"Se houver algum israelita pobre em qualquer das cidades da terra que o Senhor, o seu Deus, lhe está dando, não endureçam o coração, nem fechem a mão para com o seu irmão pobre. Ao contrário, tenham mão aberta e emprestem-lhe liberalmente o que ele precisar." Deuteronômio 15:7-8
Em Horagror, no Vale de Vrutathon, o poderoso Varanor reina sobre todos os dragões do vale. Sábio como as montanhas à sua volta, ele conhece os nomes das estrelas e das história que contaram, e seu encanto habita em seus olhos, chamas douradas cortantes.
Brancas são suas escamas, brancas e douradas, e suas asas são como as de um morcego revestido por escamas de ouro como uma armadura cerimonial.
Suas garras são curtas, mas os dedos longos, e sua cauda é um chicote que agita os ventos ao farfalhar das sequoias.
Mas Varanor, que tudo sabia, desejou saber algo que lhe escapava: o que havia no coração de um elfo.
Para tal, ele se transformou em um com sua magia, e atravessou os caminhos escondidos entre os planos de existência, chegando ao tempo e lugar dos elfos, onde as estrelas eram coloridas e duas luas sorriam satisfeitas no céu turquesa escuro.
Ele se misturou com os elfos, procurando o segredo de seus corações.
- Sou um viajante curioso - ele dizia, para os que estranhavam sua chegada. Logo se maravilhavam com ele, e estavam dispostos a lhe ensinar tudo de seus modos e costumes.
Lhe ensinaram a podar as árvores e dar banhos nos grifos que usavam de montaria. Como coziam seus pães, e como dançavam no ocaso, gratos pelo dia que era devolvido ao céu. Como eram gentis, generosos e humildes, ainda que estivessem entre os mais belos, longevos e poderosos dos povos.
E aconteceu ela, uma elfa de cachos castanhos e olhos como o sol visto através de uma uva viçosa. Ela sorriu para o poderoso Varanor como nenhuma havia sorrido, pois havia força no brilho branco de seu sorriso, a força de um bater de asas poderosas contra o céu, a força de uma grama se levantando da terra em adoração sublime, uma força que capturou seus olhos e o levou para bosques distante e vales encantados, onde ela o amava.
Aos olhos dele, um sonho caminhava em forma de elfa, um segredo se descortinando como o lago descongelando ao fim do inverno. Ele desejava conhecer seus mistérios, e explorar suas montanhas e vales, e escrever seu nome em suas asas.
Não havia sorriso como o dela.
Aconteceu então, de uma faca penetrar seu peito, e Varanor abriu os olhos em uma masmorra escura. Cordas de prata o prendiam, e sua elfa segurava uma faca ornamentada pingando sangue azul como o céu onde os seres voam.
- Sou o pesadelo do dragão - disse a elfa, com os olhos apagados e sombrios como um vinho derramado.
Varanor não derramou lágrimas quando revelou suas asas e sua cauda e suas garras, e se tornou tão grande que a masmorra e a torre acima dela não puderam conter seu tamanho, ou o fogo que saiu de sua garganta. Uma coluna de chamas brancas, rodeada de espirais de raios, um rugido trovejante como um terremoto vivo declamando uma palavra de magia.
Por quilômetros incontáveis, só restou morte e destruição quando Varanor fechou sua boca afiada. Quando pousou as garras sobre as cinzas, a elfa estava intacta, com a faca ainda na mão, os lábios manchados de azul.
- Finalmente, descobri - ele disse, como se perfurado por uma faca, as cortinas do real e irreal foram abertas para soltar os mais terríveis dragões sobre o mundo dos elfos, como uma praga de gafanhotos famintos, gigantes e famintos. Dragões da morte cuja fome nunca se sacia, com armaduras de ossos, cuspindo ácido e fumaça venenosa de seus olhos verdes.
Varanor pousou no chão diante da elfa.
- Você será lembrada como a Mãe dos Dragões - proferiu ele, a cabeça tocando as nuvens. - Mas em nome dos seus irmãos que traiu, um de seus descendentes poderá fechar o que você abriu. Me devolva o sangue roubado, e todos os dragões da morte deixarão seu mundo.
Dizem que a elfa cuspiu às garras dele, ou que apenas se virou e partiu. Ela não acreditou nas palavras do dragão, e esperava dominar os dragões da morte para estar acima de todos os seus irmãos elfos.
E assim ela fez, e foi lembrada como Mãe dos Dragões, a terrível bruxa que incendiou cidades, escravizou reinos, e quebrou as correntes das montanhas para que caíssem sobre os mares e inundassem as matas e seus habitantes.
Em favor de todos os elfos que inclivam o coração para o bem, Varanor revelou o segredo para vencer os dragões. E os mais sábios dos elfos, escreveram a equação em uma rocha de diamante para que jamais fosse esquecida. Varanor retornou então ao mundo dos dragões de onde viera, atravessando as cortinas feridas do universo, e exausto da ferida e do sangue perdido.
Lá, em seu mundo, ele adormece na presença de sua corte dragões, aguardando o dia em que tudo será resolvido. Em seus sonhos, dizem que ele ainda sussurra o nome da filha dos elfos entre os dentes, mas lágrimas escorrem para o pesar de seus servos, pois a Mãe dos Dragões a matou.
___ALGUMAS PALAVRAS___
Não sei o que foi isso. Nem o que significa. Mas eu desejo ver o dia em que, o que foi roubado do dragão, lhe seja devolvido, e a Mãe dos Dragões recebe sua devida punição.
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Fragmentos de Ecos Esquecidos
Short StoryColetânea de cenas e contos de fantasia, ficção científica, horror e outras quase-realidades que recebi a graça de conhecer.