Quando um amor floresce ** Apenas degustação ***

Capítulo 13

♪Tenho discos de 87 e de 2009
Sou jovem pra ser velha
E velha pra ser jovem♪

Helô

Passo a mão sobre o espelho embaçado do banheiro e observo minha imagem refletida. A face ruborizada, o cabelo molhado e um sorriso bobo, quase que imperceptível, escapando de meus lábios. Não sei ao certo o que deu em mim essa noite, mas todas as minhas ações foram um tanto juvenis, e, ao invés de estar envergonhada pelas minhas atitudes, me sinto leve.

Não me lembro da última vez que tomei um banho de chuva, que me deixei levar pelo momento, mas o dia de hoje foi bom, por isso me despi de todas as minhas reservas e aproveitei cada momento.

E boa parte dos momentos gostosos deste dia eu passei ao lado do amigo do meu irmão, o carinha que conheci quando era apenas um pirralho.

Quando aceitei jantar com Alex, não imaginei que a sua companhia fosse se revelar tão agradável. Apesar de terem a mesma idade, Pedro e Alex são duas pessoas totalmente distintas. Ouso dizer que ele é bem mais maduro que o Pê, talvez seja um daqueles casos de "almas velhas" que ouvimos falar por aí.

A forma como fala de sua família, de seus ideais e sobre sua profissão é encantadora. Confesso que pouco me lembrava de Alex, não pensei muito nele nesses últimos anos. Apesar de o meu irmão sempre o citar em conversas aleatórias, não tive real interesse no que aconteceu com aquele menino franzino que conheci anos atrás. Mas fiquei imensamente feliz em saber que ele foi muito bem acolhido na casa de seu pai na França e mais contente ainda por saber que sua madrasta o tratou bem e o criou como seu filho. Dá para perceber nas palavras de Alex o quanto ele a ama, coisa bem rara quando se trata de relação madrasta e enteado. Ele é um cara totalmente família.

Nossa conversa fluiu de forma natural e agradável durante todo o jantar. Parando para analisar os fatos, me dei conta que havia muito, mas muito tempo que eu não saía com alguém tão interessante.

Infelizmente, apenas hoje percebo o quanto me isolei durante os dois anos de relacionamento. Não saía mais com os meus amigos, coisa bem comum durante toda a minha vida. Claro que o afastamento é normal em algum momento, afinal, conforme os anos passam, cada um vai cuidar da própria vida, muitas de minhas amigas da faculdade se casaram e a maioria já tem filhos.

Porém, o mais triste é constatar que não foi por nada disso que me afastei, mas, sim, porque Rafael não gostava de nenhum dos meus amigos, até mesmo com o Pê era uma relação complicada. Ambos não se suportavam e por esse motivo era bem raro fazer algo sem meu ex-namorado. Nesse tempo todo, poucas vezes saí com Pedro para um cinema, ou mesmo tomar um café.

Rafa sempre me levava para jantar, mas na época não percebia o quanto o clima em nossos encontros era impessoal. Ele sempre escolhia um restaurante caro, o melhor vinho, a melhor comida do cardápio, só que o essencial faltava: dar atenção a quem estava à sua frente. Sempre mais preocupado com seus negócios, conversando ao celular como se estivesse em uma reunião importante.

Alex e eu nos sentamos em uma cantina italiana bem próxima ao meu apartamento. Sempre gostei do local, Rafael odiava. O clima é agradável e aconchegante, como as cantinas que vemos em filmes que se passam com a Itália como pano de fundo, com direito a toalhas xadrez em vermelho e branco e velas sobre as mesas. Onde nada é sofisticado, o vinho é barato e servido na jarra, o prato do dia é uma massa tradicional que não custaria nem a metade dos pratos de restaurantes chiques da cidade, mas extremamente saboroso, e minha companhia dessa noite estava realmente interessada em conversar.

— Gostei desse lugar — Alex disse assim que o garçom deixou a jarra de vinho sobre a mesa. Serviu-se de uma taça enquanto eu enchia a minha com água.