Capítulo 4

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♪Mande notícias do mundo de lá

Diz quem fica

Me dê um abraço, venha me apertar

Tô chegando

Coisa que gosto é poder partir

Sem ter planos

Melhor ainda é poder voltar

Quando quero♪

Encontros e despedidas – Maria Rita

Alex

Deixar meus pais, minha irmã e o lugar que morei nos últimos oito anos não foi uma escolha fácil, eu já sabia que sofreria. Mas nada me preparou para a hora da partida, todos nós choramos muito.

— Prometa que voltará caso as coisas fiquem difíceis para você — meu pai pediu, abraçando-me, pouco tempo antes de eu embarcar.

— Eu prometo.

— Não sei ao certo o que você busca ao voltar para o Brasil, mas sei que aqui nunca foi seu lugar. Por melhor que Paris tenha sido para você, sempre houve esse desejo de voltar pra lá, e é por isso que não vou pedir para que fique. Vá, viva o que tem que viver, mas saiba que sua casa sempre estará aqui e que sua família te acolherá de braços abertos.

— Obrigado, pai.

Ele está certo, nunca me faltou nada e não há nada de concreto que me prende ao Brasil, mas sempre houve em meu coração um grande desejo de voltar.

— Fique bem, meu pequeno. — Augustine me abraça, já com o rosto banhado em lágrimas.

— Eu ficarei, mamãe.

Abraço minha irmã bem apertado, querendo eternizar este momento em minhas lembranças, e finalmente me afasto deles, caminhando pelo corredor que me leva até o avião.

Em poucos minutos, decolamos. Já é noite, e do alto olho para baixo e me despeço da cidade luz.

***

— Ah, moleque, que bom que está de volta. Esta cidade será pequena para nós! — Pedro comemora do outro lado da linha. Eu nem bem entrei no apartamento e ele já estava ligando.

— Estou feliz em estar de volta também.

— Como foi a viagem?

— Cansativa, quase não dormi. Estou morto.

— Imaginei. Bom, aproveite para descansar.

— Hoje tirarei o dia para dormir. Amanhã irei visitar meus avós em Campinas e talvez fique por lá uns dias. Na segunda vou até uma agência que um amigo meu de Paris indicou. — Apesar de ter um bom dinheiro guardado que recebi da herança de minha mãe, não gosto de ficar sem trabalhar.

— Não esquece que na sexta-feira tem o jantar na casa dos meus pais. Eles estão ansiosos para te encontrar.

— Eu também estou ansioso para ver todos. Eu passo uns dias com meus avós e volto na sexta a tempo para o jantar.

— Certo, então nos vemos na sexta.

— Com certeza!

Ele desliga e eu finalmente olho ao meu redor. No antigo apartamento em que morei com minha mãe até meus 17 anos, caminho em direção à sala, e é como se fizesse uma viagem no tempo. Tudo se manteve igual nesses oito anos, nós não alugamos o apartamento desde que me mudei.

Ainda continua intacto, o mesmo sofá marrom na sala, a mesma mesa de centro onde mamãe colocava suas flores favoritas, os mesmos quadros coloridos nas paredes brancas e os mesmos porta-retratos sobre o aparador.

Caminho pelo corredor estreito que me leva até meu antigo quarto e, ao abrir a porta, uma nostalgia imensa toma conta de mim. Minha coleção de carrinhos antigos está na prateleira do jeito que deixei, os mesmos pôsteres de super-heróis nas paredes, a mesma cama que dormi durante anos.

Sento-me nela e lembro de cada momento feliz que passei aqui, do início da minha adolescência. É inevitável lembrar da minha mãe a cada passo que dou dentro deste apartamento, que foi nosso lar por tanto tempo. Mas a dor hoje não é tão latente como antes. Dizem que com o passar do tempo a dor se transforma em lembranças e saudades, e é assim que me sinto.

Eu sempre quis muito voltar para o Brasil, aquela inquietação que me acompanhava dia após dia na França e que eu não entendia muito bem o porquê faz todo sentido agora. Amo meu pai, amo Augustine e minha irmã, fui criado e tratado muito bem por eles, mas é aqui, neste apartamento pequeno e aconchegante, que eu realmente me sinto em casa.

Talvez por ter apego às boas lembranças ou por ser o local em que sinto uma conexão maior com minha mãe. Não existe uma explicação racional, apenas é assim que me sinto.

— Finalmente, de volta ao lar.

***

A visita aos meus avós foi cercada de amor e nostalgia. A saudade era imensa e minha avó se prontificou a fazer todos os pratos que mais gosto de comer. Meu avô, com seu jeito compassivo e amoroso, sentou comigo e conversamos por horas sobre minha mãe e as histórias mais hilárias da infância. Eles ainda sentem muito a perda da filha, mas as lembranças boas e a saudade que ficou substituíram a dor lancinante que antes todos sentíamos.

Percebi que minha presença faz falta e é muito importante para os meus avós. Sempre que eu puder, darei uma escapada para visitá-los e trazer um pouco de alegria e um estômago faminto pelas comidinhas deliciosas que vovó prepara.

Na estrada de volta para casa, me pego com um imenso sorriso no rosto e o coração transbordando de amor. Se eu tinha alguma dúvida sobre deixar Paris para trás, a visita aos meus avós solucionou qualquer ponto de interrogação que pudesse existir. Eu estava certo, meu lugar é aqui.

Chego em casa cerca de três horas depois. A estrada até que estava tranquila, mas acabei perdendo um tempo precioso no trânsito da cidade, coisa corriqueira por estas bandas.

Abro a porta de casa, deixo a mala num canto e, antes que eu possa puxar o celular do bolso do jeans, ele solta um apito característico, avisando-me que tenho uma nova mensagem no WhatsApp.

Pedro: Fala, meu brother, já chegou?

Eu: Acabei de entrar em casa.

Pedro: Beleza, estou saindo do trabalho e indo para casa. Minha mãe disse que já está preparando o jantar e esperando por nós.

Eu: Ok, só vou tomar um banho antes.

Pedro: Ainda sabe como chegar até lá? Rsrsr

Eu: Claro que sim, idiota.

Pedro: Então, até lá.

Eu: Até.

— Será que a Heloísa também vai? — pergunto a mim mesmo enquanto caminho até o banheiro.

Esse pensamento me faz rir. Como seria ver a Helô depois de tanto tempo? Com certeza seria engraçado rever meu primeiro amor platônico depois de alguns anos. Seria, no mínimo, interessante.

Quando um amor floresce ** Apenas degustação ***Onde histórias criam vida. Descubra agora