Felizes para Sempre

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Estava escuro. Faixas de couro prendiam seus braços na cadeira. Suas pernas também estavam presas, e seu corpo estava nu em um mar de aroma doce e penetrante que confundia seus sentidos como uma canção de sedução.

Velas se ascenderam como mágica, e ele deslumbrou uma silhueta escultural cor de alabastro, com um cachecol negro de formato peculiar, caindo sobre os seios dela, e tocando os pés brancos de dedos delicados.

Ela foi até ele com os movimentos lentos de uma pantera, deixando que seus olhos subissem por suas pernas, descessem pelo abdômen, procurando lugares secretos nas sombras. Seu coração estava como o de um cavalo na justa. O dela também estava, mais do que aparentava. 

Com movimentos felinos, ela se aproximou da cadeira, o cachecol balançando, mas ainda misterioso, revelando sem nada revelar, provocando o cão com um osso . O rosto dela era uma rosa branca no coração de uma caverna, os olhos cor de ébano, brilhantes e sedentos. Os lábios de rosas suculentas.

Ela tocou os dedos esguios e lentos no rosto dele, passou por sua boca e seu peito e sentiu as ondulações rígidas no abdômen, mas sem tocar onde ele queria. Ficou atrás dele, com as mãos tão perto de seu tesouro, e sussurrou em seu ouvido uma palavra de paixão, um verso de poder. Algo que aterroriza os que não conhecem o amor e temem sua magia.

Seus lábios se tocaram e a cerâmica endureceu em um forno ardente como o sol do verão. Sua língua tinha gosto de rosas, doce e penetrante.

Ainda atrás dele, com os beijos em seu pescoço, ela levou as mãos para o tesouro dele, escalando uma corda espessa que enrijecia a cada verso secreto sussurrado em seu ouvido, cada mordida em sua orelha, cada lambida em seu pescoço. Versos de paixão na língua das fadas, feitiços de paixão trocados pelos amantes verdadeiros.

Ele pertencia a ela e ela amava ser dele. Amava quando a via como mais rara que uma fênix do inverno, ou agora, enfeitiçado de desejo em um prazer mais intenso que qualquer dor.

Uma bruxa tentara privar seu coração de todas as alegrias, mas hoje seu coração cantava como os pássaros na alvorada, livre de todos os venenos, arfando como os ventos.

Ela o largou como um sedento no deserto, transformando o osso em cinzas diante do cão. Soltou as amarras que o prendiam, e foi para diante dele, o cachecol solto no chão, seu corpo como um livro aberto da mais sublime beleza encarnada, tão encantador quanto a neve que cai nos castelos, ou asas de uma fada que cintilam como estrelas.

Subitamente ela subiu na cadeira e se encaixou sobre ele, como línguas o espremendo por todos os lados. Como as amazonas das velhas lendas ela o cavalgou. Como lobos sob a lua ele gritou, suas garras firmes penetrando as costas dela. E como o nascer de uma estrela nas alturas, eles explodiram no aposento, vibrando as paredes como que pelo rugido de um dragão.

Respiravam rápido e se abraçavam suados. O príncipe passara tantos anos sem ninguém ao seu lado, mas após tantas batalhas, tantas derrotas e cicatrizes, o milagre de um beijo acariciava seu cabelo com o rosto em seu peito. O beijo que lhe dera o que nenhuma espada conseguiu. O beijo que derrotara ogros, enforcara trolls, queimara bruxas e transformava suas maldições em cinzas ao vento.

Sua linda Branca de Neve, com a pele tão macia de uma porcelana valiosa, no aniversário do beijo, um presente especial que que só ela poderia lhe dar. 

E eles vivem felizes para sempre.


Então o Senhor Deus declarou: "Não é bom que o homem esteja só; farei para ele alguém que o auxilie e lhe corresponda". Gênesis 2: 18

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