seus filhos ele é com seu território, onde herbívoros e carnívoros coexistem sob seu trono.
Sauroposeidon: Um saurópode negro e azul como o mar feroz, dotado de 15 metros de altura e 35 de comprimento. Quando canta as ondas se levantam mas nenhuma foi capaz de derrubá-lo.
Terópodes: os temíveis carnívoros de duas patas e garras tão letais quanto suas mordidas tóxicas. Seus olhos de cobra brilham como lampiões da Morte que se aproxima.
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Fragmentos de Ecos Esquecidos
Historia CortaColetânea de cenas e contos de fantasia, ficção científica, horror e outras quase-realidades que recebi a graça de conhecer.