17

55 6 0
                                    

Rose

O som de seu coração me acalmava, enquanto os meus pensamentos iam para um lugar sombrio. A imagem da barriga de Natalie não saia da minha cabeça. Adrian feliz, sendo um pai, tendo uma família. Aqueles pensamentos eram um martírio para mim. Porque eu sabia que nunca poderia ter algo como aquilo.

— Seus pensamentos estão tamborilando na minha barriga, esquentadinha. Quer conversar? - O camarada falou. Me virei e o fitei.

— Desculpe. - Pedi sem jeito.

Sua mão tocou minha testa, e depois minhas bochechas.
—Que estranho, nossa, você não está com febre.

— Idiota. – Ri, ele sempre conseguia me fazer rir.

— Diga Roza, me fale o que está acontecendo? Eu sou seu namorada de mentira, se não confiar em mim, vai confiar em quem.

Quando ele dizia Roza, eu sentia algo queimando dentro de mim. Talvez algo que cicatrizasse e curasse feridas, que não poderiam ser vistas por ninguém além de mim mesma.

— Justo. - Ele me puxou para perto e me aconcheguei em seu corpo quente. — Não posso ter filhos. - Um peso caiu de meus ombros. Ele ficou em silêncio. — E Natalie, está linda grávida e eu... não é inveja, mas eu sei que não vou poder ter essa experiência. Eu posso ser mãe, mas não posso gerar uma criança. Não posso ter um bebê aqui dentro. E sempre foi o sonho de Adrian, um filho nosso. E eu não podia fazer isso com ele. Falsas promessas. Eu sabia que ele ficaria comigo, mas sua família é antiga e há regras idiotas á cumprir. Os filhos tem que ser de sangue ou não tem direito a herança e ele poderia perder seus negócios. A própria casa se não tivesse filhos. E eu não poderia deixar que por minha causa ele fosse prejudicado.

— Você terminou com ele por conta disso? - Questionou.

O camarada acariciou meus cabelos. 

— Fiquei grávida - Seus olhos se arregalaram. E pude sentir tristeza emanando deles. Por mim. — E tive um aborto espontâneo. Nunca contei para ele e nem para ninguém. Foi assim que descobri que não poderia ter filhos. Li sobre os tratamentos, mas o médico fez exames em mim e foi honesto, dar certo era apenas 1% de chance. E a família dele nunca aceitaria isso. Os pais de Adrian, o renegariam por minha causa. Que vergonha... – As lágrimas brotaram.

— Você não deve sentir vergonha Roza, eles que devem sentir vergonha. Pois perderam alguém incrível, corajosa e linda para chamar de família.

Suas palavras aqueceram meu coração de um jeito que, eu não sabia como explicar.

— Eu o amava...

— Não o ama mais?

— Parte de mim sempre vai amá-lo. Mas quero que ele seja feliz. E ele está feliz agora.

— É uma das coisas que gosto em você...

Sorri de leve, enquanto ele limpava lágrimas que ainda rolavam. Eu havia contado o meu maior segredo. Nem Lissa sabia disso, pois na época ela estava grávida de Alissa, e eu não podia contar isso. Não podia suportar a sua pena. Então sofri sozinha e terminei com Adrian, não podia olhar para ele. Não podia contar. Não podia acabar com o seu sonho de ser pai.

— Meu senso de humor?

— Sua bondade. Mas você não precisa passar por essa dor sozinha, Roza. - Dimitri apertou minha mão e me puxou ainda mais para perto, até nossos narizes se tocarem. — Nunca se sinta menos do que é, só porque não pode ter filhos. Você é perfeita do jeito que é. E maluca, mas perfeita. - Um sorriso maior apareceu em seus lábios. — Sinto muito pelo bebê, e faria qualquer coisa para que tudo fosse diferente, mas, infelizmente não posso. O que posso fazer é te abraçar e ficar ao seu lado. Você é importe, Roza.

— Até parece que você gosta de mim, camarada. - Brinquei, enquanto ele acariciava meus cabelos. Nossos lábios colados um no outro.

A covinha de seu sorriso apareceu quando ele disse:
— Só nos seus sonhos, esquentadinha.

***

Fui buscar o Camarada em seu trabalho para irmos jantar e beber um pouco. Ele disse que estava precisando muito. Porque estava muito estressado. O que eu tenho certeza que era um pretexto para me tirar de casa. Ele havia ficado meu amigo, nós tínhamos ficado amigos. Amigos que se pegam toda hora.

Amigos que mentiam sobre ser namorados e transavam até amanhecer como loucos. Sim, somos super normais. Mas  o que é a vida sem uma dose de loucura?

A secretária de Dimitri era bem simpática e me recebeu bem. Ela disse que, havia um paciente com ele ainda. Esperei e esperei. Até que Dimitri, e uma mulher muito bonita saíram do consultório. A mulher levava uma gaiola que tinha um gato ou gata. Era loira, peituda e de olhos azuis.

Que porra é essa! É a porra da Barbie?

Olhei a minha roupa, mais de uma vez. Eu estava com um vestido preto justo e decotado, e ainda usando saltos bem altos. Nem eu sabia porque havia me arrumado tanto e passado horas me maquiando.

— A gente se vê doutor, Dimitri. Muito obrigada. A Nina está bem melhor agora. – A loira beijou a bochecha de Dimitri, que sorria como um adolescente.

Trinquei os dentes. Que porra é essa?

— O prazer foi todo meu. E agora espero que a Nina se comporte depois dos pontos. Até breve senhorita, Kelly. - Disse ele todo simpático.

Até breve um caralho!

— Eu vou me certificar disso, Dimitri. Mas amei ver você. Até logo. - E foi embora com a gatinha, a mulher toda sorridente.

Um sorriso sem dentes estava em meu rosto quando o camarada notou minha presença. E arregalou os olhos.

— Você está muito linda. Que gostosa.

— Agora que notou que eu estou aqui, é? – Gritei.

– Você está bem? - Ele franziu as sobrancelhas.

— Estou ótima! - Respondi secamente.

— Tem certeza?

O camarada estava se divertindo.

— Tenho sim, mas não tão bem quando você com a sua "paciente."

Dimitri sorriu amplamente.
— Você está com ciúmes?

— Ciúmes? Eu. Ah, me poupe. Até parece, eu com ciúmes de você. Fala sério! Isso só pode ser piada!

— Você está sim.

— Ah, Dimitri. Eu não tenho tempo pra suas... suas - Ele me fitou. — Suas elucubrações. Temos que ir.

— Você acabou de me chamar de, Dimitri? E você sabe o que significa elucubrações?

— Tchau! – Gritei andando na frente.

Dimitri riu. E sorriu assim que saímos da clínica.

O desgramado chegou bem perto de mim e me puxou pelo braço. Sua boca encostou no meu ouvido quando disse:
— Não se preocupe Roza, não vai ser ela quem vou fuder quando chegar em casa. E não é ela em quem sempre quero beijar e possuir a cada instante, é você. – Ele me beijou e fiquei sem palavras.

Eternamente SeuOnde histórias criam vida. Descubra agora