Quando um amor floresce ** Apenas degustação ***

Capítulo 14

♪ Você é linda
Mais que demais
Você é linda sim♪

Alex

Entro no meu apê sem me importar com as roupas encharcadas e o rastro de água que vou deixando pelo caminho até o banheiro. Nem mesmo o olhar enviesado do porteiro quando passei pela recepção do prédio foi capaz de me fazer sentir culpado pela minha travessura um tanto adolescente. Aliás, acho que, depois de hoje, nada será capaz de tirar o meu ótimo humor e esse sorriso que não me abandona.

Retiro as peças molhadas e as jogo em um canto do banheiro. Entro rapidamente no box, giro a torneira e aguardo alguns minutos até que o vapor quente comece a inundar o ambiente.

Só então encaro o chuveiro, deixando a água quente cair sobre meus ombros enquanto repasso na mente cada momento deste dia tão especial. A sessão de fotos, o prazer de voltar a trabalhar naquilo que amo, as pessoas interessantes que conheci hoje. E, é claro, o mais importante, o tempo que passei na agradável companhia de Heloísa. Tudo foi tão bom, e não me lembro de ter tido um encontro tão gostoso antes... Não que estivéssemos realmente em um encontro, não é isso. Estava mais para velhos conhecidos que estão se transformando em bons amigos e apreciando a companhia um do outro.

Termino o banho, saio do chuveiro e vou até o quarto. Visto apenas a calça do meu pijama e volto para a sala ignorando as poças d'água ao longo do corredor. Amanhã eu limpo. Pego minha mochila que joguei sobre o sofá quando cheguei e a levo até a bancada da cozinha, lugar no qual costumo editar fotos, atualizar meu portfólio e outras coisas relacionadas a minha profissão. Não sei o motivo, mas sempre gostei de trabalhar na cozinha. Na França também era assim. Geralmente, enquanto papai e Augustine cozinhavam, eu trabalhava; um momento em família não tão comum, mas que amávamos.

Aqui neste apartamento, meu notebook já fica sempre sobre o balcão da cozinha. Caminho até a geladeira, retiro uma garrafa de vinho e me sirvo uma taça, deixo a mesma ao lado do computador, sento em uma das banquetas e pego a câmera dentro da bolsa. Retiro o cartão de memória e o insiro no computador. Confesso que a parte de edição não é a minha favorita quando se trata do meu trabalho, eu gosto mesmo é de fotografar, de captar momentos, sejam de pessoas ou paisagens. Porém, não é algo sacrificante, encaro como uma extensão dos cliques, em que posso deixar o que é bonito ainda mais belo.

Tenho tempo de sobra para editar todas as fotos, afinal, ainda faremos a foto de capa na terça-feira. Como estou sem um pingo de sono, resolvo trabalhar, e estou na maior empolgação devido aos últimos acontecimentos.

— Eu tomei banho de chuva! — exclamo para mim mesmo em voz alta e sorrindo.

Banho de chuva, como se fôssemos duas crianças travessas. A única diferença é que não teríamos quem nos repreendesse ao chegarmos em casa. E foi tão delicioso e divertido quanto quando era criança. Ah, Heloísa...

Começo a passar as fotos. Sempre passo uma por uma a fim de selecionar as melhores para a edição.

— Ficaram realmente boas — murmuro orgulhoso do meu trabalho, enquanto seleciono grande parte delas.

Gosto de enviar uma boa quantidade de fotos editadas ao cliente para que ele decida pelas que mais lhe agradarem.

Começo a mexer em uma das fotos de Renata, a cirurgiã que faz parte da matéria, e abro um sorriso, relembrando o quão sem jeito e nervosa ela estava e como bastou falar sobre a sua profissão para que desabrochasse. O amor que ela sente pelo que faz ficou nitidamente capturado nas fotos e isso é lindo. Quando fazemos algo por amor é como se a nossa alma resplandecesse. Não há como uma foto ficar feia diante de tantos sentimentos positivos.

Sigo repassando as fotos até que chego às que capturei furtivamente da Helô. Demoro um pouco mais, passando uma por uma e admirando por tempo indeterminado cada uma das imagens.

Deus, como essa mulher é linda! Quando mais jovem já era uma gata, não foi à toa que me apaixonei por ela. Mas, agora... o tempo só lhe fez bem!

— Eu não acredito que lhe contei o quanto era apaixonado! — Balanço a cabeça de um lado para o outro em negação.

Não planejei essa conversa, a coisa fluiu naturalmente quando falamos sobre o passado. E, assim que me disse que sabia que eu tinha uma queda por ela na época, não pude deixá-la achar que era apenas uma coisa de adolescente cheio de hormônios. Heloísa foi minha primeira paixão, daquelas gostosas, em que o coração palpitava no peito sempre que ela estava por perto. E não era apenas por ser mais velha e com o corpo mais bonito que o das garotas da minha idade na época, nada disso, havia algo nela que me atraía como um imã.

Mesmo com todas as suas tentativas de implicar comigo, eu não ligava, pois era justamente o seu jeito atrevido, forte e até mesmo seu lado debochado que a deixavam tão especial.

— Como um cara tem coragem de te trair? — questiono, encarando sua foto na tela.

Em uma conversa com Pedro há alguns dias, ele me contou sobre o que o tal Rafael fez com ela. Que não apenas a traiu, como a deixou sem grandes explicações. Meu amigo nunca gostou do namorado da irmã. E agora eu, que nem mesmo o conheço, já não vou com a cara do sujeito.

Continuo encarando sua imagem na tela. Tão linda, tão inteligente, educada e gente boa. Existem homens que não sabem realmente dar valor a nada, pois, se Heloísa fosse minha, eu jamais a deixaria escapar...

Paro e arregalo meus olhos ao constatar para onde minha mente havia me levado. De onde surgiu isso? Respiro fundo e começo a editar sua foto, afastando esse tipo de pensamento. Já não sou mais aquele garoto apaixonado pela irmã do melhor amigo. Agora sou um adulto. E, além do Pê, Helô é a coisa mais próxima de amizade que tenho no momento.

Mesmo ciente de tudo isso, essa constatação não me impede de passar a mão sobre a tela do computador, contornando seus traços, totalmente encantado.

Assim como não me impede de ficar ansioso para a próxima terça-feira, pois a encontrarei novamente.

A grande verdade é que nem mesmo toda essa consciência de realidade me impede de achá-la linda, como ela sempre foi.