Quando um amor floresce ** Apenas degustação ***

Capítulo 31

♪E quando eu me senti como um cardigã velho
Debaixo da cama de alguém
Você me vestiu e disse que eu era sua favorita♪

Sento-me na sala de reunião da revista um tanto nervosa. Sei que estou fazendo a coisa certa ao dividir minha má experiência, mas isso não quer dizer que seja fácil. Pego um espelho em minha bolsa e confiro meu rosto, a maquiagem pesada ajudou a cobrir um pouco da área atingida ao redor do meu olho, mas, mesmo assim, ainda é possível perceber um pouco do tom arroxeado.

Lari adentra a sala, atrás dela, a equipe de colaboradores, que conversam animadamente, e, de repente, sinto meu estômago revirar. Essa é, sem dúvida, uma das maneiras mais difíceis de iniciar uma semana.

Todos passam por mim e me cumprimentam, caminhando em direção às cadeiras ao redor da mesa oval, mas ninguém realmente me encara tempo suficiente para se dar conta do que está acontecendo. Além do mais, institivamente cobri meu rosto com meu cabelo quando ouvi que eles se aproximavam.

Quando todos estão acomodados e finalmente em silêncio, eu inspiro profundamente, solto o ar devagar, retiro o cabelo que está sobre meu olho e os encaro. Não é preciso dizer nada, pois as expressões assustadas falam mais do que qualquer palavra.

— Eu fui agredida na sexta-feira — vou direto ao ponto. Porém, imediatamente, minha voz embarga, é como se houvesse um caroço entalado na minha garganta.

Sinto uma lágrima escorrer no canto do olho. Eu não queria chorar, mas, diante das circunstâncias, não consigo impedir.

Lari caminha até onde estou e coloca a mão em meu ombro, encorajando-me como a boa amiga que ela é.

— Tá tudo bem, Helô. Não precisa se apressar, tome seu tempo.

Ela me entrega um copo com água e tomo um gole na esperança de engolir o caroço preso com o líquido. Respiro fundo e continuo.

— Foi meu ex-namorado que fez isso, muitos de vocês aqui já o conheceram. E, com certeza, assim como eu, jamais imaginariam que ele seria capaz de tal coisa, mas ele foi. Pensei muito antes de vir dividir isso com vocês, porque, no primeiro instante, me questionei se eu tinha alguma culpa nisso. O que havia feito de errado para ser agredida dessa forma cruel? E, acima de tudo, me culpei por ter me relacionado com um homem durante dois anos e não perceber sua monstruosidade.

Falo tudo de uma vez e não ouso impedir que as lágrimas caiam livremente, agora mais intensas. Não é possível segurar as barreiras diante dos fatos. As pessoas me olham, todas em silêncio, com certeza horrorizadas com tudo que relato.

— Eu poderia ficar em casa por alguns dias e esperar o inchaço passar e o roxo do meu olho desaparecer por completo, mas não seria justo. Eu não vou me esconder e me envergonhar por algo que não tenho culpa e, muito mais que isso, não vou me acovardar diante desse fato, pois não quero que isso jamais aconteça a qualquer uma de vocês — direciono-me às mulheres da sala. — Que esse episódio triste fique como um exemplo de que as pessoas podem ser diferentes do que pensamos, que podemos estar correndo riscos que nem sabemos.

Relato tudo com detalhes, desde as ligações de Rafael que não dei a devida atenção até o fato de não ter acontecido o pior porque Lari estava atenta.

As mulheres da equipe se compadecem da minha situação e me enchem de palavras de conforto, além de agradecerem o fato de eu não ter escondido tal coisa, pois serve de alerta para situações nas vidas delas.

— Eu sinto muito que tenha passado por isso, Helô — Juliana, do marketing, diz. — Nunca passei por nada parecido, mas imagino que deva ser horrível. Nenhuma mulher merece passar por essa situação. Sua coragem em dividir isso conosco é como um grande alerta para prestarmos mais atenção nos sinais.