Capítulo 30

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E se você estiver afundando, vou pular

Nessa água fria por você

E apesar do tempo nos levar a lugares diferentes

Eu ainda serei paciente com você

E espero que você saiba

Eu não vou te soltar

Vou ser seu salva-vidas hoje à noite

Helô

Talvez a noite passada tenha sido uma das mais turbulentas da minha vida. Por diversas vezes acordei assustada após ter pesadelos terríveis.

Apesar de ter sido vencida pelo cansaço, meu sono foi longe de ser tranquilo, revivi a cena diversas vezes enquanto dormia. E tudo parecia muito real, mas nos sonhos eu não fui capaz de fugir, ninguém apareceu para me salvar e Rafael conseguiu me violentar.

Em uma das vezes que acordei, o susto foi tão intenso que me debati, gritei, sentei na cama com a pulsação acelerada e me encolhi em um canto com medo que aquele monstro estivesse ali. Para meu alívio, não estava.

Quem estava ali comigo era Alex, segurando-me e me acalmando, garantindo que tudo ficaria bem, que nada de mal me aconteceria novamente.

Rolo para o lado e encaro o homem deitado ao meu lado. Mesmo dormindo, consigo ver o quanto está cansado e a preocupação é evidente em sua feição com as sobrancelhas franzidas. Respiro fundo e agradeço, pois, mesmo com tanta turbulência, sou grata por tê-lo ao meu lado.

Levanto-me devagar, tomando o máximo cuidado para não o acordar. Mas o simples ato de tentar me levantar da cama faz meu corpo inteiro doer. É inevitável me lembrar do que aconteceu ontem. Fecho meus olhos e respiro fundo, suprimindo a dor em minhas costelas, e com algum esforço consigo me levantar.

Caminho até o banheiro, preciso fazer xixi e tomar banho. Assim que entro no cômodo, a primeira coisa que me chama atenção é o espelho. Não quero voltar a encará-lo, mas, ao mesmo tempo, é como se um imã me puxasse na sua direção e eu me deixo levar.

Se ontem a imagem refletida era assustadora, agora é aterrorizante. Meu olho ainda está um pouco fechado, o inchaço ontem presente diminuiu um pouco, mas não o suficiente, e todo o lado direito do meu rosto é uma bagunça em diferentes tons arroxeados. Tenho vontade de vomitar. Jogo água no meu rosto, inspiro profundamente várias vezes e solto o ar lentamente, mas não adianta. Minhas pernas tremem e sei que a qualquer momento elas falharão. Um soluço engasgado escapa da minha garganta em um misto de revolta e tristeza.

O choro se intensifica. Sei que é insano, que eu deveria me afastar do espelho, da minha imagem refletida nele que me causa tanta dor, mas não consigo. Minhas pernas cedem, não tenho mais a capacidade de sustentar meu corpo e eu não quero me segurar. Quero desabar. Desisto de lutar e solto meu peso. Mas, antes que alcance o chão, mãos fortes me seguram e palavras de conforto são ditas ao meu ouvido.

— Estou aqui com você. Não vou te soltar! — Alex sussurra, acariciando meus cabelos gentilmente.

E como alguém que está prestes a se afogar e lhe é atirada uma corda salva-vidas, eu me agarro a ele com todas as minhas forças restantes.

***

— Está melhor?

Não sei por quanto tempo estamos sentados no chão do banheiro, só sei que chorei muito enquanto Alex pacientemente me deixou jogar para fora toda a dor que me sufocava.

Quando um amor floresce ** Apenas degustação ***Onde histórias criam vida. Descubra agora