Capítulo 32

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É sexta-feira, nós finalmente chegamos até aqui
Mal posso acreditar que vou poder te ver
Você ficou trabalhando e eu fiquei esperando
Pra te buscar e te tirar deste lugar

Alex

— Tenho que confessar, meu amigo, você realmente tem um bom gosto absurdo! — Pedro exclama assim que entra em meu carro novo.

— Gostou mesmo?

— Se gostei? Eu amei! — continua enquanto analisa cada detalhe do painel.

Optei por um SUV com todos os recursos de última geração. O preço foi um tanto salgado, mas encarei esse gasto como um investimento, já que pretendo viver em São Paulo em definitivo.

— Metade dessas coisas. — Aponto para o painel que meu amigo está tão fascinado. — Eu não sei nem para que servem.

— Você falou igual meu pai agora! Tem horas que te acho muito mais velho do que é. — Balança a cabeça indignado.

— Bom, o importante é que sei dirigir, não acha? O resto aprendo com o tempo.

— Se você diz... Tudo preparado para a viagem?

— Mais ou menos, tudo vai depender da sua irmã aceitar.

— Eu queria entender essa fixação que os casais têm em fazer surpresas um para o outro. Por que não fala logo: "Helô, vamos viajar no final de semana"? Mas não, escolhe o lugar, faz reserva em hotel... e se levar um não bem grande, fica como?

Sorrio. Pedro é muito direto, não tem a mínima noção de romantismo. Espero pelo dia que se apaixone por alguém e veja como essas coisas funcionam na prática.

— Quero apenas deixá-la feliz, Pê. Já se passaram duas semanas desde que aquilo aconteceu e, por mais que ela esteja bem, quero retirá-la um pouco daqui, ir para um lugar diferente. Apesar de saber que isso não é a solução dos problemas, mudar de ares pode ajudar ao menos a espairecer.

— Ela me disse que está indo a uma psicóloga, gostei muito disso. A gente ajuda como pode, mas um profissional é sempre o mais indicado.

— E ela está gostando bastante, disse que vai continuar por muito tempo.

— Bom, fico feliz por isso. Que horas vocês saem?

— Agora que peguei o carro, vou buscá-la no trabalho e contar sobre a viagem. Se tudo der certo, amanhã cedo.

É sexta-feira, e organizei tudo para um final de semana em Campos do Jordão, só eu e ela.

— Boa sorte. Tomara que não tome um fora. — Ele ri debochado.

Não bastasse eu começar a achar que realmente devia ter contado a ela meus planos, meu amigo não me ajuda muito.

— Obrigado. Eu acho...

***

— Eu não sabia que compraria um carro. E que carro! — Heloísa está empolgada com minha nova aquisição e, assim como seu irmão, começa a fuçar em tudo no painel, divertindo-se. — Acho que esse aqui realmente só falta falar. Adorei!

— Você e Pedro são irmãos mesmo. Ele também ficou encantado com esse tanto de botões, que nem ao menos faço ideia das utilidades — digo enquanto dirijo pelas ruas da cidade.

— Mas logo você aprende, a gente só não se acostuma com o que é ruim.

Viro algumas ruas e logo estamos em frente ao seu prédio. Preciso falar com ela sobre a viagem e de repente me sinto ansioso.

— Não vai colocar o carro na garagem? — questiona confusa, já que virou quase que uma rotina eu passar as noites por aqui desde que Rafael fez o que fez.

— Hm. Hoje não, tenho que ir para casa...

— Ok — diz pausadamente. — Aconteceu alguma coisa?

— O quê? Não, claro que não!

— Desculpa, eu só pensei que... Enfim, é lógico que uma hora você ia para sua casa.

— Helô! — a chamo para que preste atenção em mim. — Não é nada disso, não vou pra casa porque chegou a hora nem nada, pare de colocar caraminholas nessa cabecinha. — Aponto o dedo para sua cabeça. — É que fiz algo que não sei como irá reagir, mas, se der certo, eu realmente precisarei ir para casa hoje e arrumar algumas coisas.

— E o que o senhor aprontou? — Cruza os braços de forma questionadora.

— Programei uma viagem de final de semana para nós, por isso o carro.

— Entendi, mas, por que está agindo como se tivesse feito algo errado? — questiona sorridente.

Respiro um pouco aliviado. Sei que ela está amando a ideia da viagem.

— Seu irmão disse que sou louco em não ter te contado nada sobre meus planos e que poderia levar um belo não.

Helô gargalha.

— Você vai ouvir conselhos logo do Pedro? Amo meu irmão, mas ele está longe de entender o conceito de romantismo. E não há motivos para inseguranças, adorei a surpresa, meu amor. — Ela me dá um beijo rápido nos lábios. — E para onde vamos? — completa, batendo palmas, visivelmente empolgada.

— Campos do Jordão. Não é longe, já que trabalhamos na segunda, apenas uma mudança de ares, um descanso para nossa mente.

— Amei!

— Que bom que curtiu, fico realmente aliviado. Então suba e arrume as coisas que vai precisar, também vou arrumar as minhas em casa e amanhã bem cedo eu te busco.

— Tá bom! — diz empolgada como uma criança. Se eu soubesse que ficaria tão feliz, a teria levado para passear várias vezes. — Boa noite! — Beija-me e depois desce do carro.

E eu sigo para casa feliz por meu plano ter dado certo e porque terei um final de semana com minha garota toda para mim.

***

— Está cedo demais! — É a primeira coisa que ela me diz quando entra no carro às seis da manhã

— Nós só temos hoje e amanhã para aproveitar o passeio. — Estendo um copo de café fumegante para ela, que o pega bocejando, mas seu mau humor ainda é evidente mesmo após o primeiro gole. — Bom dia, querida! — Dou um beijo em seu rosto e ela enfim abre um sorrisinho.

— Sou péssima antes das sete da manhã, não é mesmo?

— Sim, é, mas pode dormir durante o trajeto, logo esse mau humor passa.

— Tá bom.

***

A distância entre as cidades não é muito longa. Helô acordou após meia hora de cochilo e está menos ranzinza.

A rodovia não está extremamente movimentada e dá para aproveitar bem a paisagem serrana durante a viagem. Quanto mais subimos a serra, mais a temperatura vai diminuindo.

Helô conectou seu celular no sistema de som e sua playlist é maravilhosa. A voz melodiosa de Corinne Bailey Rae cantando Put Your Records On ecoa pelos altos falantes e minha amada abre a janela e coloca o rosto para fora, deixando o vento gelado bater em seu rosto, transformando seus cabelos em uma bagunça perfeita. Meu coração chega a doer, tamanha a intensidade dos sentimentos que tenho por essa mulher. Ela é perfeita!

Girl, put your records on
Tell me your favorite song
You go ahead, let your hair down

Ela se vira para mim enquanto canta um trecho da música. A luz do sol bate em seu rosto e eu me dou conta do quão sortudo sou.

— Eu estou muito feliz! — diz, erguendo os braços e se balançando no ritmo da música. O mau humor anterior totalmente desparecido.

Pego sua mão, levo-a até meus lábios e dou um beijo.

— Eu também estou feliz, Helô. Estou muito, muito feliz!



Quando um amor floresce ** Apenas degustação ***Onde histórias criam vida. Descubra agora