Capítulo 16

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A chuva parou?

O amanhecer ainda está por vir?

Mas por que eu deveria estar preocupado,

quando estou aqui com você agora?

Alex

O guarda-chuva vermelho

Observo através da janela da sala a cidade cinzenta lá embaixo. Para alguns, a ausência de um dia ensolarado traz uma energia triste e melancólica. Mas, para mim, é justamente ao contrário. Apesar de ser fotógrafo, para um profissional da minha área a luz solar é um dos elementos que auxiliam na perfeição das imagens, ainda assim, consigo enxergar a beleza dos dias chuvosos.

Caminho até o balcão da cozinha, pego a câmera e volto até a janela, ajusto as lentes e capto alguns cliques da metrópole fria e nublada. As gotas de chuvas que caem sobre a vidraçaria trazem um charme especial para as fotos.

Recosto-me na parede, desvio meu olhar em direção à porta de entrada e uma pequena dose de melancolia me invade ao ver ali encostado o velho guarda-chuva vermelho que pertenceu à minha mãe. As lembranças que esse pequeno objeto carrega estão me levando a uma viagem no tempo desde que o achei ontem por acaso enquanto limpava seu antigo quarto.

O motivo de gostar tanto desses dias de chuva se dá ao fato de guardar boas lembranças relacionadas à minha mãe. Mamãe, assim como eu, amava este clima, e por muitas vezes fizemos passeios pela cidade, apenas nós dois e seu guarda-chuva vermelho.

Era nesses dias que saíamos de casa para comer meu bolo de chocolate favorito em uma padaria há algumas quadras daqui. Ela costumava dizer que, quando a temperatura baixava, não existia nada melhor que aquecer o coração com nossa sobremesa preferida.

Quando voltei pra cá, ir atrás da antiga padaria foi uma das primeiras coisas que fiz em minhas andanças pelo bairro, mas, infelizmente, seu proprietário morreu há alguns anos e seus filhos decidiram não seguir os passos do pai. Foi o que as pessoas da região me disseram.

Admito que a chuva pode dar ao dia um tom melancólico, mas não acho que seja melancolia do tipo triste, e sim do tipo que te faz recordar de momentos bons que já viveu e traz aquela saudade gostosa ao coração. Acho que, por causa da minha mãe, sempre enxerguei a chuva com bons olhos.

Sorrio ao lembrar da minha última aventura sob a chuva, dessa vez sem a proteção do guarda-chuva vermelho, fiel escudeiro da minha mãe. Essa lembrança é mais recente, em que corri e me diverti feito uma criança ao lado de Heloísa.

Helô... tenho pensado nela frequentemente desde sexta-feira, tanto que ontem pensei em ligar ou mandar mensagens inúmeras vezes, mas o medo de ser inconivente falou mais alto e acabei desistindo.

Me recosto na janela da sala e observo as pequenas gotículas descerem sobre o vidro, encarando a cidade nublada mais uma vez. E é por estar inundado por lembranças e saudosismo que decido sair um pouco, caminhar sob a chuva como nos velhos tempos.

Mas não quero ir sozinho, e a vontade de convidar Helô para fazer algo ainda permeia em minha mente. O receio de ser inconveniente existe. Alcanço meu telefone e rolo a tela do aplicativo até chegar ao seu nome. Abro a janela de conversa e pondero por alguns instantes se devo mesmo fazer isso. A vontade de estar ao seu lado vence meu lado racional e envio uma mensagem para ela.

Começo conversando sobre algumas coisas aleatórias, buscando coragem para convidá-la para sair comigo. A conversa é bem informal e descontraída. Paro por alguns instantes no meio do bate-papo e, respirando fundo, chamo-a para tomar um café. Fico surpreso e feliz por ela aceitar sair de casa com este tempo preguiçoso, e assim que ela me envia a localização, corro para o quarto para me arrumar. Visto um jeans e camiseta, aproveito e pego um casaco quente, pois imagino que a temperatura lá fora deva estar bem mais baixa que aqui no apartamento. Pego as chaves de casa e vou em direção à saída. Quando me aproximo da porta, pego o guarda-chuva e vou ao seu encontro...

Quando um amor floresce ** Apenas degustação ***Onde histórias criam vida. Descubra agora