Capítulo 26

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E aí, compensou me largar?

Cadê suas amizades?

Os seus esqueminhas?
Que você falava e falava que tinha
É isso que "cê" chama de volta por cima?

Rafael

Sinto Amália se mexer sobre meu braço direito, e tudo o que eu queria é que ela saísse de cima de mim e da minha vida. Queria acordá-la e mandar vazar da minha cama, me deixar em paz. Mas, infelizmente, não posso fazer nada disso, pelo menos não ainda.

Retiro seu braço de cima do meu abdome, esforçando-me ao máximo para que ela não acorde. Não quero ter que lidar com essa mimada a esta hora da madrugada, muito menos ter que apagar seu fogo caso ela acorde cheia de tesão.

Quando consigo me livrar de seu aperto, saio da cama e caminho até a varanda do quarto, fechando a porta de vidro atrás de mim para que o barulho não a desperte.

Acendo um cigarro, dou uma tragada e encosto minha testa na tela de proteção enquanto observo o movimento dos carros passando pela avenida. Quando dizem que São Paulo é a cidade que nunca dorme, é verdade. Já passam das duas da manhã e a movimentação ainda é intensa.

Puxo outra longa tragada e solto a fumaça, sentindo-me um pouco tonto. Tive um jantar de negócios e passei da conta nas bebidas, já que provei de tudo. Assim que cheguei, apenas tomei um banho e fui para a cama. Amália queria transar, mas usei o cansaço como desculpa para me livrar da obrigação, porém, a verdade é que estou com a cabeça cheia e não consegui pregar os olhos um minuto.

Estou com dificuldade de pegar no sono faz alguns dias. Mais precisamente desde o dia em que vi Heloísa abraçada com outro, caminhando alegremente pelas ruas da cidade.

Aquilo me enfureceu, não consegui digerir a cena, como ela pôde ter seguido em frente tão rápido?

Eu sei que fui eu quem a deixei, mas naquele momento era o que precisava ser feito. E ela deveria estar sofrendo, me esperando, para que, quando eu resolvesse tudo que preciso, reconquistasse-a de forma fácil. Mas não, ela já está nos braços e provavelmente na cama do outro.

Ninguém vai amá-la da forma como eu a amo e se não estamos juntos hoje é porque estou em busca de uma vida melhor para nós.

Terminei com ela para ficar com a mulher que agora está deitada sobre meus lençóis, mas eu nunca amei Amália, muito pelo contrário, acho-a uma chata, infantil e fútil. Só estou com ela para atingir meus propósitos.

Quando ela demonstrou interesse por mim, vi nela uma forma de finalmente conseguir com que seu pai me promovesse a diretor executivo da empresa. Trabalho para ele há anos em uma grande empresa de desenvolvimento tecnológico e me esforcei de todas as formas para mostrar meu valor dentro do trabalho, mas nunca fui devidamente reconhecido.

Ainda lembro do dia em que nos vimos pela primeira vez. Foi em mais um desses jantares de negócios intermináveis, cheios de gente chata, onde tenho que sorrir e puxar saco de um monte de gente, que a conheci. Percebi seu interesse de imediato, pois ela não fez a mínima questão de disfarçar.

E como Amália é o fogo em forma de mulher, partiu para o ataque, jogou charme, insinuou-se e seduziu. E sem pensar nas consequências e já de pau duro, a comi no banheiro do restaurante naquela mesma noite.

Desde então, ela não parou de me procurar. Se ela sabia da existência de Heloísa? Claro que ela sabia. Mas, assim como seu pai, ela sabe usar o poder a seu favor. E, apesar de ser uma burguesa mimada, de burra não tem nada.

Ela logo sacou minhas intenções e não apenas não se importou como disse que me ajudaria a convencer o velho... E uma das suas exigências foi que terminasse meu namoro.

Meu plano era simples, ficaria com Amália, conseguiria o cargo e faria de tudo para que ela enjoasse de mim, pois, no fundo, sabia que ela não estava apaixonada, que eu era apenas um dos seus caprichos. Tinha certeza que logo ela me deixaria e eu estaria livre para procurar Helô novamente.

Foi um plano arriscado e uma estratégia totalmente idiota. A única coisa que saiu como planejado foi que consegui a tão sonhada promoção. De resto, Amália está cada dia mais pegajosa, quanto mais a trato mal, mais ela parece gostar, e Heloísa está com outro.

Depois que a vi com ele, não pude me conter e contratei um detetive particular para segui-los e me trazer informações do idiota. Descobri que o cara tem apenas vinte e três anos, além de ser melhor amigo daquele idiota do Pedro.

As fotos que recebi dos dois me deixaram cego de ódio. Eles parecem estar muito envolvidos, Heloísa sorri o tempo todo, o que comigo era raro, ela estava sempre pensativa e chateada.

Rasguei em pedaços uma das fotos, em que os dois estão se beijando.

Esse relacionamento é uma piada. Heloísa perdeu o juízo de vez, o cara é bem mais novo e ela não se toca do papel ridículo que está fazendo.

Vou dar um jeito de acabar com isso, fazer com que aquela idiota recobre sua sanidade. Na verdade, estarei lhe fazendo um favor evitando que passe vergonha.

Dou uma última tragada no cigarro e o apago no cinzeiro. Olho mais uma vez para baixo através da tela, observando o fluxo dos carros.

— Isso ainda não acabou, Helô. Você é minha, não vou deixar ninguém tirar você de mim.

Volto para o quarto, mas não me deito na cama novamente. Pego um cobertor e vou para a poltrona reclinável que fica do lado oposto da cama. Não aguento mais dormir ao lado de Amália, tudo o que eu quero é Heloísa de volta, e eu vou tê-la!


Quando um amor floresce ** Apenas degustação ***Onde histórias criam vida. Descubra agora